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Como a fumaça das queimadas afeta a saúde? Especialistas da Serra esclarecem

  • Data: 12/Set/2024

Reflexos se devem à diminuição da qualidade do ar. Queima libera gases como dióxido de enxofre (SO2) e monóxido de carbono (CO), que podem agravar doenças 

fumaça das queimadas, que tem encoberto municípios da Serra – e grande parte do Brasil –, causa preocupação não só entre ambientalistas, mas também entre médicos e especialistas em saúde. Em Caxias do Sul, o céu cinzento e o sol avermelhado dos últimos dias confirmam a mudança na qualidade do ar, reflexo do avanço das fumaças dos incêndios que atingem o centro-oeste do país e países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Paraguai.

Composta por gases tóxicos, a fumaça das queimadas carrega consigo monóxido de carbono (CO) e material particulado fino (PM2.5), ou seja, partículas minúsculas que são suspensas no ar. Todos esses componentes são altamente prejudiciais à saúde e podem agravar doenças respiratórias e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

— Essas partículas finas, como a PM2.5 (partículas finas inaláveis, com diâmetros geralmente de 2,5 micrômetros e menores), são pequenas o suficiente para penetrar profundamente nos pulmões e até mesmo nas correntes sanguíneas. Como consequência de uma grande concentração dessas partículas, podemos ter o aumento das doenças cardiovasculares, que estão relacionadas ao aumento da pressão arterial, arritmias e ataques cardíacos, além de doenças respiratórias, como asma, bronquite e enfisema pulmonar — alerta a coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Renattá Cornelli.

 

Ainda conforme Renattá, as partículas maiores, chamadas de PM10 (com diâmetro de 2,5 a 10 micrômetros) acabam se depositando principalmente nas vias aéreas superiores, o que pode ocasionar irritação nos olhos, garganta e nariz, tosse, dificuldade para respirar, além do agravamento das doenças respiratórias existentes.

A fumaça aumenta drasticamente a quantidade de material particulado no ar. O pneumologista Fabrício Fortuna, de Caxias do Sul, também alerta que o aumento da concentração deste material pode causar problemas no coração.

— Isso já foi medido em outros países por ocasião de incêndios florestais, e causam, além das doenças respiratórias, as cardiovasculares. Pode haver aumento de casos de infarto, de parada cardíaca, de internações por asma, ou sintomas crônicos como tosse, rinite, irritação do rosto, congestão nasal, dor facial, garganta seca, coriza, espirros, chiado no peito e falta de ar — afirma Fortuna.

Porthus Junior / Agencia RBS

Fumaça encobre o céu de Caxias do Sul nos últimos dias.Porthus Junior / Agencia RBS

Projeção via satélite que analisa a concentração de fumaça sobre a atmosfera, feita pela agência suíça IQAir, indica que o material fino presente no ar de Caxias do Sul, entre às 13h e 14h de quarta-feira (11), era 11 vezes superior ao nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A qualidade do ar na cidade foi classificada como "insalubre para grupos sensíveis", com 149 de IQA em uma escala que vai de 0 a 500; quanto maior o número, pior a condição.

Cuidados com a saúde

Algumas ações preventivas, por menores que possam parecer, são importantes para prevenir futuros problemas de saúde, principalmente os respiratórios. O pneumologista Fabrício Fortuna afirma que os cuidados devem ser tomados pelas próprias pessoas, já que o problema está na atmosfera.

— Manter as janelas de casa fechadas neste período, utilizar umidificadores dentro de casa. Quando andar de carro, estar com as janelas fechadas, pois já temos a poluição das vias públicas. Além disso, estar com o ar-condicionado ligado no modo de recirculação com filtro — recomenda o médico.

Fortuna reforça que, quanto menos as pessoas se exporem ao ar, melhor será para a manutenção da saúde. Outra recomendação é beber mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório úmido e mais protegido.

Expectativa para os próximos dias

O sol com tonalidade mais avermelhada também tem chamado a atenção dos caxienses nesta semana. Conforme a professora Renattá Cornelli, o sol adquire essa cor devido às mudanças de comprimento de onda.

— A luz solar é composta por diversas cores, porém, quando ela encontra essas partículas na atmosfera, ocorre esse fenômeno chamado de dispersão da luz, onde diferentes comprimentos de onda, como o vermelho e o laranja, que são menos dispersados, acabam conseguindo atravessar a atmosfera com mais facilidade. Essas partículas atuam como esse filtro, dispersando cores de menor comprimento de onda — explica.

A luz solar espalha-se na nuvem formada com vestígios das queimadas, há cerca de 1,5 mil metros de altitude na atmosfera, e reflete em direção ao sol, que fica com coloração mais avermelhada, especialmente ao amanhecer e ao fim das tardes.

A coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da UCS, Renattá Cornelli, sintetiza que a movimentação de fumaça é favorecida pelos chamados rios voadores, nome dado às correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões da América do Sul.

A estimativa da Climatempo é de que o céu deve seguir acinzentando e com sol avermelhado pelo menos até 18 de setembro, pois a onda de calor que atinge parte do Rio Grande do Sul e se estende por Estados do centro-oeste e sudeste do Brasil, favorece a ocorrência de novos incêndios e, consequentemente, a circulação de mais fumaça na atmosfera. Entretanto, Renattá acredita que a fumaça permanecerá pelo menos até final de outubro.

— Essa fumaça acabará se dissipando em função dos ventos. O período de seca na região norte e centro-oeste vai até final de outubro. Então, eu acredito que isso ainda vai demorar, mas espero que, em virtude das mudanças das massas de ar, esses eventos acabem sendo minimizados aqui para a nossa região. Mas, infelizmente, nessas outras regiões, eles ainda vão acabar sofrendo com as emissões atmosféricas, com perda da biodiversidade e degradação do solo — finaliza.

Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH

Foto: Porthus Junior / Agencia RBS

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