Escolas pré-fabricadas: conheça o modelo que pode ajudar a recuperar instituições destruídas no RS
Formato é visto pelos governos federal e estadual como possibilidade para dar agilidade a obras escolares no Estado após os danos causados pela cheia. O sistema utiliza processos nos quais os componentes estruturais são fabricados em oficinas e montados no local final
A construção industrializada, que envolve estruturas pré-fabricadas, pode ajudar a recuperar o sistema de ensino público atingido pela enchente no Rio Grande do Sul – ao menos é com isso que contam os governos federal e estadual, que realizam estudos sobre o assunto. A expectativa é de que o modelo permita uma agilidade maior a obras escolares que, com frequência, passam por interrupções e adiamentos de conclusão anos a fio.
Em nível federal, a metodologia ainda não está prevista em projetos financiados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mas uma mudança nesse sentido está em vista. Em evento realizado no início de junho pelo órgão, em conjunto com a Caixa Econômica Federal, foram apresentados potenciais, experiências e formatos desse tipo de construção. Em comum, as formas de aplicar o sistema construtivo usam processos nos quais os componentes estruturais são fabricados em oficinas, transportados até o local final e montados.
Em nota, o FNDE e o Ministério da Educação informaram que os diálogos e estudos sobre a possibilidade de uso dessa metodologia ainda estão sendo aprofundados, e que, “tendo em vista a necessidade do Rio Grande do Sul, este poderá ser um piloto”.
Durante o encontro “Inovar para reconstruir a educação brasileira – sistema construtivo industrializado”, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, destacou que a metodologia já é usada na área da habitação e trouxe agilidade:
— Hoje, na área da habitação, nós conseguimos fazer unidades habitacionais em 72 horas.
Um dos participantes do evento foi Luciano Formighieri, secretário-adjunto de Educação de Florianópolis, capital de Santa Catarina, município que, no ano passado, inaugurou uma escola com capacidade de atender 1,2 mil estudantes construída em 42 dias. A estrutura da instituição é modular, sustentável e tem 50 anos de garantia. No total, são mais de 3 mil metros quadrados de área construída, que comporta 18 salas de aula, biblioteca, sala informatizada, laboratório de Ciências e sala multimeios, entre outros setores. O investimento nessa construção foi de R$ 17 milhões.
Empresa que trabalhe com esse modelo construtivo não falta no Brasil – durante o encontro promovido pelo FNDE e a Caixa, 17 delas apresentaram suas metodologias. Um dos participantes, Alexandre Soares, da Visia, pontuou que um dos principais problemas na construção convencional é a falta de mão de obra.
— Não se consegue mais ter qualidade, prazo e entrega pelo modelo convencional — defendeu Soares, calculando que mais de 50 escolas modulares já foram feitas pela sua empresa.
O formato modular funciona como uma espécie de “Lego”, no qual estruturas vão se encaixando umas às outras, conforme a necessidade. André Stoinski, da Polibox Sistemas Construtivos, apontou a flexibilidade permitida pelos módulos, uma vez que podem ser movidos de um local para o outro.
— Na Califórnia, 30% das obras públicas têm que ser modulares, porque podem ser movidas. Aqui no Brasil, ainda temos muito essa característica de que tudo tem de ser perene. Mas as demandas mudam e a gente tem cidades se encolhendo e outras se expandindo. Então, há um espaço para essa mobilidade — observou o executivo, ressaltando que a demanda das escolas é para hoje, e não para daqui a dois anos.
Reconstrução ou realocação
Em levantamento, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) identificou 23 escolas que precisam ou ser reconstruídas, ou transferidas de lugar, por estarem em locais que sofrerão com novas inundações e que, portanto, não deveriam mais receber investimentos de infraestrutura pública. A pasta, no entanto, não divulga a lista dessas instituições, pois pretende estabelecer, antes disso, um plano de ação junto às comunidades escolares.
— Temos, dentro dessas 23, escolas com alto nível de criticidade em lugares onde a comunidade não está mais naquele local, escolas que serão absorvidas por uma instituição próxima e escolas que serão reconstruídas — descreve a secretária-adjunta estadual de Educação, Stefanie Eskereski.
No Vale do Taquari, uma parceria com a Universidade do Vale do Taquari (Univates) permitirá uma reformulação dos planos diretores dos municípios da região. A realocação e reconstrução das instituições de ensino nessas cidades dependerá dessa revisão prévia.
— A gente não vai poder dizer “Olha, eu vou colocar uma escola no terreno X, que é no centro da cidade”, se o centro da cidade pode mudar de lugar. Por isso, estamos tomando muito cuidado na hora de falar em reconstrução ou realocação de escolas — explica Stefanie.
Em um primeiro momento, a Seduc e as prefeituras apresentaram ao governo federal um diagnóstico inicial sobre a situação das escolas. Agora, as necessidades de cada instituição estão sendo detalhadas. A pasta também dialoga junto ao FNDE se os R$ 6 milhões já gastos pelo Estado em mobiliário, de forma emergencial, serão ressarcidos pela União, para que o Estado consiga usar essa verba para outros fins.
Sobre as escolas pré-fabricadas, a Seduc conta com um grupo de trabalho que estuda essa metodologia. Há, inclusive, projetos de construção de escolas indígenas já nessa modalidade, ainda inédita entre as instituições estaduais. Não há uma data para que o estudo completo sobre esse formato seja apresentado, mas a secretária-adjunta garante que a entrega acontecerá “o mais rápido possível”.
Além de modulares, as estruturas pretendidas pelo Estado deverão ser “sustentáveis e resilientes”, com condições de captação de água e painéis fotovoltaicos, por exemplo.
Fonte: GGZH
Foto: Sofia Leal / Prefeitura de Florianópolis / Divulgação
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