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Da radiação nuclear aos microplásticos, os diferentes sinais de que a Terra já vive a era geológica

  • Data: 12/Jul/2023

Grupo de cientistas argumenta que os humanos transformaram o planeta o suficiente para justificar a mudança

 

Conforme os cientistas argumentam que os humanos transformaram de forma fundamental o suficiente o planeta para justificar nossa própria era geológica, surge outra pergunta: há algo que ainda não tenha sido tocado pela presença da humanidade?

Elevados gases do efeito estufa, microplásticos onipresentes, produtos químicos "eternos" disseminados, a perturbação global dos animais, até mesmo celulares velhos e ossos de frango — todos foram apresentados como evidências de que o mundo entrou no Antropoceno, a era dos humanos, no meio do século XX.

Jan Zalasiewicz, um geólogo britânico que presidiu o Grupo de Trabalho do Antropoceno por mais de uma década, pausou por um momento quando perguntado se havia algum lugar na Terra sem sinais de influência humana.

"É difícil pensar em um lugar mais remoto" do que a geleira Pine Island na Antártida, disse Zalasiewicz à AFP. No entanto, quando cientistas perfuraram profundamente abaixo do gelo da geleira há alguns anos, encontraram vestígios de plutônio.

Era uma radiação remanescente dos testes de armas nucleares que começaram em 1945, deixando para trás uma presença radioativa sem precedentes. Zalasiewicz afirmou que esses radionuclídeos representam talvez "o sinal mais nítido" para marcar o início do Antropoceno 70 anos atrás. Mas "há uma quantidade enorme (de sinais) para escolher", acrescentou.

Na terça-feira(11), o Grupo de Trabalho do Antropoceno vai anunciar o ponto-chave dessa época, o local que representa de forma mais clara as muitas maneiras pelas quais os humanos mudaram o mundo. O anúncio, porém, ainda não tornará o Antropoceno uma unidade de tempo geológica oficial, pois geólogos de todo o mundo seguem examinando as evidências.

O peso da humanidade

Outra grande característica do Antropoceno provavelmente não será surpresa: o rápido aumento do dióxido de carbono e de outros gases do efeito estufa que estão aquecendo o planeta. Muitas coisas mudaram "quando os seres humanos desenvolveram a tecnologia para extrair do solo 'luz solar fossilizada' - na forma de petróleo, carvão e gás", disse Zalasiewicz.

Os seres humanos consumiram mais energia desde 1950 do que nos 11,7 mil anos anteriores correspondentes ao Holoceno, apontaram pesquisadores do Antropoceno. Essa nova energia foi usada para dominar o mundo de uma maneira anteriormente impossível. Tanto a Terra quanto os animais foram utilizados para alimentar a explosão populacional humana.

Humanos e seus animais de criação representam 96% da biomassa de todos os mamíferos terrestres do planeta, enquanto os mamíferos selvagens são apenas 4%, estimaram estudos em 2018. Frangos de supermercado, criados pelos humanos para crescerem muito mais do que o normal, representam dois terços da biomassa de todas as aves, afirmou Zalasiewicz.

Os humanos também redistribuíram espécies pelo mundo, introduzindo espécies invasoras, como ratos, até mesmo em ilhas remotas do Pacífico.

Tecnofósseis e químicos eternos

Em 2020, cientistas estimaram que a massa de todos os objetos feitos pela humanidade agora excede o peso de todos os seres vivos do planeta. Os pesquisadores do Antropoceno chamaram esses objetos de "tecnofósseis".

Sucessivas gerações de telefones celulares, que se tornam obsoletos tão rapidamente, são apenas um exemplo de tecnofóssil que "fará parte do registro do Antropoceno", explicou Zalasiewicz.

Pequenos pedaços de plástico chamados microplásticos têm sido encontrados nos picos mais altos da Terra e no fundo dos oceanos mais profundos.

Substâncias chamadas PFAS ou "produtos químicos eternos", criados para produtos como panelas antiaderentes, também estão sendo cada vez mais identificados em todo o mundo.

Pesticidas, fertilizantes, níveis crescentes de nitrogênio e fósforo, até mesmo os esqueletos enterrados das pessoas... A lista de possíveis marcadores do Antropoceno continua.

Segundo os cientistas, daqui a centenas de milhares de anos, todos esses marcadores serão claramente preservados, fornecendo aos nossos futuros ancestrais — ou a qualquer outro ser que se interesse — uma visão dessa era humana.

Mas o que esse futuro geólogo verá em seguida?

— Um dos sinais que se gostaria de ver do Antropoceno é a humanidade respondendo de maneira positiva — afirmou o paleontólogo britânico Mark Williams, membro do Grupo de Trabalho do Antropoceno.

O registro fóssil ainda não mostra uma extinção em massa, mas uma está agora entre as possibilidades, disse ele à AFP. 

— Temos dois caminhos a partir daqui — acrescentou.

Então, há algum lugar restante na Terra que não tenha uma pegada humana? Os cientistas concordaram que o único lugar provável seria algum lugar sob o gelo na Antártida. Mas se nada mudar, essas camadas de gelo serão gradualmente derretidas pelo aquecimento global, alertou Zalasiewicz.

 

Fonte: GZH * AFP

Foto: Mateus Bruxel / Agência RBS

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