Mais pets e menos crianças na população brasileira indicam mudança no perfil familiar
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), são entre 150 milhões e 160 milhões de bichos de estimação. É praticamente quatro vezes o número de cidadãos entre 0 a 14 anos
A população de pets do Brasil alcançou a marca entre 150 milhões e 160 milhões de animais, conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). É a terceira maior do mundo. O dado também reafirma outro cenário verificado: há mais pets do que crianças nos lares brasileiros.
Conforme o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população até 14 anos do país é de cerca de 40,1 milhões de pessoas. Houve até mesmo uma redução em relação a 2010, quando a população era de cerca de 45,9 milhões de crianças. Em contrapartida, a população pet aumentou: em 2022, eram cerca de 155,7 milhões.
Os dados podem indicar mais uma vez uma mudança no perfil da família brasileira. A professora de Psicologia do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) e psicanalista Cassia Ferrazza Alves aponta que surgiram novas formas de vivenciar a conjugalidade e a parentalidade, o que pode incluir os animais de estimação:
— Atualmente, observa-se que está crescendo o número de casais que não desejam ter filhos, uma vez que a compreensão de família e de conjugalidade tem se modificado. Desse modo, surgem novas formas de vivenciar a conjugalidade e a parentalidade, no caso abordado, das denominadas “famílias multiespécies”, as quais são famílias compostas por uma relação afetiva entre seres humanos e pets, que são legitimados como membros da família, que pode ter a presença de filhos e pets ou somente pets.
A doutora em Psicologia e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Pâmela Machado acrescenta também sobre culturas que vão se modificando, como, por exemplo, a própria discussão que companheiros podem ter sobre a satisfação como casal e os arranjos familiares, que podem ser por vínculos afetivos, e não somente consanguíneos. Como comenta Pâmela, uma mudança nos objetivos das pessoas pode ser observada a partir dessas mudanças mencionadas.
— Essa ideia de escolha é uma ideia muito recente. Escolher ter filhos ou não. Se tu casava, a ideia era que tu naturalmente tivesse filho, que esse desejo materno ia ser algo natural e sabemos que hoje não é natural. Isso é algo que podemos escolher, ter ou não. Tem mulheres que não vão ter esse desejo. Mas antes não era possível não escolher isso. Tinha alguma coisa errada se a mulher não tivesse filhos ou se a família escolhesse, então, não ter filhos. E hoje vemos não só a questão dos casais, mas as famílias. Por exemplo, uma pessoa morando sozinha com um pet e isso é considerado uma família — comenta.
Escolha por pets
A especialista cita que estudos que tentam analisar a escolha dos casais apontam motivos como a carreira e o próprio tempo a dois como fator para escolher não ter um filho, e até mesmo optar por um animal de estimação.
— É a questão da carreira, porque os dois muitas vezes têm desejos profissionais e vai passando o tempo e não se vê mais a questão do desejo parental, porque eles sabem no momento que eles forem pais, eles vão ter que abrir mão de várias outras questões, tanto econômicas, de tempo e de prioridade. E muitas vezes os casais priorizam a questão de viajar, de investir na carreira, o próprio tempo para o casal — conta a doutora em Psicologia.
Já Cassia compartilha o resultado de um estudo em que participou. Alguns dos motivos apresentados eram menos gastos financeiros, maior liberdade e menos preocupações:
— Em 2021, a psicóloga egressa da FSG Melanie Aguiar e eu publicamos um estudo no qual investigamos a motivação dos casais que optam por não ter filhos e que possuíam animais de estimação. Identificamos, tanto nos participantes do estudo, quanto na literatura, alguns aspectos associados à motivação pelas famílias serem compostas por pets e não por filhos, tais como menos gastos financeiros, mais tempo para a dedicação na carreira, maior liberdade e menos preocupações. De modo geral, os estudos evidenciam também que casais que optam por pets e não terem filhos apresentam maior nível de escolaridade.
Respeito com as espécies
Segundo o levantamento da Abinpet, a população de pets está dividida especialmente em cerca de 60 milhões de cães, 40 milhões de aves, 30 milhões de gatos e 20 milhões de peixes ornamentais. O número expressivo também chama a atenção para o próprio cuidado com os bichos.
A administradora Keila Gonçalves, 36 anos, tem três animais de estimação: a cachorra Brigitte, a gata Camala e o porquinho da índia Alecrim. Moradora de Farroupilha, Keila relembra que aprendeu com os pais a ter o carinho e o cuidado com os bichos:
— O pai sempre trabalhou com granja avícola e sempre teve esse olhar muito de cuidado, de olhar para os bichinhos com amor. Sempre cuidou muito, a mãe também, então fomos criados nessa ideia de que o bichinho está doente, está precisando de cuidado, vamos cuidar ou melhorar a qualidade de vida dele sempre.
Até por isso, Keila, os pais e a irmã sempre resgataram animais. A cachorra e a gata da família, inclusive, são resgatadas. Eles também costumam cuidar de aves.
— Então todo ano tem alguns pássaros que estamos cuidando. Eles chegam aqui, e ah, caiu do ninho. Então, não sou só eu que faço esse cuidado, é meio que a família inteira. Vou trabalhar, a mãe cuida, ou o pai. Então sempre estamos ligando um para o outro para saber como é que está a bicharada — conta Keila.
Com essa experiência e o aumento da população de pets, Keila acredita que os animais de estimação merecem o cuidado apropriado:
— Hoje em dia tem muita gente que quer ter bicho em casa. Mas aí é aquela coisa do uso do bicho, como objeto. Eu gosto do bichinho. Mas temos que cuidar como membro da família mesmo e com respeito a questão das espécies.
Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH
Foto: Neimar De Cesero / Agencia RBS
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