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Oito municípios da Serra já superaram os números de mortes violentas do ano passado

  • Data: 06/Dez/2024

Estatística compara os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado em todo o ano de 2023 com os primeiros 10 meses de 2024

Antônio Prado, Canela, Cotiporã, Garibaldi, Veranópolis, Ipê, Pinhal da Serra e União da Serra já registraram, em 10 meses de 2024, mais mortes violentas do que todo o ano de 2023. Dentre elas, Antônio Prado e Veranópolis tiveram os maiores aumentos proporcionais na comparação do ano passado com os indicadores criminais do governo do Rio Grande do Sul divulgados em 1º de dezembro de 2024. 

Bento Gonçalves, por sua vez, na estatística até outubro, já se igualou ao número de mortes do ano passado: 33. Mas, quando somadas três casos de novembro, ultrapassam em 9%, de 33 para 36.

governo do RS contabiliza como crimes violentos letais intencionais (CVLI) vítimas de homicídio doloso de trânsito, aborto, induzimento/auxílio ao suicídio, infanticídio, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial, lesão corporal seguida de morte, feminicídio, homicídio doloso e latrocínio. 

Confira os números de cada município da Serra onde houve aumento, na comparação entre 2023 e os 10 primeiros meses de 2024:

Antônio Prado (+200%)

  • 2023: 2
  • 2024: 6

Veranópolis (+200%)

  • 2023: 1
  • 2024: 3

Cotiporã (+100%)

  • 2023: 1
  • 2024: 2

Canela (+40%)

  • 2023: 5
  • 2024: 7

Garibaldi (+33%)

  • 2023: 6
  • 2024: 8

Bento (até outubro de 2024)*

  • 2023: 33 
  • 2024: 33 

Ipê e União da Serra, em 2023, não registraram mortes violentas e, em 2024, tiveram um caso cada. Já Pinhal da Serra, que também não teve morte no ano passado, neste ano já registrou duas. 

*Obs.: na estatística do ano passado inteiro comparada com outubro deste ano, Bento teve 33 mortes. Mas, se comparado com novembro de 2024, quando houve mais três casos, o município também supera 2023.

Disputa pelo tráfico

Em Antônio Prado, um dos municípios que mais registraram crescimento no número de casos no comparativa do ano passado até outubro deste ano, as autoridades atribuem aos conflitos entre traficantes de drogas como o principal motivador para o aumento significativo. Conforme o delegado titular da Polícia Civil no município, Luciano Righês Pereira, os seis crimes ocorreram ainda no primeiro semestre, entre janeiro e abril. Na cidade, duas facções criminosas atuam e disputam território entre si.

— Utilizamos o protocolo de dissuasão focada para combater o aumento do delito de homicídio, que consiste nas operações conjuntas da Polícia Civil e da Brigada Militar e na remoção de lideranças das facções criminosas dos presídios da região  detalha Pereira. 

Operação Montese foi a principal ação em combate aos homicídios e teve duas fases. Em uma delas, realizada no mês de abril em Estrela, no Vale do Taquari, houve apreensão de adolescentes, armas e drogas, devido ao envolvimento em um dos homicídios acontecidos no município da Serra.

Ainda conforme Pereira, apesar da rápida ação de resposta, a polícia de Antônio Prado enfrenta a falta de estrutura adequada para o trabalho. Desde janeiro, o prédio da instituição foi interditado devido a problemas estruturais. Com isso, a equipe já precisou se mudar em duas oportunidades. 

— Atualmente, estamos instalados em uma sala cedida pela prefeitura, no prédio da UBS Aparecida, enquanto são finalizados os trâmites administrativos para aluguel da nova sede. Sem data ainda definida para conclusão. 

falta de pessoal também é outro problema enfrentado, conforme o delegado, apenas dois servidores atuam em Antônio Prado. 

A equipe do Pioneiro questionou direção da Polícia Civil do Rio Grande do Sul sobre investimentos para melhorar a estrutura em Antônio Prado, mas não recebeu um retorno até a publicação reportagem. O texto será atualizado quando houver a resposta. 

Números crescentes

Em Bento Gonçalves, segunda maior cidade da Serra, em todos os meses do ano aconteceram crimes. Abril e agosto foram os que mais registraram mortes até então, seis cada. A soma de crimes violentos envolve homicídios, confronto com a polícia, latrocínio e um aborto, conforme o delegado de Polícia Civil Éderson Bilhan.

Há três casos sob investigação: o cadáver de uma mulher encontrado no bairro Aparecida, em agosto; um cadáver encontrado em avançado estado de decomposição no Rio das Antas, em outubro; e outro em mata no Bairro Maria Goretti, também em outubro.

No município, segundo o delegado, o tráfico de drogas também é a principal causa dos crimes violentos. Porém, diferentemente de Antônio Prado, onde duas organizações criminosas brigam por espaço, em Bento, uma facção é mais atuante e os integrantes dela matam-se entre si. Porém, mesmo acontecendo casos todos os meses, o delegado acredita que a situação no município é estável. 

— Se observarmos o contexto geral do ano, se mantém num padrão de normalidade. Os meses em que mais tivemos crimes foram seis, então, para o número de habitantes de Bento, está dentro do contexto. Claro, o ideal seria não ter nenhum, mas do ponto de vista dos outros anos, estamos no que é aguardado — destaca Bilhan.

Em resposta à criminalidade, o delegado afirma que já foram feitas diversas operações de sufocamento nos ambientes comuns de tráfico de drogas. Segundo ele, a última foi na quinta-feira (28), com apoio da Brigada Militar. Com apoio do Poder Judiciário, foram feitas transferências de líderes de organizações criminosas presos em Bento para outros municípios do Estado. O objetivo é evitar o contato com os demais integrantes e deliberar outros crimes. 

A discussão é para além da Segurança Pública

Conforme o doutor e mestre em Direito André Roberto Ruver, professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) na região de Bento Gonçalves, a segurança pública é um tema complexo e que deveria ser discutido de forma mais ampla. Na visão dele, as forças de segurança pública são ferramentas imprescindíveis para o combate à criminalidade, mas sozinhos não conseguem efetivamente. 

— Conforme dados do Atlas da Segurança que acompanhei recentemente, em âmbito de Brasil, a média geral ficou que um terço dos homicídios no país são ligados ao tráfico de drogas. É um número razoavelmente alto. A força da penetração do tráfico ainda é maior do que a capacidade de reação das forças de segurança — acredita Ruver. 

O especialista relata que, no final de semana, passeava por uma cidade da Serra quando, por volta de 16h, viu um grupo de jovens sentado na praça pública "manuseando" um cigarro de maconha. Na visão do professor, eles pareciam não estar constrangidos de fazer isso à luz do dia, em meio à sociedade. Portanto, na visão do professor, o tráfico de drogas, sendo o principal pano de fundo de outros crimes, deve ser discutido de forma mais ampla, avaliando as penalizações impostas. 

Para Ruver, o combate a crimes violentos é uma situação que deve envolver discussões nas áreas de saúde pública, educação, assistência social e direito. Além de investimentos na área da inteligência e tecnologias para municiar os servidores que atuam no combate. Na avaliação dele, o Rio Grande do Sul ainda não passa sensação de segurança aos moradores, por mais que haja esforço das forças de segurança pública.

Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH

Foto: Reprodução

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