Notícias

Fique por dentro das notícias da cidade e região.

Como a criação de uma unidade especial na Polícia Civil reduziu em 43% o roubo de cargas no RS

  • Data: 17/Abr/2024

Grupo de agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais atua em prontidão nas 24 horas de todos os dias da semana para pronta resposta aos assaltos

 

Com a criação de uma nova estratégia no ano passado, a Polícia Civil acredita ter encontrado uma eficiente receita para o enfrentamento ao roubo de cargas no Rio Grande do Sul. A fórmula, de acordo com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), consiste no somatório de rápida comunicação das vítimas à pronta resposta das autoridades. O resultado foi a queda 43,14% com relação a 2022.

— Treinamos uma unidade especial, que fica de prontidão 24 horas por dia, aos sete dias da semana, para entrar em ação imediatamente após a comunicação de um assalto. Este grupo está posicionado estrategicamente, equipado e treinado para enfrentar grupos armados, interceptar criminosos em deslocamento, recuperar cargas e veículos — define a diretora do Deic, delegada Vanessa Pitrez.

delegada explica que canais de comunicação foram estabelecidos com as transportadoras para que os alertas sobre crimes cheguem com mais brevidade. Ferramentas tecnológicas têm sido aprimoradas, com base em geolocalização e mapeamento de ocorrências, para aplicação de análises pelo setor de inteligência do departamento.

— A investigação está cada vez mais qualificada, com uso de recursos digitais e análise de  dados — pontua a delegada Vanessa.

Por questão de preservação da efetividade da estratégia, cujo funcionamento teve início em fevereiro de 2023, a diretora do Deic não revela quantos agentes compõem o grupo tático, nem divulga onde são as bases de prontidão da força especial.

— Trabalhamos sob a ótica de que o emprego da nova estratégia tem resultado na queda de ocorrências, na desarticulação de quadrilhas, com prisões, apreensões de armas e recuperação de produtos roubados — define.

Arrojo em recuperação de carga milionária

Aos seis meses de atividade, em agosto do ano passado, o grupo tático efetuou uma de suas missões mais arrojadas: interceptou quadrilha que havia roubado um grande carregamento de cigarros, avaliado em cerca de R$ 3 milhões. A ação teve início após o comunicado de que uma quadrilha havia abordado caminhão, em Osório, no Litoral Norte, minutos depois do veículo partir carregado de uma fábrica localizada na Região Metropolitana.

O crime ocorreu no final da manhã. A comunicação aconteceu minutos após o fato. Por meio de ferramentas de rastreamento via satélite, os policiais da unidade especial monitoram o deslocamento dos criminosos, armando cerco próximo ao destino de transbordo do material roubado, em Portão, no Vale do Sinos.

— As prisões aconteceram quando o grupo chegava no local onde pretendia descarregar o material. Foi de surpresa. Não houve tiros. Sem feridos. Material recuperado. Uma ação bem-sucedida, que serve de modelo para o que buscamos com a estratégia — define o diretor de investigações do Deic, delegado Eibert Moreira.

A interceptação aconteceu no começo da tarde. Seis homens e uma mulher foram presos, pistolas e munições foram aprendidas. O grupo tático coordenou a ação que contou com apoio de agentes das delegacias distritais da região implicada nas buscas.

Crime organizado

Além da especialidade dos criminosos em atuar sobre o roubo de cargas, prevalece no Deic a percepção de que o tipo de crime está conectado com ações segmentadas dentro das estruturas do crime organizado.

Segundo a delegada Vanessa Pitrez, as investigações acerca do roubo de cargas mantém conexão próxima com as investigações sobre organizações criminosas que controlam o recrutamento de pessoas e o financiamento de crimes cujo capital converge para alimentar o narcotráfico e o tráfico de armas.

— São assaltos praticados mediante violência ou grave ameaça, dependem de recursos de pessoal, armamento e veículos, que são fornecidos pelo crime organizado, o que indica que a polícia tem atuado sobre o foco correto em suas estratégias — pontua a diretora do Deic.

Cobiça de criminosos por tabaco, agro e eletro

Estudo elaborado por uma consultoria especializada em gestão de risco logístico aponta que as cargas mais cobiçadas no país são tabaco, produtos agrícolas e eletroeletrônicos. Conforme a Overhaul, a trajetória descendente na quantidade de crimes verificada no Rio Grande do Sul possui sentido inverso na comparação com o País. No Brasil, segundo o estudo estatístico sobre bases oficiais, ocorreram 16.331 assaltos, em 2022, e 17.108 no ano passado – alta de 4,8%.

De acordo com o gerente de Inteligência da Overhaul, Reginaldo Catarino, a onda crescente no roubos de cargas no país está relacionada à condição de mercado emergente e com o comportamento de consumo tolerante à informalidade. 

Para o RS, o relatório demonstra que 72% dos crimes ocorrem em rodovias, 23% em vias urbanas e 5% na sede das empresas. A distribuição por turno aponta que 64% acontecem entre manhã e tarde, e 36% ocorrem durante a noite e a madrugada. Terças-feiras (26%) e sextas (19%) são os dias com maior incidência.

As cargas preferidas

Detalhamento do estudo mostra que tabaco (31,04%), produtos agrícolas (24,14%) e eletroeletrônicos (10,34%) lideram a listagem dos bens mais cobiçados. Entre os produtos do agronegócio, 64% são defensivos, 29% são grãos e 7% são cargas diversas de produtos agrícolas. A Overhaul menciona no documento que veículos também são subtraídos e, prevalentemente, desmanchados para venda avulsa de peças.

Transportadoras: sensação de insegurança

Empresários sustentam que a sensação de insegurança permanece, apesar dos dados positivos. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do RS (Setcergs), Sérgio Gabardo, a circulação de cargas pelas rodovias enfrenta o risco pela precariedade nos pontos de parada para refeições e descanso.

— Existe um sentimento de tensão, sobretudo sobre aqueles trabalhadores que conduzem cargas valiosas e caminhões de grande porte (valor elevado de mercado). Não contestamos os dados oficiais, mas a insegurança é um componente que impacta no custo das operações, afasta motoristas da atividade e aumenta o valor dos seguros, tanto para cargas, quanto para veículos — descreve Gabardo.

Segundo o presidente do Setcergs, a frota nacional de transportadores de cargas é superior a 40 mil caminhões.

 

Fonte: GZH

Foto: Polícia Civil / Divulgação

Outras notícias