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Sua profissão está em risco com a IA? Saiba quais ocupações estão entre as mais impactadas

  • Data: 10/Jun/2025

Muitas funções devem ser transformadas, e não necessariamente substituídas, diz estudo da Organização Internacional do Trabalho

Um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Polônia (Nask) indica as profissões que devem ser mais e menos impactadas pela inteligência artificial (IA) generativa (tecnologia capaz de criar novos conteúdos). 

O relatório aponta que um a cada quatro empregos no mundo (24%) tem algum grau de exposição à IA, mas frisa que muitas profissões devem ser transformadas, e não necessariamente substituídas pela tecnologia (veja quadro interativo abaixo).

O estudo "IA generativa e empregos: Um índice global refinado de exposição ocupacional" dividiu as profissões em seis categorias, de "exposição máxima" a "não expostas".

Sua profissão está exposta à inteligência artificial?

Exposição máxima:

Profissões com a maioria das tarefas automatizáveis:

  • Analistas financeiros
  • Auxiliares de entrada de dados
  • Auxiliares de escritório geral
  • Contadores e escriturários de contabilidade
  • Desenvolvedores web e multimídia
  • Corretores e operadores de valores mobiliários e finanças
  • Vendedores de contact center

Exposição significativa:

Profissões em que o potencial geral de automação está crescendo, mas com algumas tarefas ainda pouco expostas:

  • Desenvolvedores de software
  • Jornalistas
  • Recepcionistas de hotel
  • Secretárias
  • Tradutores, intérpretes e outros linguistas

Exposição moderada:

Profissões com impacto desigual: algumas tarefas são automatizáveis e outras não: 

  • Biólogos, botânicos, zoólogos e profissionais relacionados
  • Corretores de imóveis
  • Designers gráficos e multimídia
  • Gerentes de vendas e marketing
  • Profissionais de pessoal e carreiras
  • Representantes comerciais

Exposição baixa:

Profissões com pouca exposição geral, mas algumas tarefas podem ter alto potencial de automação:

  • Físicos e astrônomos
  • Fotógrafos
  • Gerentes de hotéis
  • Motoristas de aplicativo/táxi
  • Psicólogos
  • Técnicos de galeria, museu e biblioteca

Exposição mínima:

Profissões com algumas tarefas com potencial de automação moderado, mas com exposição geral limitada:

  • Advogados
  • Arquitetos
  • Designers de interiores e de produtos e vestuário
  • Diretores de empresas
  • Engenheiros ambientais, químicos, industriais e de produção
  • Fisioterapeutas
  • Professores de Ensino Superior
  • Químicos

Não expostas: 

Profissões em que a maioria das tarefas permanece relativamente inalterada com a IA:

  • Audiologistas e fonoaudiólogos
  • Cozinheiros
  • Dentistas
  • Engenheiros civis, eletricistas, mecânicos, de minas e de navios
  • Juízes
  • Médicos especialistas e generalistas
  • Policiais
  • Professores de Ensino Médio e Ensino Fundamental
  • Veterinários

Fonte: Relatório “IA generativa e Empregos: Um Índice Global Refinado de Exposição Ocupacional" (OIT/NASK)

Profissões mais e menos expostas

Entre as carreiras menos suscetíveis, há trabalhos manuais, como pintores, costureiros, trabalhadores da construção civil e varredores. Há também especialidades que exigem formação específica, como médicos, dentistas, engenheiros e professores.

Na outra ponta, os trabalhos administrativos estão entre os mais expostos devido à capacidade da IA generativa de automatizar suas tarefas. São ocupações de escritório que incluem digitadores, secretárias, escriturários e auxiliares.

A tecnologia também aumenta a exposição de trabalhos com tarefas especializadas em setores como comunicação, software e finanças. Analistas financeiros e desenvolvedores web e multimídia (exposição máxima), bem como caixas de banco, tradutores, programadores de aplicativos e consultores de investimento (exposição significativa), aumentaram de nível em relação a 2023.

Já a automação completa do emprego segue sendo limitada, conforme o estudo, dado que muitas tarefas continuam a exigir intervenção humana.

Transformação dos empregos

Tarefas que demandam raciocínio crítico, não são repetitivas e exigem toque humano não serão substituídas, avalia Marta Bez, professora de Informática e Indústria Criativa na Feevale. É necessário que alguém faça a análise e a validação de um software, por exemplo. Ainda que o estudo indique que algumas profissões não estão expostas, a professora acredita que todas serão afetadas de alguma forma.

— Estamos transformando o emprego. Isso já aconteceu em várias outras ocasiões. Um engenheiro vai continuar sendo um engenheiro, e melhor: usando a tecnologia para dar insights e ajudar a realizar cálculos. Vai sumir o engenheiro? Não. Ao contrário, ele vai ser fortalecido com ferramentas que podem ajudá-lo — ressalta.

