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Com queda de 26,5%, safra da uva de 2024 no RS tem o maior decréscimo desde 2016

  • Data: 15/Out/2024

Fatores interligados, como excesso de chuva e aparecimento de doenças de difícil manejo em clima chuvoso, contribuíram para redução em relação a 2023

A safra de uva para industrialização,  maioria em relação à fruta disponibilizada para o consumo, teve uma acentuada queda na safra 2024, conforme revelam dados divulgados pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Com 485,5 milhões de quilos de uvas colhidas, a colheita foi 26,58% menor do que a de 2023 (719 mil toneladas) e é a menor desde 2016 (303 mil toneladas, e uma queda de 57% em relação ao ano anterior). 

O excesso de chuvas na primavera ocasionado pelo fenômeno El Niño, e as doenças fúngicas, como o míldio,- cujo manejo fica prejudicado com dias chuvosos consecutivos, são alguns dos fatores responsáveis pela diminuição da produção - explica Fabíola Lopes, chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Seapi.

Com pequenas variações entre as regiões que concentram a maior parte da produção no Estado, como Serra, Campos de Cima da Serra, Planalto e Campanha, o cenário de perda foi homogêneo. O prejuízo se reflete tanto nas variedades viníferas (24,5% a menos do que em 2023), utilizadas para a elaboração de vinhos finos, quanto nas americanas ou híbridas (41,05%), com as quais se elaboram vinhos de mesa.

Maior cooperativa vinícola do Brasil, a Aurora, de Bento Gonçalves, teve perdas um pouco maiores do que a média estadual, na casa dos 28%, de acordo com Maurício Bonafé, engenheiro agrônomo e gerente agrícola da empresa. A perda na quantidade, no entanto, não significa que irá se perder também em qualidade, segundo o especialista:

Neimar De Cesero / Agencia RBS

Safra foi caracterizada por bom volume de uva, porém com muitos cachos prejudicados devido a doenças de difícil manejo em clima chuvosoNeimar De Cesero / Agencia RBS

- Nós tivemos um início de brotação em que as videiras mostraram um potencial muito bom, porém o excesso de chuvas foi prejudicial, principalmente para o controle de doenças que requerem um tempo mais seco. O resultado é que a gente via os vinhedos com um bom volume de uvas, porém na hora de pesar o rendimento ficava abaixo. Cachos mais rasos, com poucos grãos, ainda que com uma qualidade boa. É importante destacar que, na parte qualitativa, a uva está muito boa. Especialmente as uvas brancas estão com teor de acidez e açúcar muito adequado. Isso porque o mês de fevereiro, com menos chuva, ajudou muito a produção das variedades mais tardias, como Merlot, Cabernet Franc e Tannat. Todas elas irão atender o padrão de qualidade que a indústria exige.

Num recorte dos últimos 10 anos, a safra de 2024 na Aurora (50,2 mil toneladas) só é maior que a de 2016 (33,6 mil toneladas). Bonafé destaca que, quando se trabalha com uma cultura a céu aberto, é normal que haja anos melhores e piores. Quando já se sabe que uma safra terá decréscimo, o que se faz é ajudar o produtor a reduzir danos:

O impacto em volume sempre ocasiona impacto financeiro, porque o produtor recebe pelo quanto ele colhe, principalmente. Mas quando já se trabalha previamente com um cenário que pode ocasionar perdas, nós procuramos levar ao associado todo um conjunto de técnicas para buscar a redução de gastos durante a safra, para que ao final o impacto não seja tão negativo. Se num ano de perspectiva boa de quantidade acaba se investindo mais em alguma situação, quando a expectativa é contrária, existe também uma margem de readequação dos gastos.

Sem impacto na produção ou no preço da uva

Uma safra reduzida não ocasiona, necessariamente, uma retração na produção e um consequente aumento de preço para o consumidor. O presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Daniel Panizzi, explica que a alternância entre colheitas mais e menos robustas contribuem para a regulação dos estoques nas vinícolas.

Nós trabalhamos com uma produção cíclica. Quando uma safra tem um percentual de perda, não há um impacto direto e imediato em todos os produtos. O espumante que está sendo engarrafado neste ano, por exemplo, será vendido daqui dois anos. Especificamente nos últimos anos, por conta da pandemia e do pós-pandemia, as vinícolas ficaram com um estoque residual em casa, que esta queda de safra irá regular - explica Panizzi, que também é diretor da vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira.

Panizzi ressalta, contudo, que o suco de uva é um produto que já passa por um reajuste de preço devido à queda na produtividade das parreiras na última safra:

- Este é um produto específico que não teve retração e que os estoques ficaram mais baixos e houve medo de falta do produto. Isso ocasionou um impacto no preço da compra pelas empresas junto ao produtor, e que naturalmente foi repassado ao consumidor final. 

Mais números

Ainda de acordo com os números divulgados pela Seapi, a elaboração de vinhos em 2024 teve uma redução de 42% no total quando comparada à safra anterior. O decréscimo na elaboração de vinhos de mesa foi de 39%, enquanto os vinhos finos tiveram redução de 51%.

A elaboração total de base para espumante e de espumante apresentou redução de 23,12%. Os produtos orgânicos também tiveram redução na safra 2024, registrando queda de  21% na produção de sucos e 84% na elaboração de vinhos orgânicos.

A produção de sucos de uva, por outro lado, teve um aumento de 73% quando comparada à safra anterior, enquanto o suco concentrado experimentou uma redução de 43%.

Todos os dados são obtidos por meio das informações prestadas pelos estabelecimentos vinícolas no Sistema de Declarações Vinícolas (Sidevin) da Seapi. A divulgação no segundo semestre é porque o prazo para envio dos dados é até julho.

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: Neimar De Cesero / Agencia RBS

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