Confira os novos tipos de Pix para facilitar pagamentos mensais e compras parceladas
Entre as modalidades em análise, Banco Central vai disponibilizar em 2024 o acesso a uma alternativa para quitar débitos recorrentes de serviços como as contas de água, luz e telefone
Já pensou em pagar as suas contas mensais, seja de água, luz, aluguel, escola dos filhos, telefone, academia ou o aquele serviço de streaming de filmes favorito e, quem sabe, poder parcelar a compra de um ar-condicionado no comércio usando apenas o Pix?
Os novos formatos em desenvolvimento pelo Banco Central (BC), em breve, vão tornar isso tudo possível e, de quebra, ainda prometem reduzir os riscos de inflar a fatura do cartão de crédito ou de cair nas armadilhas dos altos juros do rotativo, que, em maio de 2023, respondiam por 86,8% das dívidas em atraso no país, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Em estágio avançado, o chamado Pix Automático será disponibilizado em abril do próximo ano, conforme adiantou o BC na segunda-feira (19), durante evento do Fórum Pix. O lançamento, antes previsto para 2023, foi adiado em razão da greve no BC, mas os últimos ajustes do cronograma estão em pleno curso.
A ideia, segundo a assessora do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do BC, Mayara Yano, é viabilizar pagamentos recorrentes de forma automática, mediante autorização prévia do usuário. Ao contrário do que acontece neste momento, as empresas de qualquer segmento ou porte que atuem com pagamentos periódicos poderão, sim, utilizar o novo produto. Entre os nichos, destacam-se as concessionárias de serviços públicos (água, energia, telefonia), seguradoras, estabelecimentos de ensino, condomínios, clubes por assinatura e muitos outros.
Na prática, será uma alternativa ao débito em conta, que, hoje, abrange um número reduzido de serviços, empresas e pessoas. Um dos benefícios esperados é que a solução seja acessível para mais de 140 milhões de usuários do Pix, atualmente, no Brasil e disponível em todas as instituições financeiras.
A nova modalidade permitirá que os pagamentos mensais sejam feitos sem a necessidade de abrir uma conta no banco específico ou de um cartão de crédito. Deste modo, o pagador deverá autorizar a cobrança, sem ter de autenticar a operação em cada nova transação. A operação poderá ser feita pelo aplicativo do banco, QR Code ou Pix Copia e Cola e cancelada em qualquer momento.
Esses são alguns diferenciais do Pix Automático, explica o chefe da Gerência de Gestão e Operação do Pix do BC, Carlos Eduardo Brandt. Ele lembra: o modelo é capaz de atender a qualquer necessidade de pagamento e deve reconfigurar aspectos do mercado, sobretudo, nos segmentos ocupados prioritariamente pelo cartão de crédito.
— Para quem consome, ou paga, será acessível, não só em grandes bancos e na cobrança de serviços prestados pelas empresas maiores. Além disso, quando a solução para esses pagamentos é via cartão, existem várias complicações, há custos elevados, dificuldade de acesso, uma série de situações que são restritivas. Então, queremos democratizar todo acesso a esse tipo de pagamento — resume.
Crédito via Pix
Numa segunda etapa, o alvo é fazer com que os produtos adicionais tornem os pagamentos via Pix mais abrangentes. Uma das soluções em estudo – sem data marcada para ser lançada – já é chamada de Pix Crédito ou Pix Garantido. Isso porque, de antemão, a solução prevê o uso das facilidades do Pix nas compras parceladas de bens.
Brandt argumenta que os Pix Automático e Crédito são estratégias complementares, que seguirão uma das regras básicas do Pix para as pessoas físicas, isto é, a isenção de tarifas. Nesse aspecto, a tendência aponta também para uma pressão extra para redução da cobrança de taxas.
— Todas as instituições precisam ter a sua viabilidade, não é objetivo de BC prejudicá-las, mas temos de garantir melhores condições de preço e um ambiente mais competitivo e saudável para todos. Pensamos no sistema financeiro, mas também nos clientes desse sistema. Esse é olhar em inovação e novas possibilidades que temos para fazer esse sistema mais sólido e eficiente.
O que está no radar
Por que o Pix é a aposta para democratizar os meios de pagamento?
