Transplante de córnea dá nova oportunidade de vida
Com tempo de espera de até um ano para receber o órgão, oftalmologista sinaliza a necessidade de maior conscientização
Por mais que o transplante de córnea seja uma cirurgia segura e difundida, o procedimento ainda carece de doadores. A constatação é do médico oftalmologista Juliano Pretto, cooperado da Unimed Porto Alegre. Conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), 1.084 pessoas aguardavam por uma doação de córnea no Rio Grande do Sul, em agosto.
O médico, que também é vice-presidente da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (Sorigs), comenta que a doação pode beneficiar mais de uma pessoa.
Pretto salienta que todo paciente é um potencial doador de córneas. Diferentemente de outros órgãos, os tecidos têm a particularidade de serem extraídos de pacientes que tiveram parada cardiorrespiratória (grande parte dos óbitos registrados). No entanto, a falta de informação por parte da população é um fator para que o tempo de espera de doação seja alto. Segundo a Central Estadual de Transplantes (CET/RS), esse tempo pode chegar a até um ano.
— Quando se pergunta aos familiares se o paciente vai ser doador ou não, quase 50% se sentem impedidos de tomar essa decisão por não saberem o desejo do seu ente querido — constata.
Mesmo assim, o número de transplantes de córnea realizados no Rio Grande do Sul registrou aumento no primeiro semestre deste ano, segundo o Ministério da Saúde. Dados do governo federal apontam que o Estado realizou 395 procedimentos entre janeiro e junho de 2024, superando os 387 realizados no mesmo período do ano passado.
O médico explica que a parte branca do olho, a esclera, pode ser usada para cirurgias de reconstrução do órgão. Já a córnea é utilizada no procedimento cirúrgico chamado de ceratoplastia penetrante (que substitui o tecido do receptor em sua totalidade) ou lamelar (em que o tecido é substituído parcialmente).
Segundo o médico, depois de adotada a técnica de transplante endotelial de córnea (retira-se apenas a parte interna do tecido, o endotélio) para alguns tipos de doenças, o resultado foi superior comparado ao transplante penetrante. Isso se deve à parte do tecido saudável do paciente que é preservada.
— Existe uma menor rejeição do corpo. A taxa de sucesso é muito alta e menos invasiva, apesar de ser uma cirurgia tecnicamente mais delicada — ressalta.
Coleta e prevenção
Para a doação da córnea, uma equipe faz uma entrevista com o familiar e verifica se tem algum tipo de contraindicação, como infecções por HIV ou Hepatite C. São poucas as condições que impedem a utilização das córneas (doenças oculares como glaucoma, catarata, miopia e astigmatismo não impedem a doação, assim como diabetes, hipertensão e câncer, exceto as leucemias). Após esta etapa, é feita a coleta, que é direcionada ao banco de olhos que faz o processamento e a preservação desses tecidos.
— Trabalha-se em todas as pontas do ecossistema do transplante para tentar melhorar a fila de espera — pontua.
Para prevenir doenças relacionadas aos olhos, o médico enfatiza que a consulta oftalmológica vai além de uma verificação do grau das miopias, hipermetropias e astigmatismo. Ela é composta por exames que avaliam a saúde geral do paciente.
— As revisões periódicas são importantes, mesmo sem nenhum tipo de sintoma. Às vezes, já pode estar com uma doença em um estado grave — alerta.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Zarina Lukash / stock.adobe.com
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