No Vale do Taquari, enchentes destroem o que estava em reconstrução
Moradores relatam sentimento de impotência diante dos prejuízos contabilizados até o momento
Uma área de instabilidade voltou a atuar sobre o Vale do Taquari nesta quarta-feira (22). Além de causar o temor de novas enchentes, o retorno da chuva dificultou a volta pra casa de muitas pessoas atingidas. Em setembro, o rio Taquari ocupou áreas urbanas de várias cidades do vale, arrasando casas e deixando dezenas de mortos.
Em Arroio do Meio, os primeiros pingos começaram a cair por volta das 11h, momento em que famílias estavam mobilizadas para limpar residências. A inundação registrada no último fim de semana deixou um rastro de lama e destruição pela cidade.
Com rodos nas mãos, Mário Nei de Oliveira e Sandra Espiridião corriam contra o tempo. Queriam se livrar da sujeira antes que a chuva apertasse. Depois de terem a residência destruída na primeira enchente, em setembro, passaram a viver de aluguel com duas filhas - a mais nova tem apenas 1 ano e 7 meses. O novo endereço, no entanto, também foi atingido.
– Estamos recuperando o que deu. Eu tenho medo de vir mais uma enchente e perder o que nós recuperamos – relata Mário.
Enquanto os pais trabalham na limpeza, Érica, de 8 anos, acompanha tudo de perto e ajuda de vez em quando. Um boneco de pelúcia do Simba, de "O Rei Leão", foi um dos poucos brinquedos resgatados. Os materiais escolares não se salvaram.
– Foi com a enchente – diz a menina.
A família já havia sofrido com outras cheias, mas não esperavam ver algo pior.
– É muito difícil ver os filhos da gente assim. Nós tínhamos tudo e perder tudo, de vereda, tá difícil – diz Sandra.
Outra moradora da cidade, Denize Alves, nunca tinha vivenciado algo do tipo antes deste ano. Em entrevista a GZH, ela destacou que não foi só o nível elevado que chamou a atenção: a força da correnteza também.
– A gente não sabe de onde ela veio com tanta força. Ela veio com ondas, arrebentando, levando tudo, árvores, casas. O que tinha pela frente, ela foi levando.
Até o final da tarde desta quarta, apesar da chuva registrada, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais não indicava uma elevação expressiva dos rios da região. Em Muçum, por exemplo, o afluente estava levemente acima da cota de atenção (5 metros), mas quase 12 metros abaixo do nível para inundação (18 metros).
Acampado no centro da cidade
Vanderlei nunca imaginou que moraria com vista para a igreja da praça central. A residência, no entanto, é temporária. Com a cheia do Taquari, a saída foi encontrar um lugar coberto para se abrigar.
Ele e outras famílias ficaram acampadas em uma quadra de esportes coberta. A estrutura faz parte de um parque público. Nesta quarta, praticamente todas as pessoas já haviam voltado para suas casas – com exceção do Vanderlei, que mantém provisoriamente alguns móveis que salvou da inundação e outros que chegaram através de doações.
– Eu já limpei lá a minha casa, mas não tenho como levar as coisas. Vá que chova, dê enchente e eu tenha que sair de novo. Tenho medo – explica.
Desempregado, Vanderlei da Rosa admitiu que cogita a possibilidade de abandonar Arroio do Meio. Alugar algo, segundo ele, acaba se tornando inviável.
– Só quem passa por isso sente na pele – conclui Vanderlei.
As enchentes de novembro
Cinco pessoas morreram nas enchentes que assolaram o Estado no mês de novembro, nas cidades de Giruá, Gramado e Vila Flores.
Em junho, uma das consequências da atuação de um ciclone causou 16 óbitos e destruição em diversos pontos do RS. No início de setembro, devido à forte chuva, mais 50 mortes foram contabilizadas, em municípios atingidos pela cheia de rios, em especial do Vale do Taquari.
Para especialistas, a situação pode ser explicada pela soma de múltiplos fatores: o ciclo natural do clima gaúcho, El Niño e as mudanças climáticas estão entre elas.
No Estado, que tem inverno chuvoso, a tendência é que o volume seja maior, cenário parecidos ao que ocorre na primavera. Já em locais onde as estações são mais quentes, o fenômeno eleva essa condição.
As mudanças climáticas são em parte causadoras da situação vivida no RS e outras partes do mundo, segundo Francisco Eliseu Aquino, professor de climatologia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— O clima mudou, por isso observamos todos os tipos de eventos extremos mais intensos e frequentes em ambos os hemisférios. Como o planeta está mais quente, o aumento da precipitação não ocorre ao longo de vários dias: é intenso em poucos dias ou em poucas horas. A mudança climática favorece eventos extremos e o El Niño os alavanca — comenta.
Fonte: GZH
Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS
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