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Uma criança ou adolescente é vítima de abuso sexual a cada três horas no RS, e número vem crescendo

  • Data: 14/Jul/2023

Dados serão divulgados pela Polícia Civil em seminário sobre os 33 anos do ECA, legislação que protege os brasileiros com menos de 18 anos

 

A cada três horas, em média, uma criança ou adolescente, com idade até 14 anos, é vítima de abuso sexual no Rio Grande do Sul. E a cada oito horas um caso de maus-tratos a uma criança  é registrado no Estado. Os dados foram divulgados pela Polícia Civil para marcar o aniversário da legislação que protege os brasileiros menores de 18 anos: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que nesta quinta-feira (13) completa 33 anos.

A média é calculada com base nos registros destes crimes de 2018 até 22 de junho de 2023. Foram registrados, neste período, 18.265 estupros contra crianças ou adolescentes. Ou seja, nove casos chegaram à polícia a cada dia, em média. A média se repete considerando apenas o ano de 2023, de 1º de janeiro a 22 de junho: foram 1,5 mil ocorrências, ou nove diárias.

Sobre maus-tratos, desde 2018, também até 22 de junho deste ano, houve 5.967 ocorrências, o que equivale a três registros diários. Comparando os dados de 2018 com os de 2022, o aumento foi de 33%. Somente até o dia 22 de junho deste ano, houve 630 casos, também mantendo a média de três ocorrências por dia.

E estes números não vêm caindo. Na comparação do total de casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes entre 2018 e 2022, houve alta de 12%. Nos casos de maus-tratos, o aumento é de 33%, na mesma comparação.

Os dados seriam apresentados pela diretora da Divisão Especial da Criança e Adolescente (Deca), delegada Caroline Bamberg Machado, em um seminário sobre o tema em Porto Alegre. Porém, o evento acabou adiado para o dia 20, por causa do ciclone que atingiu o Estado entre estas quarta (12) e quinta-feira (13).

Foi a delegada Caroline — que conduziu uma das principais investigações policiais do Estado, a do caso Bernardo — quem fez o recorte dos dois tipos de situações que mais cresceram nos últimos cinco anos, apresentado acima. No seminário também serão mostrados os índices de quase todo o primeiro semestre de 2023.

Só 10% dos casos chegam à polícia

A delegada ressalta, ainda, que, segundo estimativas, apenas 10% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são denunciados no Brasil. Além disso, conforme pesquisas nacionais, 70% das ocorrências registradas acontecem dentro de casa e quase 90% dos criminosos têm uma relação de confiança com as vítimas.

O cenário é semelhante no Rio Grande do Sul. Os dados que Caroline Bamberg Machado apresenta na próxima semana vão mostrar que a maioria das vítimas de violência sexual são meninas entre 10 e 14 anos e meninos entre três e nove anos de idade.

Para a delegada, o ECA é um divisor de águas, com grandes avanços na questão de direitos e proteção, e sempre com atualizações. Caroline destaca a doutrina da proteção integral e a própria criação dos conselhos tutelares, que estão na ponta inicial do atendimento às crianças e aos adolescentes.

Pontos a melhorar

O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, tem mais de 250 artigos, com deveres do Estado e da sociedade como um todo em relação a crianças e adolescentes. O ECA é exemplar, enquanto legislação, segundo Caroline, mas a aplicação poderia melhorar, para maior cumprimento das medidas.

— São profissionais de várias áreas, por exemplo, professores, enfermeiros, etc, não são todos, já que boa parte informa, mas profissionais que poderiam ter uma atenção maior e comunicar mais rapidamente aos conselhos tutelares sobre possível violência contra crianças e adolescentes. Nesse caso, a proteção seria mais eficaz — explica a policial.

Ela ainda diz que não basta só a qualificação do agente de segurança para combater o crime, que tem ocorrido nos últimos anos, mas é preciso um trabalho para aumentar a consciência sobre notificações de casos de estupro. Valendo o mesmo para maus-tratos. Um dos artigos da Lei Henry Borel, de 2022, por exemplo, torna crime de omissão a decisão de não denunciar violência envolvendo menores de 18 anos de idade.

Outra questão é a rede de apoio que, para a delegada, precisa sempre ser ampliada e qualificada. Para Caroline, a situação tem melhorado na questão da parceria e receptividade entre os órgãos que defendem e protegem crianças e adolescentes vítimas.

Vítima pode dar sinais

Caroline, assim como outros especialistas ligados ao tema, afirma que não há uma única forma de manifestação de sinais indicativos de violência. Acostumada a ouvir crianças e adolescentes vítimas, a delegada da Deca aponta indicativos comuns:

  • Mudanças de comportamento repentinas
  • Agressividade
  • Dificuldades para dormir
  • Choro frequente
  • Perda do interesse em brincar e estudar
  • Medo de algumas pessoas, com manifestações físicas de enjoo e outros
  • Marcas pelo corpo
  • Introspecção

 Como denunciar

  • Disque 100 — recebe denúncias sobre violência contra criança e adolescente em todo o País
  • Brigada Militar - pode ser acionada pelo 190 em qualquer cidade do RS
  • Polícia Civil - basta ir à delegacia mais próxima ou repassar a informação pelo telefone. É possível utilizar o Disque Denúncia pelo 181. A Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) em Porto Alegre atende pelo telefone 0800-642-6400
  • Conselho Tutelar - denúncias são verificadas. Em Porto Alegre, das 18h às 8h o atendimento é realizado no plantão centralizado, na Rua Fernando Machado, 657, Centro Histórico. Também há plantão aos sábados e domingos. Em casos de emergência é possível ligar para os telefones (51) 3289-8485 ou 3289-2020. O endereço e telefone de cada uma das unidades podem ser conferidos neste link.

 

Fonte: GZH

Foto: André Ávila / Agência RBS

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