Serviços crescem 11,7% em 2022 e têm melhor desempenho entre os setores no RS
Com avanço baseado em uma demanda reprimida, setor começa a mostrar sinais de desaceleração
O setor de serviços segue com o maior avanço entre os principais ramos da economia do Rio Grande do Sul. No acumulado de 2022 até novembro, o volume de serviços cresceu 11,7% no Estado ante o mesmo período de 2021. O aumento percentual desse segmento ocorre em nível maior na comparação com comércio, que aparece logo na sequência, e indústria, que apresenta o avanço mais tímido entre os setores. Os dados fazem parte de pesquisas mensais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos dias. Espaço maior para recuperação em cenário com circulação e abertura de negócios normalizados ajuda a explicar os números de serviços. No entanto, o setor mostra sinais de desaceleração nesse processo.
O volume de serviços cresceu 1,7% em novembro na comparação com o mês imediatamente anterior. Em relação a novembro de 2021, o aumento é de 10,1%. Com as atualizações de novembro, o setor assegura o avanço de 11,7% no acumulado entre os meses de janeiro e novembro.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que o avanço maior de serviços no acumulado ainda ocorre diante da recuperação do setor. Um dos mais afetados pelos fechamentos no combate à pandemia, o segmento teve mais espaço para retomada nos últimos anos diante da normalização da circulação. Agora, passa por processo de normalização, segundo a economista:
— Os serviços vêm perdendo fôlego, tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul em linha com a dissipação dos efeitos da normalização da situação epidemiológica que tende a se seguir nos próximos meses.
Olhando por segmentos dentro do setor, os serviços prestados às famílias apresentaram o maior avanço (27,8%). Esse grupo engloba algumas áreas como a de bares e restaurantes e de hotelaria.
Já o comércio varejista apresentou crescimento de 7,6% no volume de vendas acumulado de 2022 até novembro. Mesmo com variação positiva na soma dos 11 meses do ano ante o mesmo período do ano anterior, o setor apresentou retração na variação mensal em novembro — o quinto recuo nesse recorte no segundo semestre (veja mais abaixo). Combustíveis e lubrificantes e tecidos, vestuários e calçados seguem entre as áreas com maior variação no varejo gaúcho.
A economista-chefe da Fecomércio-RS afirma que a variação acumulada do comércio varejista está muito ligada ao tamanho do avanço da venda de combustíveis e lubrificantes. No entanto, destaca que é difícil observar avanços dessa magnitude no setor. Na parte de vestuário e calçados, o fato de o Estado ter registrado inverno mais rigoroso e prolongado no último ano pode ajudar a explicar o nível maior de vendas em relação à média nacional, segundo a economista.
A indústria segue com o menor avanço entre os três setores pesquisados pelo IBGE. Em novembro, a produção industrial do Estado recuou 1,3% após meses com certa estabilidade na variação mensal. No acumulado dos 11 meses do ano, o setor anota avanço de 1,1%. Mesmo tímido, o crescimento é maior do que o resultado da média do país (veja no gráfico).
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que o avanço menor da indústria no acumulado do ano ocorre diante de uma série de fatores. Base de comparação mais forte de 2021, falta de componentes em algumas linhas de produção, desempenho mais fraco em novembro diante da cautela em relação ao novo governo e juros altos entram nessa equação, segundo a economista.
— Essas questões somadas ajudam a explicar um crescimento menor da indústria. (...) A base de comparação de 2021 era mais fraca e os juros também eram menores. Isso tudo acaba influenciando nas decisões dos empresários — observa Maria Carolina.
Próximos meses
A economista-chefe da Fecomércio afirma que a atividade econômica no geral caminha por uma acomodação. Com crescimento menor da economia, aumenta a concorrência em serviços e no comércio. Com isso o cenário para vendas fica mais complicado em um ambiente que segue com inflação pressionando o orçamento das famílias e tomada de dívidas mais cara e restrita, segundo a especialista:
— Isso acaba impondo ao consumidor um comportamento mais cauteloso. Então, a gente tem um cenário onde é mais difícil vender.
Patrícia destaca que a oferta de preços menores, diversidade de produtos, boas condições de pagamento e atendimento de acordo com as necessidades dos clientes são medidas importantes para buscar melhor desempenho de vendas nesse cenário menos favorável.
A economista Maria Carolina Gullo afirma que o ambiente é de certa estabilidade na indústria. Nos primeiros meses do ano, historicamente o setor costuma registrar números menores diante do período de férias coletivas. Já serviços e comércio tendem a observar um ambiente melhor nessa época do verão, principalmente nas áreas de turismo, entretenimento e nos ramos ligados a materiais usados em sala de aula. A professora destaca que a indústria deve registrar um ano de acomodação em razão da cautela na espera dos primeiros movimentos do novo governo.
— Os números não devem ser exorbitantes. O cenário é mais na linha de cautela, com um crescimento talvez até menor do que o do ano passado.
Fonte: GZH
Foto: Bruno Todeschini / Agência RBS
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