No aguardo de obras de recuperação do Salgado Filho, número de passageiros cai 92,7%
Queda refere-se à comparação do movimento de maio e junho deste ano em relação ao mesmo período de 2023. Nesse cenário, setor de cargas acha soluções paliativas, mas custosas, enquanto o de viagens aguarda autorização para o início da venda de passagens
A 74 dias da data prevista para reabertura parcial do aeroporto Salgado Filho, o fluxo de passageiros na região metropolitana de Porto Alegre continua longe do registrado em um passado recente. O número de pessoas transportadas por via aérea caiu 92,69% no acumulado de maio e junho deste ano, primeiros dois meses sem o terminal da Capital, ante igual período de 2023.
O total de pessoas usando aviões para viagens no período mais atual é apenas 7,3% do montante observado no mesmo recorte de tempo do ano passado. Nesse cenário, o setor de cargas acha soluções paliativas, mas custosas, e o setor de viagens aguarda anúncio das autoridades e da Fraport para começar a vender passagens direto de Porto Alegre.
Esta reportagem faz parte de uma série que mostra como está a reconstrução do Estado em oito áreas essenciais (veja abaixo o cronograma). Os dados são do Painel da Reconstrução, do Grupo RBS.
No acumulado de maio e junho de 2024, 88 mil passageiros circularam pela Grande Porto Alegre — que atualmente conta com operação na Base Aérea de Canoas — por via aérea. No mesmo período de 2023, foram 1,205 milhão de pessoas, segundo dados do painel.
Com a pista do Salgado Filho interrompida, em meio a obras de recuperação, viajantes que precisam sair ou chegar ao Estado recorrem à malha emergencial estabelecida no Interior e em Santa Catarina. No entanto, essas opções contam com passagens mais caras, menos opções de horário e viagens mais demoradas.
Presidente da Associação das Agências de Viagens do Rio Grande do Sul (Abav-RS), João Augusto Machado afirma que é difícil estimar com maior precisão o início da venda de passagens na Capital. Ele avalia que uma clareza maior sobre a oferta de voos deve ocorrer ao longo deste mês:
— A partir daí, a gente vai ter uma definição maior de como vai ser isso. Acho que é uma questão de alguns dias de ajustes, de sistemas, mas creio que até o final de agosto a gente vai ter esse cenário bem desenhado, porque vamos estar próximos do início da comercialização dos voos.
Enquanto o número de passageiros na Região Metropolitana apresenta forte queda, terminais da malha emergencial apresentam salto na operação. No aeroporto de Florianópolis, por exemplo, o total de passageiros cresceu 24,19% no acumulado de maio e junho ante o mesmo período do ano passado. Em Caxias do Sul, a alta foi de 60,33%.
Próximos meses
Indústria que produz medicamentos de uso veterinário relata aumento nos custos logísticos.Hipra Saúde Animal / Divulgação
Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), divulgado nas últimas semanas, aponta que a interrupção do funcionamento do Salgado Filho deve gerar uma queda de aproximadamente R$ 580 milhões (cerca de US$ 107 milhões) nas exportações e importações que utilizariam o terminal de cargas ao longo de 2024.
O impacto do fechamento do aeroporto é sentido por empresas dos mais diversos setores. Diretor da Hipra Saúde Animal, indústria que produz medicamentos de uso veterinário, Carlos Roses relata grande aumento nos custos logísticos devido à necessidade de importar vacinas e insumos para a produção.
— O impacto do fechamento do aeroporto foi enorme em termos logísticos, tanto nas nossas entregas como nas importações. Tivemos um aumento de aproximadamente 50% nos custos logísticos — diz.
Transtornos também são relatados pela empresária Darlene Alves, proprietária de uma confecção sediada em Cachoeirinha, a DeClari. Ela faz compras de acessórios e aviamentos via transporte aéreo e estima em cerca de 30% o prejuízo causado pela ausência do Salgado Filho.
