Grupo técnico aponta que Bento Gonçalves teve 140 deslizamentos num intervalo de seis horas
Conclusão é do Núcleo de Riscos Geológicos, criado pela prefeitura com equipes de várias partes do país
No dia 1º de maio, a Serra e o Estado já contabilizavam os prejuízos do que viria a ser a maior catástrofe climática da história gaúcha. A chuva, contudo, não deu trégua naquela quarta-feira, e, em apenas seis horas (das 6h às 12h), 140 grandes deslizamentos se somaram aos estragos. Detalhe: apenas no território de Bento Gonçalves. A maioria nas localidades de Faria Lemos, Eulália, Vale Aurora e Rio das Antas.
As conclusões são do Núcleo de Riscos Geológicos, departamento criado pelo município para lidar com um dos principais impactos da chuva na cidade. São 56 profissionais, que incluem engenheiros e geólogos oriundos de diversas partes do país e que foram cedidos por universidades, empresas e órgãos públicos.
O grupo também identificou 84 bloqueios em estradas municipais, 13 em rodovias estaduais e 10 em rodovias federais. Entre as regiões em que ainda há equipes trabalhando estão São Luiz das Antas, Eulália, Linha Alcântara, Vale dos Vinhedos, 40 da Graciema e São Valentim.
Outra constatação do núcleo é de que a maioria das rupturas nos terrenos ocorreu a altitudes entre 400 e 500 metros. Segundo o geólogo Lucas Barbosa, responsável pelo departamento, esse comportamento se deve às características do solo da região.
— O contato de dois materiais ocorre normalmente por essas cotas. Muito embora o evento seja puramente hídrico, não fossem os volumes absurdos de chuva dificilmente isso ocorreria, pois o que observamos é que as declividades da ocorrência não são altas, por exemplo, o que dá o indício de que o fator gerador principal foi o peso do solo encharcado — explica.
Conforme Barbosa, não é possível afirmar no momento quantos dos pontos de deslizamento ainda podem ceder. As equipes estão avaliando todos os locais e, até o momento, a maioria apresenta riscos residuais. Os profissionais do núcleo também fazem análise geológica de casas afetadas pela movimentação do solo. Até o momento, 230 famílias já foram cadastradas.
Para fazer todo o acompanhamento, os especialistas contam com radares geotécnicos e instrumentos de monitoramento da movimentação do solo, alguns com transmissão de informações via satélite. A força-tarefa também tem servido para treinar servidores municipais para prevenir e lidar com situações semelhantes no futuro. Ainda não há definição se o núcleo será mantido após a crise, mas os equipamentos devem ser removidos quando o solo se estabilizar completamente.
— São equipamentos caros com operação também muito cara. Acredito que o conhecimento vai ser o maior legado. A troca de experiências e de conhecimentos é o que vai fazer com que estejamos preparados pra novos eventos no futuro — observa Barbosa.
Fonte: Pioneiro
Foto: Porthus Junior / Agência RBS
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