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Dengue tipo 2 pode aumentar reinfecções e casos graves da doença, alertam especialistas

  • Data: 06/Mar/2023

Primeiro registro do ano no Estado do sorotipo 2 foi confirmado em Porto Alegre na quinta-feira

 

O registro de novos casos da dengue tipo 2 no Rio Grande do Sul nos últimos meses é visto com preocupação por médicos. Na quinta-feira (2), Porto Alegre confirmou o primeiro diagnóstico do ano desse tipo de vírus no Estado. Em 2022, o novo sorotipo da doença foi observado em Condor (6), Novo Hamburgo (5), Canoas (3), Sapucaia do Sul (1), Santa Maria (1) e Erechim (1).

Os dois sorotipos da dengue têm transmissão e sintomas similares, mas o segundo pode facilitar reinfecções e desenvolvimento de quadros graves da doença, dizem especialistas consultados por GZH. Em 2022, o Estado teve 66.731 casos de dengue tipo 1 e 66 óbitos pela doença.

Neste ano, até esta sexta-feira (3), 59 municípios gaúchos registraram 424 casos de dengue do tipo 1 em 2023, segundo informações da Secretaria Estadual da Saúde (SES) analisadas por GZH (veja o mapa abaixo)Encantado, no Vale do Taquari, é o local com mais casos absolutos no levantamento: são 253, distante do segundo com mais diagnósticos, Jóia, na Região Noroeste, que tem 21 registros no período.

Até o momento, Porto Alegre é a única cidade a ter listado dois tipos da doença neste ano: são 11 casos do sorotipo 1 e um diagnóstico do tipo 2. Não foram registradas mortes por dengue no Estado neste ano até o momento, segundo a SES.

A dengue é um arbovírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. O mais comum no Brasil é o do tipo 1, ainda que os outros três já tenham sido registrados no país. Segundo Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, o aparecimento da dengue do tipo 2 no Estado é uma situação similar à disseminação de variantes observada com a Sars-CoV-2.

— Com a dengue também é comum a sucessão de tipos. Isso era esperado dentro de um panorama que nós temos de, ao que tudo indica, uma maior presença da dengue no Estado. Então, nós já tivemos no ano passado um surto de grandes proporções provocadas pelo genótipo 1, e temos agora um surto que pode se avizinhar, dependendo das condições de cuidado que se tenha ou não em relação ao vírus — diz.

Spilki explica que os genótipos 1 e 2 têm características similares, tanto na transmissão - ocorre pelo mosquito Aedes aegypti - quanto nos sinais e sintomas de infecções: febre alta (mais de 38°C), dor no corpo e articulações, mal-estar, falta de apetite e dor de cabeça estão entre os indicativos mais comuns de que uma pessoa está contaminada. O que distancia um tipo do outro é a resposta do paciente à doença.

— O tipo 2 normalmente é um vírus menos imunogênico, que não induz tanta resposta imune. Algumas vezes, vemos surtos até de uma proporção mais alta ou casos repetidos (de reinfecções) justamente porque a pessoa não desenvolve uma imunidade tão grande com tipo 2 — pontua.

Risco de segunda contaminação

Ainda que similares, um paciente recuperado da infecção por um dos tipos não terá proteção contra os outros. Ao contrário: essa situação aumenta a possibilidade de que uma segunda contaminação por um tipo diferente da primeira cause quadros mais graves da doença, afirma Paulo Gewehr, médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento:

— A pessoa fica protegida do vírus da dengue que ela teve, que pode ser o do tipo 1, mas não de uma nova exposição por dengue tipo 2, 3 ou 4. Então, se ela tiver a dengue tipo 2, por um fenômeno de imunotolerância que acontece no organismo, os anticorpos que foram desenvolvidos contra o tipo 1 não vão ajudar a prevenir a doença do tipo 2, e inclusive vão atrapalhar um pouco, aumentando a chance de ter dengue hemorrágica (quatro grave da doença).

Prevenção e tratamento

O médico ressalta que a vacina disponível no mercado contra a dengue, a Dengvaxia, é eficaz contra todos os quatro tipos do vírus, mas só pode ser utilizada por quem já teve a doença, e que tenha de nove a 45 anos. O imunizante não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Por isso, para evitar a disseminação de casos, Gewehr ressalta a necessidade de práticas preventivas diárias já conhecidas, como a eliminação dos criadouros do mosquito, uso de repelentes e manter distância de áreas onde há mais risco da presença do transmissor. E, em caso de suspeita de infecção, a indicação é buscar diagnóstico em uma unidade de saúde.

— Ano passado, voltamos a ter casos em locais onde não se tinha, então isso é uma expansão da epidemia de dengue. Temos uma população que não estava acostumada com a doença. Embora sejam poucos casos no Rio Grande do Sul, eles tornam alto o risco para uma população pequena — afirma o médico do Moinhos de Vento.

Não existe um tratamento específico para dengue - e, por consequência, para os quatro sorotipos - mas as medidas de rotina para aliviar os sintomas envolvem, nos quadros leves, o uso de analgésicos e antitérmicos, além de hidratação e repouso. Situações graves - dengue hemorrágica - demandam atenção médica porque podem levar o paciente à morte.

 

Fonte: GZH

Foto: Felipe Nyland / Agência RBS

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