Criado em novembro de 2020, já em abril de 2021, o Pix bateu as demais modalidades disponíveis no mercado, com cerca de 500 milhões de operações, ante 335 milhões de boletos e 110 milhões de Transferência Eletrônica Disponível (TEDs). Em maio deste ano, atingiu 3,2 bilhões de operações e superou em mais de sete vezes as 443 milhões operações, correspondentes à soma das operações com boletos (366 milhões) e Teds (75 milhões). Considerado de fácil acesso, a criação do Pix é apontada pelo BC como responsável pela inclusão de mais de 40 milhões de brasileiros na chamada economia digital. Novas soluções e modalidades envolvendo o Pix buscam, agora, consolidar a democratização do acesso aos meios de pagamento no país.
Quais os efeitos esperados no mercado com novos modelos de Pix?
Em 2020, as transações com Pix somaram R$ 180 milhões. No ano seguinte, bateram em R$ 9,43 bilhões. Em 2022, atingiram R$ 24,05 bilhões. O valor é abaixo do apurado para os cartões de crédito: R$ 3,31 trilhões, em 2022, com 190,8 milhões de unidades, o que representa quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil (107,4 milhões), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com base nessa relação, as novas modalidades Pix avançam sobre o território dos cartões de crédito e têm poder para reconfigurar o mercado. Isso porque, além de ampliarem o acesso (os cartões têm restrições dadas pelas consultas aos cadastros de negativados e endividados), tendem a forçar a redução de taxas e juros rotativos no mercado.
Veja as vantagens
- Para consumidores: porque terão alternativas mais abrangentes de acesso ao débito em conta (Pix Automático) e a possibilidades de parcelamentos de itens adquiridos à prestação (Pix Crédito ou Garantido), inclusive com a posterior compensação de saldos, mediante a criação de garantias, ainda em fase de análise no BC. Em 2024, já será possível agendar no Pix os pagamentos de contas básicas e outros serviços.
- Para as empresas: ao contrário do que acontece hoje, quando para viabilizar a opção de débito automático, por exemplo, é necessário realizar um convênio com cada banco, no Pix Automático a regra será padronizada. Significa que não existirá mais necessidade de que as empresas celebrem distintos convênios com cada instituição bancária. Facilita o acesso e a adesão das empresas menores.
- Para os bancos: mesmo que eventualmente haja perda em receitas geradas a partir de taxas bancárias, a ampliação da base de clientes ativos que ingressam nas instituições via Pix, permite que as instituições financeiras ofereçam novos produtos a uma base de clientes que, antes, não participava do mercado. Entre os exemplos de serviços adicionais estão seguros, investimentos e crédito.
Os novos produtos Pix
- Pix Automático: foi pensado para ampliar a abrangência do débito automático, que, atualmente, demanda das empresas firmar convênios com diferentes instituições e regras. Como também é necessário que a pessoa seja cliente do banco para programar um débito recorrente, ao padronizar as normas e incluir o público de usuários do Pix na modalidade, a meta é permitir que empresas dos mais variados segmentos e portes, possam oferecer essas facilidades. De acordo com o chefe da Gerência de Gestão e Operação do Pix do BC, Carlos Eduardo Brandt o Pix automático contempla todas as necessidades de contas, sejam aquelas físicas (escola dos filhos) ou digitais (clubes de assinaturas).
- Pix Crédito ou Garantido: ainda sem data definida, a ideia do BC é que a opção seja complementar ao Pix Automático, uma vez que prevê a compensação de saldos. A modalidade demanda a criação de garantias para arcar com parcelas recorrentes por algum período (compra de uma TV em 12 vezes, por exemplo). Diferentemente dos serviços, em que a garantia é o próprio serviço e a falta de pagamento gera a interrupção do fornecimento, nessa situação o consumidor já teria recebido o bem e é preciso assegurar que não haja inadimplência. Por isso, o BC avalia soluções que começam a surgir no sistema privado com o objetivo de padronizá-las e torná-las acessíveis ao universo Pix.
- BolePix: trata-se da versão do Pix para os boletos. A diferença é que o QR Code que aparece no boleto concede às pessoas a oportunidade de fazer esse pagamento via Pix. Isso já é disponível, mas a diferença está no tempo de liquidação (a transferência do valor pago à empresa que o receberá), que se tornará instantâneo, além de uma série de informações, hoje contidas no boleto e que precisam ser condensadas no BolePix. Em linhas gerais, as funcionalidades do boleto serão reforçadas pela instantaneidade do fluxo de pagamentos existentes no pix. A meta é que a padronização e os ganhos de segurança e rastreabilidade estejam disponíveis no início do ano que vem.
Fonte: GZH
Foto: Marcelo Casagrande / Agência RBS
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