De carro de som a boca a boca: como municípios conseguiram superar meta de vacinação contra a gripe
Onze cidades gaúchas imunizaram mais de 90% do público-alvo da campanha nacional contra a influenza
A poucos dias do início do inverno, o Rio Grande do Sul tem apenas 11 municípios (2% do total) que conseguiram atingir a meta da campanha nacional de vacinação contra a gripe. A análise do cenário estadual preocupa autoridades: nesta segunda-feira (12), o RS contabiliza 49,7% de cobertura vacinal do público-alvo, segundo dados do Ministério da Saúde (MS).
O objetivo da campanha é vacinar ao menos 90% dos integrantes de grupos prioritários (crianças, idosos, gestantes, puérperas estão entre eles). Porto Alegre está abaixo da média estadual: além disso, a cobertura vacinal de crianças a partir dos seis meses de idade é inferior a 30%, em um momento de emergências pediátricas superlotadas.
Para melhorar a situação, a prefeitura da Capital se mobilizou e está imunizando crianças contra a gripe em escolas municipais. Os municípios que atingiram a meta federal relatam trabalho de conscientização junto aos moradores para vacinar os grupos prioritários: ações de prefeituras, relação próxima entre moradores e agentes de saúde e ajuda da iniciativa privada são algumas das justificativas para a imunização adequada contra a gripe.
As melhores posições no ranking* da cobertura vacinal no Estado são ocupadas por municípios com menos de 5 mil habitantes:
- Brochier (Vale do Caí) - 106,45%
- Palmares do Sul (Litoral Norte) - 104,33%
- São Valentim do Sul (Vale do Taquari) - 99,64%
- Vila Lângaro (Norte)- 99,58%
- Doutor Maurício Cardoso (Noroeste)- 96,11%
- Jaquirana (Campos de Cima da Serra) - 96,06%
- Pinhal da Serra (Serra) - 95,90%
- Picada Café (Serra) - 91,48%
- Sagrada Família (Norte) - 91,31%
- Pinhal (Litoral Norte) - 90,84%
- Vista Alegre (Norte) - 90,27%
*Fonte: Ministério da Saúde
Boas iniciativas
A atualização da campanha nacional mostra que apenas dois municípios gaúchos superaram os 100% de vacinados do público-alvo. Um deles é Brochier, no Vale do Caí, que tem a melhor cobertura vacinal no Estado: 106,45%. Ou seja: vacinou mais do que o previsto no início da campanha, que é 1,8 mil pessoas. O trabalho feito pelos agentes de saúde do município de 5,1 mil habitantes é feito no “boca a boca”.
— Nosso município é pequeno, todos se conhecem. A gente via alguém na rua e dizia "ah, você ainda não tomou a vacina", perguntava se a pessoa queria aproveitar, falava que no posto estava disponível e as pessoas acabavam aderindo — conta a enfermeira Deisi Adriane Grunvald, responsável pelas imunizações de Brochier.
As equipes de saúde também focaram nos avisos em redes sociais, em grupos de WhatsApp da cidade e em uma rádio local. Ações em pontos mais afastados também foram feitas para melhorar a cobertura vacinal.
— Fizemos bastante contato telefônico, principalmente por conta das crianças. Fomos ao Interior vacinar idosos. Quando as gestantes iam ao ginecologista, outras pessoas iam no clínico geral, conversávamos com elas na sala de espera. Então, aproveitávamos para divulgar a importância da vacina em todas as oportunidades que tínhamos — completa Deisi.
O segundo colocado no quesito cobertura vacinal é Palmares do Sul, no Litoral Norte. O município com cerca de 11,3 mil habitantes superou a meta de imunizações ao vacinar 4,2 mil pessoas, ou 104,33%, também acima do total previsto pelo Ministério da Saúde para a campanha.
— A primeira coisa que fizemos neste ano foi colocar um carro de som falando dos horários, dos locais onde estava acontecendo a vacinação. Nossos distritos são afastados geograficamente da sede, temos bairros de difícil acesso. A população inicial da vacinação é mais idosa — conta Juliana Gasso, secretária municipal de saúde.
Além dos avisos sonoros, Juliana cita que duas farmácias ajudaram na oferta de vacinas no distrito de Quintão, que é o local do município onde há mais idosos, segundo levantamento do executivo municipal. Os estabelecimentos começaram a aplicar as doses em 24 de abril e devem ficar até o fim da campanha. A logística não gerou custos para os cofres da prefeitura, conforme a secretária:
— Nós (prefeitura) só fornecemos as vacinas, que todos os dias são recolhidas e armazenadas na nossa câmara fria. A vigilância epidemiológica e sanitária realizou os procedimentos para que a vacinação fosse segura. As farmácias atendem em horário estendido, aos sábados e até domingos. Isso facilitou muito para a população. Pensamos em estender a parceria para todos os distritos no ano que vem.
Capital usa escolas para melhorar cenário
Em Porto Alegre, a cobertura vacinal dos grupos prioritários chegou a 45,69%, conforme dados do Ministério da Saúde desta segunda-feira. Um dos grupos que preocupa a administração municipal é o das crianças: até o momento, apenas 26,30% foram vacinadas. Isso ocorre em um momento em que as emergências pediátricas seguem tendência de superlotação na Capital.
Para amenizar o problema, a prefeitura de Porto Alegre tem oferecido imunizantes contra a gripe - e covid-19 - nas escolas municipais, no chamado “Rolê da Vacina”, programa lançado durante a pandemia. Desde o retorno da iniciativa, na semana passada, 2,5 mil crianças e adolescentes receberam doses.
A ação ocorre em três escolas por dia. A iniciativa é uma parceria entre as secretarias municipais de Saúde e de Educação. Nesta segunda-feira, a imunização ocorreu nas Escolas Municipais de Educação Fundamental (Emef) Nossa Senhora do Carmo e Lidovino Fanton, ambas na Restinga, e Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Valneri Antunes, no bairro Mário Quintana. As equipes de agentes de saúde estarão nas escolas no turno da manhã para aplicar a vacina nos alunos.
— Estamos focados em escolas infantis porque as crianças (dessa faixa etária) são as que mais estão precisando das emergências. Também estamos trabalhando nas regiões onde a cobertura de vacinação está menor. Nossa ideia é vacinar o maior número possível. Temos passar de 90% (de cobertura vacinal), mas isso é bastante desafiador — diz Vânia Frantz, diretora de atenção primária da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Estudantes menores de 12 anos deverão estar acompanhados pelos pais ou responsáveis para aplicação das doses.
— Temos visto muitos quadros graves de doenças respiratórias e superlotação nas emergências. Há muita gente adoecendo, principalmente crianças e idosos. São coisas que poderiam ser evitadas se estivessem com a vacinação em dia. A vacinação vai reduzir enormemente as formas graves dos quadros respiratórios. Hoje, o que mais nos preocupa é a influenza — acrescenta Vânia.
Fonte: GZH
Foto: Jonathan Heckler / Agência RBS
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