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Preço da carne bovina cai 8,3% em um ano no RS

  • Data: 20/Jul/2023

Desaceleração da inflação, produção elevada e consumo reduzido explicam movimento, segundo especialistas

 

Item importante na rotina alimentar das famílias, a carne está ligeiramente mais em conta no Rio Grande do Sul. O preço médio da carne bovina caiu 8,3% em junho ante o mesmo mês do ano passado no Estado. O dado faz parte de levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tem corte com até 10% de redução no período. 

Inflação desacelerando em um ambiente com produção elevada e consumo reduzido ajuda a explicar esse alívio, segundo especialistas. A retração ocorre após uma sequência de alta observada, principalmente, no ano passado. Em junho de 2022, o produto registrou alta de 14,7% no recorte de um ano.

Olhando para os 10 cortes pesquisados pelo NESPro, sem levar em conta a carne moída, a alcatra lidera entre as reduções, com recuo de 10,45% no preço médio no período, chegando a R$ 60 o quilo. A costela e o vazio, protagonistas do churrasco gaúcho, também estão entre as maiores variações.

O coordenador do NESPro, professor Júlio Barcellos, afirma que o desaquecimento da economia nos últimos meses, com famílias perdendo poder aquisitivo, afetou a demanda por carne. Isso, somado a uma redução dos valores de exportações do produto, cria um ambiente com valores mais baixos para incentivar o consumo, segundo o especialista:

— Isso impacta o mercado internamente. Com menos pessoas comprando carne, menos demanda, menor o preço.

No caso da alcatra, um dos destaques na redução, Barcellos explica a versatilidade dessa peça, usada em bife, picados e até no assado. Portanto, junto do guisado, é um dos cortes mais utilizados pelas classes que diminuíram o consumo de carne nos últimos meses, o que explica preços mais em conta, segundo o docente.

A pesquisa do NESpro é realizada há cerca de 10 anos nos principais mercados consumidores de carne bovina do Rio Grande do Sul. A maior parte do levantamento ocorre em Porto Alegre, que abriga a maior parte do consumo desse produto em termos percentuais. Os valores dos cortes apresentados no estudo são uma média de todas as consultas. Por exemplo, consumidores podem achar determinado corte com valores diferentes, distante da média para cima ou para baixo, dependendo do local de compra e da região.

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que o efeito do aperto monetário no combate à inflação é um dos principais movimentos que explicam a redução nos preços do grupo de alimentos como um todo, incluindo as carnes. Além disso, produção em nível acima do que é absorvido pelo mercado no momento também pesa nesse cenário, segundo o economista:

— Os animais ficaram prontos para o abate em um momento no qual a economia não está boa, com o consumo das famílias prejudicado. Se a demanda está menor do que a oferta, o preço cai.

Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como inflação oficial do país, também mostram retração no preço desse alimento. O item carnes, que também leva em conta suínos e carne de carneiro, caiu 3,25% na Grande Porto Alegre, e 6,73% no país em 12 meses no IPCA.

O economista-chefe da Farsul afirma que uma análise mais certeira sobre o comportamento dos preços nos próximos meses está ligada ao cenário econômico, levando em conta variáveis como inflação e juro.

O coordenador do NESpro estima estabilidade nos valores até pelo menos o fim do ano. Uma projeção mais alongada depende do comportamento da atividade econômica no país.

Clientes percebem redução nos açougues

Funcionário de um açougue do Mercado Público de Porto Alegre, João Batista, 44 anos, afirma que o local percebe redução no preço de alguns cortes, principalmente nas carnes de segunda, tradicionalmente usadas para cozidos e outras receitas na panela. Agulha, costela, paleta sem osso e algumas opções de bifes estão entre os produtos que sofreram as maiores retrações de preços, segundo o açougueiro, que trabalha no local há 15 anos.

— A queda é principalmente na carne de panela, que o pessoal usa no dia a dia — pontua Batista.

O funcionário destaca que a busca por outros tipos de proteína, de porco e frango, segue em alta em um cenário onde a carne bovina, mesmo com redução de preço, segue em patamar elevado. Esse movimento é percebido no local, com muitos consumidores levando cortes de suíno e linguiça.

A aposentada Diná de Moura,71, notou leve queda nos preços de alguns cortes de carne bovina nos últimos meses. No fim da manhã desta quarta-feira (19), ela aproveitou ida ao Mercado Público da Capital para comprar chuleta bovina, guisado e linguiça. Moradora do bairro Partenon, na Zona Leste, a aposentada relata que, em um passado recente, gastava cerca de R$ 100 em uma compra desse porte. Hoje, gastou cerca de R$ 80. Ela afirma que, apesar de pequena, a redução abre espaço no orçamento para comprar algumas coisas a mais e variar o cardápio.

— Já ajuda. Até para variar um pouco, fazer um bifezinho à milanesa, uma comida diferente. Mas não é sempre, é de vez em quando — explica a aposentada.

O casal Adão Damaceno e Nara Borba, moradores do bairro Belém Novo, também perceberam redução no preço da carne bovina, principalmente nos cortes de segunda. Nara afirma que costuma pesquisar em mais um local antes de comprar para aproveitar promoções. No entanto, nesta quarta, a dupla aproveitou a ida ao açougue para comprar uma costela de ovelha e um pouco de banha de porco para variar o cardápio.

O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, afirma que a queda média de preço da carne bovina nos supermercados gaúchos é de 12% a 15%.

— O consumidor está muito atento e migrando de loja, de produto e de categoria em busca da valorização de sua renda — explica Longo.

 

Fonte: GZH

Foto: Anselmo Cunha / Agência RBS

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