Em sete meses, ladrões levaram mais de 10 mil celulares no RS
A cada dia, em média, 47 aparelhos são furtados ou roubados no Estado; crimes envolvendo violência tiveram alta de quase 19% entre 2022 e 2023
Pouco mais de 10 mil ocorrências de roubos e furtos de celulares foram registradas nos primeiros sete meses de 2023 no Rio Grande do Sul. O aumento é de 6% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a polícia contabilizou 9.507 casos.
A cada dia, criminosos levam pelo menos 47 aparelhos no Estado, em média. Os dados são da Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP/RS).
De cada 10 notificações, oito envolvem furtos e apenas duas são de roubos dos aparelhos. Enquanto os furtos não envolvem violência e ocorrem, frequentemente, de forma sorrateira, sem que a vítima perceba no momento, os roubos são caracterizados por violência e/ou ameaça.
Apesar de representarem a minoria dos casos, os roubos aumentaram 18,7% de janeiro a julho deste ano em relação ao mesmo período de 2022, saltando de 1.778 ocorrências para 2.112. No gráfico abaixo, é possível observar mês a mês que o indicador, em 2023, sempre esteve acima do que foi registrado no ano passado.
— As pessoas têm deixado, cada vez mais, de andar com dinheiro vivo. Um dos únicos bens que ainda são transportados diariamente é o celular. E ele tem um valor intrínseco. Alguns valem R$ 5 mil, R$ 10 mil, depende da marca e do modelo. Por isso que os smartphones são tão atraentes assim — afirma o delegado Cleber dos Santos Lima, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre.
Os dados obtidos junto à SSP/RS apontam para uma média anual elevada de roubos e furtos no Rio Grande do Sul. Considerando cada um dos últimos quatro anos, o número de notificações sempre ultrapassou a marca de 13 mil.
Apesar da redução de 28,9% no agregado dos indicadores de 2019 para 2020 (ano marcado pelo início da pandemia de coronavírus no Brasil e pela implementação de políticas de distanciamento social), em 2022 os números quase voltaram ao patamar de 2019, com alta de 24,9% em relação a 2021.
Esta alta registrada no Estado supera a média nacional, em que os indicadores subiram 17,1% (2021-2022). Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em todo o país, ocorreram 999.223 furtos e roubos de celulares no ano passado.
Receptadores impulsionam furtos e roubos
Porto Alegre soma 3.712 registros policiais, um terço das ocorrências de todo Estado. Os furtos também são maioria, mas os roubos de smartphones representam uma parcela um pouco maior do que em nível estadual: chega a 30%.
— Um celular só é furtado ou roubado porque existe um mercado que adquire este bem — avalia o delegado Cleber dos Santos Lima.
Nesta semana, a Secretaria da Segurança Pública deflagrou a 6ª edição da Operação Mobile Integrada em 23 municípios gaúchos. A força-tarefa busca reduzir os indicadores de furtos e roubos de pedestres através do combate ao comércio ilegal de aparelhos.
Participaram da ação 375 servidores, que inspecionaram 122 endereços. De acordo com a SSP/RS, foram feitas 31 autuações, 16 celulares foram apreendidos e 10 pessoas acabaram presas.
— Nós já prendemos em torno de 50 pessoas que compraram telefones roubados. Pela internet, na sua grande maioria. Elas acham que não vai dar em nada. Muito pelo contrário. É crime e gera muitas prisões — afirma o titular da 4ª Delegacia de Polícia (DP), Arthur Raldi.
O delegado, que atua em Porto Alegre, menciona como exemplo o enfrentamento a roubos e furtos de veículos no Estado. De acordo com Raldi, os índices criminais de anos atrás começaram a ser revertidos, principalmente, pela repressão às receptações:
— A partir do momento que se fechou o cerco contra a receptação, contra os desmanches, foi possível fazer com que as pessoas parassem de comprar, fechando as lojas que comercializavam peças roubadas. E sem compradores, houve a diminuição da busca (através de roubos e furtos) desses bens para revenda. Se as pessoas deixarem de adquirir telefones roubados, certamente, os outros crimes irão cair.
Conscientização que salva vidas
Apesar dos índices de roubos serem menores que os de furtos, eles são vistos com especial preocupação pelas autoridades. A ameaça e a violência envolvidas colocam a vítima numa situação de risco muito maior.
— No decorrer da ação, o roubo pode evoluir para um crime mais grave frente a uma reação, e até mesmo sem uma reação da vítima. Quem compra esses celulares roubados precisa se conscientizar não só pelo medo de ser preso por receptação, mas porque também pode ser vítima desses assaltos. Às vezes, alguém acaba sendo morto por um bem, por algo que não chega perto do valor de uma vida perdida — observa o delegado Arthur Raldi.
