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Movimentos repetitivos e falas involuntárias: conheça a síndrome de Tourette

  • Data: 06/Ago/2024

Distúrbio neuropsiquiátrico causa disfunção bioquímica no cérebro e resulta em tiques nervosos e vocais, que em casos raros podem ser obscenos. Suporte psicológico, terapia cognitivo-comportamental e medicamento auxiliam a controlar os sintomas

Uma alteração bioquímica no cérebro que resulta em gestos repetitivos e expressões vocais involuntárias, assim caracteriza-se a síndrome de Tourette. Classificada como um distúrbio neuropsiquiátrico, a doença causa constrangimento, estresse excessivo e afeta a qualidade de vida dos pacientes, mas pode ser tratada adequadamente e tem baixo índice de morte.

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome de Tourette acomete cerca de 1% da população mundial – aproximadamente 80 milhões de pessoas. Extremamente raroo distúrbio não tem cura e ainda não há evidências científicas que comprovem a sua origem.

Uma das hipóteses para causa da síndrome de Tourette é de que há uma desregulação na ação da dopamina, o que causa “hiperatividade” em algumas regiões do cérebro, explica Carlos Rieder, neurologista da Santa Casa de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Como resultado desta alteração bioquímica, o paciente apresenta tiques motores e vocais, com repetição de movimentos, gestos e frases, de forma involuntária.

— A síndrome de Tourette é um conjunto de manifestações motoras, que são chamadas de tiques e que podem ser variados em diferentes partes do corpo e devem ser associados com tiques vocais (...) Do ponto de vista cerebral, não tem nenhuma alteração estrutural, nada degenerativoÉ uma disfunção em nível bioquímico, em que áreas dopaminérgicas tem atividade aumentada, como se houvesse perda da inibição para fazer este movimento — diz Rieder. E pondera, ainda, que o distúrbio é caracterizado quando pacientes apresentam os sintomas durante mais de um ano, de forma descontrolada e em excesso, diferentemente dos “maneirismos”, gestos habituais que repetimos.

Há três formas de classificação do distúrbio, que são definidas a partir de como a doença se manifesta no corpo do paciente. Cada uma considera características distintas dos tiques: se são motores, vocais e obscenos – casos mais raros em que há repetição de gestos e palavras de xingamento.

  • Copraxia: tiques motores com repetição excessiva de gestos/movimentos
  • Ecolalia: uso involuntário de palavras
  • Copralia: repetição de frases de xingamentos e gestos obscenos

— Tem uma situação chamada coprolalia, em que os pacientes vão dizer palavrões, dizer nomes. Há filmes que usam isso como uma coisa meio estereotipada, mas isso aí não é uma situação comum, é muito raro. Tem formas mais intensas que causam muito constrangimento nas relações sociais, nas relações interpessoais e profissionais — conta Rieder ao salientar que a condição não tem relação com o sistema nervoso, mas sim com a química cerebral.

Diagnóstico

Não há um exame específico realizado para identificar a síndrome de Tourette. O diagnóstico é totalmente clínico, a partir da análise e observação dos sintomas por um especialista.

Rieder destaca que os tiques motores são comuns durante a infância, especialmente na faixa etária entre seis e nove anos. Estas manifestações fazem parte do processo de maturação cerebral, então são classificadas como tiques motores simples e benignos, com tendência de desaparecer durante a fase adulta, explica o neurologista.

— Se começa a intensificar, se ficar mais grave, aí deve ser reavaliado. É importante sempre salientar que são, na maior parte, benignos que não vão evoluir. Mas alguns podem aumentar e se tornar mais generalizados, múltiplos. Não tem fatores que a gente possa prever se vai evoluir ou não.

Tratamento

Apesar de não haver cura para a síndrome de Tourette, é possível controlar o distúrbio a partir de administração de medicamentos e terapia cognitivo-comportamental. Em alguns casos, devido as situações de estresse e constrangimento, é necessário um acompanhamento psicológico também.

Neste panorama, Rieder destaca que é necessário educar sobre a doença para evitar casos de bullying, especialmente entre crianças na escola, sendo este o primeiro passo do tratamento. A utilização de medicamentos varia com a gravidade de cada caso, com diagnósticos em que é possível controlar os tiques motores a partir de terapia cognitivo-comportamental – método que trabalha a reconstrução de emoções a partir de sentimentos do paciente.

Para controlar diretamente o distúrbio, em casos mais intensos, indica-se o uso de medicamentos neurolépticos ou antipsicóticos – que bloqueiam a ação da dopamina no cérebro. Outro método em casos graves é o implante de eletrodos colocados em regiões estratégias do cérebro, mas com necessidade de realização de uma neurocirurgia.

— Com o eletrodo é possível modular o cérebro para corrigir o excesso ou falta de dopamina. É um núcleo que vai atuar inibindo o excesso dessa atividade dopaminérgica. Mas são os casos raros de estimulação cerebral profunda — explica o neurologista.

Rieder reafirma que os tratamentos apresentam boa eficácia e a síndrome de Tourette, unicamente, não é fatal. Conforme o neurologista, os raros casos de lesões atrelados ao distúrbio são decorrentes de ferimentos causados por tiques motores descontrolados e intensos, não propriamente pelo efeito do Tourette na bioquímica cerebral.

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: Lila Patel / stock.adobe.com

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