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Governo admite necessidade de aperfeiçoamento do sistema de alertas no Estado

  • Data: 21/Set/2023

É preciso melhorar a comunicação com a população diante da previsão de catástrofes climáticas e assim impulsionar ações preventivas nos municípios gaúchos

 

A chuva que atingiu o Rio Grande do Sul no início de setembro e provocou 49 mortes revelou a necessidade de aperfeiçoar o sistema de alertas do governo do Estado e melhorar a comunicação com a população diante da previsão de catástrofes climáticas. O governo do Estado admite essa necessidade para poder impulsionar ações preventivas nos municípios gaúchos, principalmente no Vale do Taquari, região mais atingida pelas enchentes.

AlertaBlu, modelo utilizado em Santa Catarina após tragédia registrada em 2008, é um dos avaliados pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS (Sema). Titular da pasta, Marjorie Kauffmann afirma que entrou em contato com as autoridades do Estado vizinho para saber como funciona o sistema, mas destaca que o RS conta com serviços da Sala de Situação e do governo federal, a partir do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), além da rede privada.

— Não acho que esse serviço dependa única e exclusivamente de o Estado possuir uma unidade 100% sua. Mas é importante termos maior integração através de um centro integrado de gestão de risco, que é um projeto que já estava em andamento por parte da Defesa Civil, muito antes desse desastre, que é quem emite esses alertas. Acho que é importante ter esse centro, mas não que ele não possa contar com serviços terceirizados também — afirma.

Sobre a tragédia do Vale do Taquari, Marjorie ressalta o volume de chuvas extraordinário, que provocaram um evento extremo. Porém, afirma que existiram alertas. O que faltou foi eles chegarem em quem precisava ser avisado da gravidade da situação:

— Não conseguiríamos impedir o evento de acontecer, mas temos sistemas que acabaram emitindo os alertas naquele período das cheias. Acredito que talvez nós não tenhamos chegado ao alcance da população sobre a magnitude daquele evento. Nesse ponto estamos estudando melhorias no sistema de alertas, e falo não só em estações, mas na forma como a gente emite esse alerta, como isso chega para a população, como a Defesa Civil transmite isso, porque de fato esse evento foi extremo.

Embora o RS não conte com sistema de monitoramento próprio, o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do governo federal, alertou sobre a possibilidade de evento extremo no Vale do Taquari.

— Se todas as pessoas tivessem saído daqueles lugares que foram inundados e fossem levadas a lugares mais altos, mais seguros, que era perto desses municípios, não haveria morte — afirma.

Para evitar tragédias, ele recomenda a instalação de sistemas de pluviômetros e do clima em escolas, além de orientar os alunos sobre os riscos de uma tempestade. O especialista afirma que a Defesa Civil também precisa treinar as populações para fugirem de áreas de risco.

Devem ser feitos acordos de cooperação técnica

Por conta das chuvas intensas no RS, Marjorie afirma que o governo acelerou as conversas com universidades e especialistas para aperfeiçoar os sistemas de alerta e firmar acordos de cooperação técnica.

— Precisamos buscar a academia, porque o Estado sozinho não vai conseguir fazer muito. Possivelmente faremos uso também do serviço privado para que gente possa ter esse centro integrado sob o comando do Estado, mas não exclusivamente de serviços que são estaduais, porque podemos ter melhor performance mesclando essas formas de contratação — completa.

Ela reforça que os eventos extremos têm ficado cada vez mais intensos e frequentes, o que obriga o Executivo a buscar melhorias dos serviços de alerta e de prevenção.

— O Estado precisa cada vez mais investir e ter essa informação qualificada para auxiliar as populações. Vamos trabalhar no sentido de orientar as prefeituras, porque a ocupação, o ordenamento urbano é trabalho e tarefa do executivo municipal. Mas o Estado como um gestor de recursos hídricos, de bacias hidrográficas, que são muito maiores que aqueles municípios, deve dar esse ordenamento e direcionamento — sustenta.

RS irá licitar contratação de serviço de satélite para monitoramento meteorológico

O RS conta com um sistema de monitoramento e alerta para casos de eventos extremos, com mais de mais de 200 estações hidrometeorológicas para fazer acompanhamento da meteorologia. É o que explica o chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil do RS, coronel Luciano Chaves Boeira. Segundo ele, a estrutura atual é adequada, mas há necessidade de ampliar o monitoramento.

— Essa tragédia foi um evento sem precedentes, como foi amplamente divulgado. Sabíamos que teríamos altos volumes de chuva, de volumes acumulados, mas o que não se sabia é que teria todo esse impacto. Essa informação não se tinha — reconhece, acrescentando que todos os alertas recebidos do Cemaden e Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), além das análises produzidas pela Sala de Situação do Estado, foram repassados aos municípios.

Para aperfeiçoar a estrutura da Defesa Civil, o governo vai realizar licitação para a contratação de serviço de satélite para monitoramento meteorológico, o chamado radar banda C, que opera com alcance de um raio de 120 quilômetros. O objetivo é fazer a cobertura de Porto Alegre e da Região Metropolitana.

— Esse radar vai refinar os dados, dar um dado mais preciso, com antecedência de pelo menos três horas do que efetivamente vai acontecer e onde. Ele vai dar um dado mais qualificado — explica.

Além disso, a ideia é ampliar o número de áreas de risco monitoradas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) e criar um Centro Estadual de Gestão Integrada de Riscos e Desastres.

— São modelos que buscamos a partir de Estados que já possuem uma excelência no serviço. Cito como exemplos Espírito Santo e Santa Catarina, que possuem centros semelhantes aos que pretendemos colocar aqui no RS — observa.

Boeira ressalta que as ações preventivas executadas em Santa Catarina, principalmente em áreas de alto risco e muito alto risco, vão servir de modelo para o RS.

— Temos em torno de 60 municípios mapeados pelo SGB com mais de 600 áreas de alto e muito alto risco. Queremos expandir o monitoramento para todo o RS, como SC fez no seu Estado — destaca.

Sobre a possibilidade de contar com um centro de monitoramento próprio, Boeira destaca o trabalho dos profissionais que atuam na Sala de Situação.

— Esses profissionais estão dentro da Defesa Civil do Estado. Temos hidrólogos, meteorologistas 24 horas por dia, sete horas por semana. Essa estrutura está conosco na sala de situação. É uma estrutura que temos condições de agregar novas tecnologias. Temos que estar sempre buscando evoluir, mas esse evento foi sem precedentes. Não foi possível, com o que se tem hoje de tecnologia, saber que teríamos os impactos que tivemos — completa.

 

Fonte: GZH

Foto: Mateus Bruxel / Agência RBS

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