Em setembro, um caso que teve grande repercussão em Porto Alegre completará dois anos. Era noite de 23 de setembro quando Cristiane da Costa dos Santos, 20 anos, foi surpreendida por criminosos em uma parada de ônibus na Zona Sul. O grupo armado levou pertences de quem aguardava pelo transporte coletivo.
Segundo testemunhas, a jovem demonstrou nervosismo, reação suficiente para um dos suspeitos decidir atirar contra o peito dela. Cristiane morreu no local e entrou para as estatísticas de latrocínio, o roubo com morte.
Um debate nacional
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) vem debatendo estratégias de combate a roubo e furto de smartphones com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), entidades setoriais e empresas de tecnologia e telefonia. O tema é considerado prioritário pela pasta devido ao grande número de vítimas espalhadas pelo país.
Recentemente, o assunto foi discutido em Brasília com representantes das plataformas Meta e Google. Eles se colocaram à disposição para colaborar com saídas tecnológicas. Nos próximos dias, está prevista a participação das duas empresas em reuniões com os técnicos do MJSP para dar prosseguimento aos trabalhos.
Uma das alternativas estudadas para redução dos indicadores criminais é a utilização de uma tecnologia para comunicar o roubo ou o furto e, ao mesmo tempo, acionar bloqueios do próprio aparelho levado, da linha telefônica, dos aplicativos bancários e de outros acessos disponíveis no celular. O objetivo é transformar o aparelho roubado em um item sem qualquer funcionalidade tanto para os criminosos quanto para os receptadores.
— A Anatel já teve reuniões com o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. Existem diálogos entre as duas instituições para entender como a gente pode auxiliar o governo federal no combate a esse tipo de crime, que, como o próprio secretário bem colocou, infelizmente é um crime muito democrático, que afeta desde o mais rico até o mais pobre — comenta João Zanon, assessor na Superintendência de Planejamento e Regulamentação da Anatel.
Fui vítima, e agora?
A partir do assalto ou do momento em que a pessoa percebe que foi vítima de furto, tem início uma verdadeira corrida contra o tempo para impedir os criminosos de continuarem agindo. A dica é realizar, primeiramente, dois bloqueios: do chip e do celular.
A Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABR Telecom) disponibiliza o Cadastro Nacional de Estações Móveis Impedidas (CEMI) para bloqueio de linha e celulares - não só roubados e furtados, mas perdidos também. Basta acionar a operadora telefônica ou se dirigir até a delegacia mais próxima.
— Embora algumas operadoras já façam o bloqueio através da informação da linha utilizada, é sempre importante ter em mãos o código IMEI do equipamento — destaca o advogado José Milagre.
O IMEI (sigla em inglês para "Identificação Internacional de Equipamento Móvel") é uma sequência de 15 dígitos que serve para identificar o celular. Enquanto o bloqueio da linha (chip) impede que ela seja usada em outro aparelho e gere custos indevidos na fatura, o bloqueio do aparelho impossibilita que o dispositivo acesses as redes móveis brasileiras.
Para descobrir o IMEI do seu dispositivo, ligue para *#06#.
Desde 2017, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul tem acesso ao CEMI, podendo também realizar o bloqueio a pedido das vítimas. Em pouco mais de seis anos, o órgão de segurança estadual utilizou a ferramenta para impedir o acesso a 6.846 aparelhos perdidos, roubados e furtados. Apenas em 2023, até o fim de julho, foram 766 bloqueios.
As operadoras telefônicas, por outro lado, costumam ser acionadas com mais frequência para esse tipo de intervenção. Desde o início do projeto, 215.486 dispositivos foram bloqueados pelo sistema no Estado. Em 2023, as prestadoras fizeram uso da ferramenta 11.086 vezes.
Especialista em crimes cibernéticos, o advogado José Milagre alerta para a necessidade de a vítima também acionar as instituições financeiras, para que o acesso aos aplicativos seja suspenso. Isso deve ser feito o mais rapidamente possível.
Dicas para reduzir os danos em caso de roubo ou furto do smartphone:
- Crie barreiras adicionais de segurança em seu celular, como liberação de aplicativos através de senha biométrica e reconhecimento facial;
- Adote o mecanismo de autenticação de dois ou três fatores. Alguns aplicativos facilitam esse processo, como o Google Authenticator e o Microsoft Authenticator. Assim, o criminoso não conseguirá alterar senhas e acessar redes sociais apenas com uso da linha telefônica ou do e-mail da vítima;
- Na medida do possível, evite instalar todos os aplicativos bancários em um único celular;
- Se o aparelho for levado por criminosos, busque um computador ou outro smartphone para acionar o rastreador ou bloqueador remoto (para sistema Android e iOS).
Fonte: GZH
Foto: Alla / stock.adobe.com
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