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Enchentes aumentam risco de transmissão de doenças; confira orientações de como se proteger

  • Data: 08/Set/2023

Alimentos que tiveram contato com a água suja que invadiu as casas não devem ser consumidos

 

A população do Vale do Taquari e de outras regiões do RS luta para limpar o que restou de suas casas e pertences, cobertos em lamaçal, e restabelecer suas vidas após a enchente que devastou a região. No entanto, é preciso ter atenção, pois há doenças que ganham força em ambientes com inundações, como leptospirose, hepatite A, cólera e tétano. Por isso, os cuidados devem envolver a atenção à água e aos alimentos consumidos, a limpeza dos ambientes e o uso de equipamentos de proteção.

Em desastres que envolvem enchentes, as pessoas acometidas são expostas à água suja, que traz contaminação, principalmente quando vão limpar as casas – e há doenças que advém dessa circulação e contato com a água, conforme explica Marcelo Vallandro, diretor-adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).

— A gente reforça que quem está nessas localidades, que agora estão baixando as águas e as pessoas estão retornando às casas para promover a questão da limpeza, coloque botas, luva, proteção, para evitar a exposição com esse tipo de situação — afirma.

A orientação também é importante dado que locais com entulhos aumentam o risco de acidentes e de ferimentos durante a limpeza, além de serem pontos facilitadores para picadas de escorpiões, aranhas e cobras. Isso porque, em situações de chuva, esses animais costumam se abrigar em pontos secos, como o interior de casas.

— O tétano é uma coisa com a qual a gente se preocupa. Nós enviamos e temos reforçado a vacinação com a antitetânica, porque as pessoas acabam se expondo muito. É preciso reforçar o cuidado com acidentes com animais peçonhentos — orienta Vallandro.

Além disso, doenças respiratórias também são esperadas neste momento, marcado por umidade – sobretudo nos abrigos que reúnem as pessoas atingidas pela catástrofe, resultando em aglomeração.

Leptospirose

A leptospirose é uma das doenças que mais preocupam em locais que enfrentam inundações. Ela é causada por uma bactéria presente na urina de roedores (rato, ratazana, camundongo). Situações de chuva acima do normal fazem com que rios, córregos e rede de esgoto transbordem. A água, então, é contaminada em tocas de roedores e, por fim, chega às residências.

A urina de outros animais contaminados pela bactéria, como bois, porcos e cães, também pode transmitir a doença. O contato com a pele, as mucosas ou a ingestão de alimentos, líquidos e medicamentos contaminados transmite a leptospirose para humanos. Os sintomas são febre, dor de cabeça, dores musculares, vômito, diarreia e tosse.

— É uma doença que pode ser potencialmente grave. Como não há vacina, a prevenção dela é usando botas, luvas e evitar o contato com a água — resumiu Paulo Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, em entrevista concedida a GZH após o ciclone de junho.

O especialista também reforçou a importância de buscar imunizantes o quanto antes:

— A vacinação é fundamental, embora todas as vacinas (contra as doenças comuns em enchentes) demorem de 15 a 30 dias para começarem a funcionar. Então, em uma situação aguda como essa, elas não nos ajudam muito, mas seguem indicadas porque não sabemos se isso vai se repetir ou se prolongar. A atualização vacinal é primordial para todas as situações, as do dia a dia e também essas catástrofes.

Cuidado com alimentos e água

É preciso redobrar os cuidados com alimentos e água para evitar problemas, frisa o diretor-adjunto do Cevs:

— A gente sabe a situação de escassez em que as pessoas estão, mas elas precisam ter cuidados para minimizar danos. Ao comer qualquer coisa e tomar qualquer água, tem a possibilidade de ter doenças transmitidas, como infecções gastrointestinais.

Vallandro reforça que as pessoas com dificuldades busquem abrigos, que estão recebendo diversas doações.

— É para ter alimentos lá de uma melhor qualidade, porque, às vezes, a pessoa pode querer reaproveitar os que tiveram contato com águas contaminadas, e há grande chance de estarem contaminados. Eles devem ser descartados — ressalta.

Nos abrigos, as pessoas também poderão ter acesso à água – de preferência, mineral. Porém, a Cevs também está distribuindo hipoclorito para que os cidadãos possam fazer a desinfecção da bebida, na impossibilidade de acesso à água potável ou à rede de distribuição, ou em caso de incerteza da fonte ou qualidade, já que muitas localidades estão sem abastecimento ou tiveram as caixas d’água comprometidas.

Cuidados com a água

A água disponível à população em municípios atingidos por enchentes precisa ser avaliada, pois pode conter microrganismos causadores de diversas doenças. Por isso, deve ser confiável, sem ter tido contato com a água da chuva. É importante consumir água potável, fervida ou tratada com hipoclorito de sódio.

  • Filtre a água utilizando filtro doméstico. Caso não seja possível, utilizar coador de papel ou pano limpo
  • Na impossibilidade de filtrar ou coar, reserve ou coloque a água em um vasilhame limpo e deixe a sujeira decantar (descer até o fundo do vasilhame) até que a água fique transparente. Em seguida, separe com cuidado a água limpa, coloque em outra vasilha limpa e realize a desinfecção com água sanitária (solução de hipoclorito de sódio a 2,5%)
  • Coloque duas gotas de água sanitária para um litro de água para inativação/eliminação de microrganismos que causam doenças
  • Aguarde 30 minutos para beber a água, tempo necessário para o hipoclorito eliminar os microrganismos presentes na água
  • Caso observe alguma alteração na água da torneira (como odor e/ou coloração diferente do habitual) entre em contato com a empresa de saneamento responsável pela distribuição e/ou a secretaria de saúde do seu município

Cuidado com alimentos

Após uma enchente ou inundação, é possível que os alimentos não estejam em condições adequadas para o consumo. Produtos contaminados podem causar diarreia, vômito, febre e, em casos mais graves, levar à morte. É importante evitar alimentos crus e mal lavados ou mal higienizados e dar preferência aos cozidos, assados e que estão em pacotes fechados.

Não devem ser consumidos:

  • Alimentos com cheiro, cor ou aspecto fora do normal (úmido, mofado, murcho)
  • Alimentos como leite, carne, peixe, frango e ovos, crus ou malcozidos, principalmente aqueles que entraram em contato com a água de enchente
  • Frutas, verduras e legumes estragados ou escurecidos que entraram em contato com a água de enchente
  • Alimentos cozidos ou refrigerados que tenham ficado por mais de duas horas fora da geladeira, principalmente carne, frango, peixe e sobras
  • Alimentos com embalagem em plástico (garrafas PET, leite em saco, grãos ensacados) que tiveram contato com água da enchente devem ser descartados, mesmo que não tenham sido abertos
  • Alimentos com embalagens em latas, plásticos e vidros que apresentem sinais de alteração, como inchaço, esmagamento, vazamento, ferrugem, buracos, tampas estufadas ou outros danos devem ser descartados, mesmo que não tenham sido abertos

 

Fonte: GZH *Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs)

Foto: Jefferson Botega / Agência RBS

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