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Por que o conclave é pop? Entenda como a escolha do novo papa tem mobilizado a mídia e redes

  • Data: 08/Mai/2025

Tema começou a ser debatido em janeiro, quando o filme de mesmo nome chegou aos cinemas. Com a morte de Francisco, surgem a cada dia memes, torcidas, apostas e análises 

conclave é pop. Antes mesmo da morte do Papa Francisco, em 21 de abril, e o início do processo de escolha de seu sucessor, que começou nesta quarta-feira (7). O tema já era assunto em janeiro, quando o longa Conclave chegou aos cinemas e se posicionou na corrida do Oscar — recebeu oito indicações e ganhou a estatueta de melhor roteiro adaptado.

Mas o pop não poupa ninguém. Nas redes sociais, há de tudo: vídeos mostrando cardeais como pilotos de Fórmula 1, comparações com chá de revelação, apuração de escola de samba, abertura do Big Brother Brasil, futebol e até comparação com fumaça de churrascaria.

Para se ter ideia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quis entrar na tendência no último sábado (3). Em suas redes sociais, ele publicou uma montagem feita por inteligência artificial que o mostra sentado em uma poltrona como papa.

A plataforma de monitoramento Visibrain aponta que 1,3 milhão de tuítes relacionados ao conclave foram publicados desde a morte de Francisco. O levantamento ainda indica que o tema acumulou 363,3 milhões de visualizações no TikTok.

Qualquer nota, qualquer notícia. Não faltam publicações com análises dos cardeais, pessoas manifestando torcida por candidatos da mesma corrente ideológica, um comportamento similar ao que vemos quando há um BBB intenso.

ninguém está salvo: há quem enxergue o conclave como um jogo. Em países onde a legislação permite esse formato de aposta, esta indústria está aquecida. 

Também há o game Fantaspapa, em que o jogador cria uma equipe de 11 candidatos ao papado e ganha pontos se um cardeal escalado for mencionado de forma destacada na mídia. Há bônus se um dos escolhidos for eleito papa.

Para André Pase, doutor em Comunicação Social e professor de Pós-Graduação na PUCRS, isso é sintoma da “sociedade betizada” que vivemos hoje, onde tudo vira bet (aposta) para atender a essa demanda.

O pesquisador acrescenta que o tema conclave foi bastante explorado midiaticamente com o filme nos últimos meses. Consequentemente, o assunto gera fascínio por ser uma votação sigilosa, simbólica e antiga:

— Em uma sociedade tão dinâmica quanto a nossa hoje, com tanta transformação, há esse rito super tradicional. Então, tem uma coisa misteriosa, tem um pouco essa aura, que também chama a atenção.

Professor de teologia da Universidade La Salle, Davi Minatto corrobora:

— Parece que a gente está entrando naqueles filmes épicos, no mundo de O Senhor dos Anéis, justamente por serem tradições milenares. Gera um fascínio, mas que é temporário: você acha bonito e interessante, só que depois que passou, passou.

"Todo mundo tá comprando os mais vendidos"

Minatto realça que já existia a internet nos últimos dois conclaves, mas a presença dessa mídia é mais massiva agora. Para o teólogo, a divulgação e acompanhamento pelas redes sociais leva “todo mundo a formular uma opinião sobre o assunto”, podendo ser positivas no sentido de gerar um interesse, mas que também levam adiante “posições imprecisas, acompanhadas de preconceitos”.

As pessoas não apenas acompanham, elas performam esse acompanhamento com memes, piadas e análises nas redes sociais. Isso transforma o evento quase em um reality show global.

CHRISTIAN GONZATTI

Coordenador de Comunicação Digital da Unisinos

Christian Gonzatti, coordenador da graduação em Comunicação Digital da Unisinos, atesta que a repercussão deste conclave se diferencia muito do anterior porque hoje vivemos um ecossistema digital mais veloz, visual e participativo.

— Enquanto antes a cobertura era mediada quase exclusivamente pela imprensa tradicional, agora ela se espalha de forma memética e instantânea — avalia. — As pessoas não apenas acompanham, elas performam esse acompanhamento com memes, piadas e análises nas redes sociais. Isso transforma o evento quase em um reality show global, em que cada atualização vira matéria-prima para conteúdo viral.

Consequentemente, esse processo pode ser lido como um tipo de game, com torcidas, apostas, narrativas e até vilões e heróis fictícios sendo atribuídos aos cardeais, acrescenta Gonzatti. Ele aponta que há uma lógica de gamificação no modo como os perfis comentam o conclave, antecipam desfechos e torcem por determinados perfis, como se estivessem assistindo à final de um campeonato.

— Isso se articula com o fato de o Papa, hoje, ser uma figura que transcende o religioso. Ele faz parte do imaginário da cultura pop, é quase uma celebridade com um lado mítico.

Para a Igreja, como frisa Minatto, o conclave é um momento de organização interna, e considerado um evento do Espírito Santo. Com sua difusão atual, é possível que algumas pessoas se aproximem da instituição ao terem o interesse despertado. Por outro lado, o teólogo pondera:

— Ninguém se converte a uma nova igreja ou religião por fatos históricos ou questões organizacionais. A conversão acontece pelo encontro com o evangelho, com a palavra de Deus.

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP

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