RS encerra colheita recorde de trigo e volta a liderar produção nacional
Área cultivada alcançou 1,45 milhão de hectares, a maior em 42 anos, segundo a Emater
Oficialmente encerrada no Rio Grande do Sul, a colheita da safra de inverno fechou a temporada confirmando as projeções superlativas cantadas no início do ciclo. Com recorde na produção do trigo, principal cultura da estação, o Estado renova sua marca histórica no cereal e já projeta um novo ano promissor.
A área cultivada de trigo alcançou 1,45 milhão de hectares, a maior em 42 anos, segundo a Emater. Os resultados exatos do quanto foi colhido e da produtividade total ainda estão sendo levantados junto aos produtores e serão divulgados nos próximos dias, mas devem superar as estimativas iniciais de 4,97 milhões de toneladas e de 3,4 mil quilos por hectare.
Foi a maior safra do RS e a maior também entre os Estados produtores, já que o Paraná, até então líder, teve problemas com excesso de umidade. Mesmo com essa baixa, o volume no Brasil foi recorde: 9,5 milhões de toneladas, 24% maior do que a temporada anterior, segundo a Embrapa Trigo.
— Iniciamos com uma média e hoje temos uma situação muito melhor, tanto pela parte do produtor quanto pelo clima. Foi um ano diferenciado em área cultivada e em tecnologia adotada. Estamos deixando de ter um plantador de trigo no inverno para ter um produtor que investe na cultura, que tem um sistema de produção — observa o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri.
Os números de safra cheia se confirmam no campo. Marcio Witter, gerente técnico da cooperativa Cotrisal, com sede em Sarandi, no Norte, diz que a produtividade entre os associados deve atingir média de 3,6 mil quilos por hectare. Os dados finais também serão divulgados até a metade de janeiro. Batida a expectativa, terão superado resultados de outros bons anos, 2013 e 2016, diz Witter.
A cooperativa responde por 15% da produção total de trigo no Rio Grande do Sul, com mais de 200 mil hectares — área que cresceu 20% na última temporada.
Planejamento que dá resultado
O resultado na lavoura não vem de graça, e é um processo que exige técnica. Entre os cooperados da Cotrisal, os agricultores que plantaram com acompanhamento de consultoria foram os que obtiveram as maiores produtividades, com marcas superiores a 4 mil quilos por hectare.
Apesar do excesso de chuva no começo do plantio, o clima colaborou no decorrer do ciclo, sem ocorrência de geada severa em fases cruciais do desenvolvimento. Mas não foi só isso.
Melhorias em genética, no potencial produtivo e na qualidade do grão também ajudam a explicar a safra excepcional, diz Witter, mencionando que nos períodos anteriores destacados o cereal tinha qualidade para ração e não tanto para panificação, como se tem agora.
— Teve ajuda do clima, mas são vários fatores. Como tivemos uma frustração no milho e na soja, restou um residual de fertilizantes no solo. Outro motivo foi a precificação boa, incentivando o associado a trabalhar mais o trigo e com sementes de qualidade — afirma.
O presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, adiciona ainda outro fator: o de visão de gestão na propriedade.
— O produtor gaúcho está olhando a propriedade dentro de um sistema de produção, em que as culturas elencadas como principais não são necessariamente as que se deve apostar. Ele está vendo que a propriedade tem de gerar renda no inverno e no verão. É um contexto maravilhoso de custo-benefício — diz Jardim.
Não fossem os custos elevados em 2022, o desempenho no trigo poderia ter sido ainda maior, segundo o setor. Jardim lembra que a safra de inverno começou a ser planejada assim que eclodiu a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que encareceu “violentamente” os preços dos fertilizantes.
Próximo inverno à vista
Mal colheram-se os bons resultados do último ano, o olhar já se volta para o próximo plantio. A tendência é de que o crescimento observado em 2022 não seja pontual, tendo continuidade na próxima safra de inverno de 2023.
— É um sistema de produção onde há uma evolução constante. Em 2022 o clima foi diferenciado, mas outros fatores que têm muito peso, com a tecnologia que se tem hoje, possibilitam um cenário mais próximo do que já temos — diz Rugeri, da Emater.
A valorização do cereal ampliou as opções de trigo para panificação, fabricação de ração, exportação, e também para produção de etanol. O aumento de área deve ser uma crescente.
— A safra que vamos implantar pode ter um custo menor do que essa passada. Não sabemos como será o comportamento do dólar, mas o cenário que aponta é de oportunidade, fruto da qualidade do trigo. Temos previsão de aumento de área, resta saber como será o clima saindo de um La Niña, mas acredito que não freie — projeta Jardim, da Farsul.
— Na nossa região, onde há a maior produção, já estamos em área tradicional de trigo e não tem muito mais onde crescer. Mas em outras regiões, sim. Sobra trigo no RS e precisamos trabalhar com outras funcionalidades da produção, como biocombustíveis, além do mercado da exportação — completa o gerente técnico da Cotrisal.
Fonte: GZH
Foto: José Schafer / Emater/Divulgação
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