— O lojista está tendo mais dificuldade, principalmente o lojista da Serra, onde o turista não está vindo. Então, consequentemente, isso afeta a gente, porque se o lojista não vende, ele não compra da gente.
O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Câmara Log), Paulo Menzel, afirma que não basta apenas reiniciar a operação completa do aeroporto para retomar o fluxo de cargas observado antes da enchente. Como o escoamento e a entrada de produtos ocorrem em outros locais atualmente, é necessário reconquistar essa demanda nos próximos meses:
— A demanda foi para outro lugar. Eu preciso mostrar para o importador e exportador que ele vai ter tarifas competitivas para voltar a operar no Salgado Filho. Mas o importador e o exportador têm de ter a certeza de que essa carga que ele vai destinar ao Salgado Filho vai voar. Não vai ficar no chão 10, 15 dias para juntar mais um tanto de carga para daí fazer o voo.
No âmbito dos passageiros, o presidente da Abav-RS estima que a demanda será impulsionada assim que começar a comercialização de bilhetes:
— Tenho certeza absoluta que a gente vai ter um incremento de vendas a partir do momento que houver muito mais voos. Esses voos vão ser rapidamente preenchidos, porque as viagens de negócio vão voltar, as pessoas vão poder voltar a fazer viagens rápidas, ir a São Paulo e voltar no mesmo dia, finais de semana. É uma expectativa muito grande que a gente tem por essa definição.
Obras no aeroporto
Enquanto não há uma definição sobre o início das vendas de passagens, a Fraport segue atuando na reabilitação do terminal, que foi dividida em três fases. No momento, ocorrem as obras de recuperação da pista de pouso e decolagem.
A Fraport não informa o percentual dos trabalhos, mas destaca que está no cronograma previsto — que estipula operação parcial na pista em outubro. Em dezembro, deve ocorrer a operação total da pista.
O ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, afirma que a prioridade agora é acelerar o início da venda das passagens. A expectativa, segundo ele, é de que os bilhetes para voos nacionais comecem a ser vendidos na segunda quinzena de agosto.
— Tudo isso está dentro do nosso cronograma, e eu espero que, até dezembro, a gente tenha o aeroporto funcionando plenamente, inclusive com os voos internacionais — projeta.
A recuperação da pista
Fase 1 - Concluída
Foi realizada a limpeza e avaliação dos danos no complexo. Também foi avaliada a integridade da pista de pouso e decolagem. O estudo apontou a necessidade de reconstrução parcial de mais de 2 mil metros da pista.
Fase 2 - Em andamento
Será feita a recuperação das áreas de pouso e decolagem afetadas. São 1,3 mil metros de extensão (equivalente a 60 mil metros quadrados) da pista de pouso e decolagem, 20 mil metros quadrados do pátio 1, local onde as aeronaves ficam estacionadas e a taxilane do Pátio 1 (Posições 06 a 011, equivalente a 20 mil metros quadrados).
Também conta com intervenções nos taxiways: D (16,3 mil metros quadrados), F (4.2 mil metros quadrados), M4 (2,2 mil metros quadrados). Essa etapa iniciou em 13 de julho com o trabalho de fresagem da pista e tem previsão de encerrar em outubro.
Fase 3 - Começa em outubro
Prevê intervenções em áreas sem movimentação de aeronaves. Nesta etapa, está prevista a recuperação em áreas da pista e em faixas de estacionamento e de manobras de aeronaves. Também será feita a fresagem em parte do pavimento.
Fonte: Fraport
A série de reportagens
- 7 de agosto - Crédito ao setor produtivo
- 8 de agosto - Aeroporto Salgado Filho
- 9 de agosto - Escolas públicas
- 12 de agosto - Hospitais
- 13 de agosto - Rodovias
- 14 de agosto - Moradias
- 15 de agosto - Prevenção contra enchentes
- 16 de agosto - Ajuda social
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Fraport Brasil / Divulgação
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