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Órgãos rodoviários prometem reforços em encostas da Serra para prevenir deslizamentos

  • Data: 04/Jul/2024

Quedas de barreiras ou do próprio leito da rodovia foram as principais causas de danos nas estradas da região. Na BR-470, entre Bento Gonçalves e Veranópolis, desmoronamento causou mortes

 

Problema já recorrente em períodos de chuva intensa ou prolongada, o deslizamento de encostas foi um dos principais impactos da catástrofe climática de maio na Serra. Desmoronamentos em série destruíram rodovias, isolaram cidades e causaram mortes. Dois meses depois, boa parte dos problemas emergenciais foram solucionados, mas a ocorrência de situações semelhantes no futuro depende de investimentos na prevenção das quedas de barreira, algo que agora os órgãos rodoviários prometem priorizar. Caso existissem mais estruturas de contenção ou gestão de risco mais criteriosa, os efeitos da chuva poderiam ter sido atenuados.

Duas características da região acentuam o risco de deslizamentos. Uma delas é o relevo acidentado. A outra é o revestimento desse terreno irregular, com o solo recobrindo as rochas.

— Essa água que entra entre a rocha e a terra é que faz o escorregamento de todo o maciço. A água penetra na terra, encharca ela, deixa com um peso maior, e lava essa parte entre a rocha e a terra — explica o superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio Grande do Sul, Hiratan Pinheiro da Silva.

As rodovias federais, administradas pelo Dnit, apresentaram grandes danos. A BR-116, que já passava por obras de recuperação no km 181, em Nova Petrópolis, por conta de um deslizamento há um ano, teve outras quedas de barreira e parte da pista levada pela água. Na BR-470, a montanha deslizou em vários pontos entre Bento Gonçalves e Veranópolis, deixando pelo menos cinco mortos e ilhando outros usuários.

Conforme Hiratan, após o trabalho de desobstrução e acesso das equipes técnicas aos pontos de deslizamento, teve início um levantamento de dados para projetar reparos definitivos. Entre as medidas que podem ser adotadas estão muros de concreto, cortinas atirantadas (contenção em concreto fixada na rocha com barras metálicas), telas de proteção e concreto jateado, por exemplo. A solução a ser adotada varia de acordo com as características de cada ponto.

— Depende do volume de material que vai ser contido e também se tem local para apoiar, quando a contenção vai ser feita. O importante é manter uma drenagem, evitar que a água faça pressão — explica Hiratan.

A recuperação das encostas será realizada a partir da destinação de R$ 1,2 bilhão por parte do governo federal. O recurso já está disponível e custeando, entre outras ações, os estudos das encostas e a reconstrução da ponte sobre o Rio Caí na BR-116, entre Caxias e Nova Petrópolis. O trabalho preventivo também deve se debruçar sobre pontos que não deslizaram em maio, mas que podem oferecer esse risco no futuro. Nesses casos, além de eventuais reforços na encosta, também se planeja a implantação de dispositivos de monitoramento do solo, seja pela contratação de empresas, por instalação de dispositivos próprios e também por imagens de satélite.

— A gente espera que daqui um ano e meio, no máximo dois anos, a gente tenha todas as obras de contenção, onde houve o escorregamento em maio, concluídas. Onde é necessário, mas não é um local que escorregou, a gente vai planejar ela para ser feita ao longo do tempo — afirma o superintendente.

Ações em rodovias estaduais

Nas rodovias administradas pela concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), os principais danos foram registrados na RS-122, com grandes deslizamentos de encostas. O contrato de concessão, iniciado em fevereiro de 2023, prevê monitoramento e ações preventivas, que devem ser adotadas ao longo do tempo. A maior parte dos paredões, inclusive, ficam em trechos que serão duplicados nos próximos anos e poderão sofrer intervenções para adequar o terreno à nova realidade da rodovia.

Conforme o diretor-presidente da CSG, Ricardo Peres, as encostas já vinham sendo analisadas, mas o curto tempo de contrato ainda não permitiu um mapeamento completo. Atualmente, equipes da empresa atuam na estabilização dos trechos afetados e mantêm conversas com o governo do Estado para adotar soluções definitivas e preventivas.

— Estamos desenvolvendo estudos para propor trabalhos mais intensos nos locais, como contenções, além da proposição de ações preventivas em outros pontos, ainda desconhecidos, que possam ter chance de deslizamentos. A CSG também está em fase de instalação de estações meteorológicas no trecho sob concessão para montar um plano de contingência para melhorar a segurança em caso de volume de chuva muito intenso em um curto período de tempo — detalha.

O Pioneiro entrou em contato com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. No dia 18 de junho, o diretor-geral do órgão, Luciano Faustino, disse em visita a Bento Gonçalves que a RS-431 receberá trabalhos de contenção por meio de uma contratação emergencial. Entre as administradas pelo Daer na região, a rodovia, que liga Bento a Dois Lajeados, está entre as mais impactadas. 

Monitoramento é fundamental

Para Bruno Susin, professor de Engenharia Civil na Universidade de Caxias do Sul (UCS), com atuação em geologia aplicada à engenharia, não basta apenas construir as estruturas, seja contenção de encostas ou as próprias rodovias. Para manter a segurança do tráfego, é fundamental monitorar e resolver problemas que eventualmente possam surgir, como entupimentos em sistemas de drenagem, por exemplo.

— Precisamos pensar e entender que a engenharia existe também na operação das estruturas. Esquecemos disso, mas o maior custo da Engenharia Civil está na operação. O que que é mais barato? Eu ir recolher as pedras que caem do talude todos os anos? Se fico 10 anos fazendo isso, vou gastar R$ 1 milhão. Ou, então, hoje eu pego esse R$ 1 milhão, projeto e executo uma contenção ali para não cair mais pedras? — questiona.

Na avaliação do professor, o Brasil perdeu o rigor técnico que já teve no passado com obras de engenharia.

— Acho que o momento agora é ímpar, a gente tem que retomar isso — destaca.

 

Fonte: Pioneiro

Foto: Bruno Todeschini / Agência RBS

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