Habilidades valorizadas

Algumas profissões continuam a exigir habilidades humanas mais complexas, observa Arachele Azevedo, consultora do PUCRS Carreiras. Nesse contexto, empatia, pensamento crítico, criatividade e capacidade de negociação passam a ser ainda mais valorizados pelas empresas. 

Profissões de linha de frente e setores essenciais, como cuidados, saúde, educação e construção, além de áreas como psicologia, arte e gestão estratégica, dificilmente serão afetadas, frisa a psicóloga.

Arachele também aponta oportunidades em funções encaradas, muitas vezes, como mais básicas na economia, mas que, ao que tudo indica, são pouco afetadas, como motorista, cuidador, educador e trabalhador rural.

O estudo aponta, ainda, que a exposição entre as mulheres permanece significativamente maior, principalmente em países de alta renda, onde os empregos com maior risco de automação representam 9,6% da ocupação feminina, em comparação com 3,5% da masculina.

Oportunidades

Na visão de Marta, da Feevale, a economia criativa é uma das áreas mais suscetíveis, incluindo arte, design e moda. Mas a professora de Indústria Criativa vê oportunidade de potencialização do trabalho e relata que a faculdade já aborda o uso de IA generativa na economia criativa.

— Se essas áreas usam a tecnologia para ter insights, criar modelos e inspirar o artista ou o designer, estão economizando um tempo incrível desses profissionais. E tempo é dinheiro — ressalta.

Estamos transformando o emprego. Isso já aconteceu em várias outras ocasiões

MARTA BEZ

Professora de Informática e Indústria Criativa na Feevale

Dicas para o reposicionamento

É importante ter na carreira um plano A e um plano B, sobretudo em um mundo em aceleração, recomenda Arachele. Segundo ela, a IA deve ser encarada como ferramenta de apoio, e não como inimiga, levando em consideração, inclusive, questões de produtividade e de gestão de tempo.

— Focamos muito o receio de perder o emprego, mas precisamos pensar também no que fazer para continuarmos bem posicionados no mercado de trabalho. É preciso ter um olhar mais aberto no sentido de adaptabilidade, de estruturar uma carreira sustentável, de entender que, eventualmente, não vamos ter somente uma profissão no decorrer da nossa trajetória — pontua.

Para o reposicionamento profissional, as dicas da consultora de carreira são desenvolver habilidades comportamentais, estar atento ao que o mercado pede e às oportunidades, e pesquisar tendências.

É possível, diz ela, buscar apoio de serviços como o PUCRS Carreiras, que também atende a comunidade fora da universidade, para entender como montar um currículo e onde encontrar novas oportunidades.

Focamos muito o receio de perder o emprego, mas precisamos pensar também no que fazer para continuarmos bem posicionados no mercado de trabalho

ARACHELE AZEVEDO

Consultora do PUCRS Carreiras

Requalificar em vez de substituir

O relatório conjunto entre OIT e Nask afirma que a exposição à IA "não implica a automação imediata de uma ocupação inteira, mas sim o potencial para uma grande parte de suas tarefas atuais ser realizada usando essa tecnologia".

O texto segue: "Se isso leva ao desaparecimento de uma ocupação ou à substituição da força de trabalho é uma questão mais complexa — que dependerá da decisão inicial de adotar a tecnologia, mas também da extensão em que os indivíduos nessas ocupações recebem oportunidades para aprender a trabalhar com essas tecnologias e se adaptar à natureza evolutiva de suas tarefas".

A professora Marta Bez, da Feevale, destaca que o impacto também dependerá de fatores como o custo da tecnologia. O abismo digital ainda é um sério problema, com locais sem acesso a computador. Nesse sentido, defende ela, há necessidade de trabalhar a cultura digital em todos os empregos e âmbitos.

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Reposicionar-se frente à IA é desafio de muitos profissionais.Orapun / stock.adobe.com

Futuro mais justo

O estudo ajuda a identificar onde há maior probabilidade de impacto para que os países possam preparar os mercados de trabalho para um futuro digital mais justo e para proteger melhor os trabalhadores.

Para isso, defende Marta, é preciso garantir uma transição justa e recolocação. Em vez de substituir, deve-se pensar em requalificar. Um caminho possível são cursos online e cursos de curta duração promovidos por universidades.

Muitos trabalhadores são de uma geração que não está acostumada com a tecnologia e muito menos com as ferramentas de IA. É fundamental mostrar usos possíveis, com ética e consciência crítica, ressalta a professora:

— A questão é garantir uma mudança, uma qualificação para o trabalhador para que ele possa continuar com o seu trabalho, mas de uma forma diferenciada, melhorada.

Abordagem centrada no ser humano

O relatório convoca governos e organizações de empregadores e trabalhadores a se envolver no diálogo, bem como na elaboração de estratégias inclusivas e políticas para orientar a transição — e melhorar a produtividade e a qualidade do emprego, sobretudo nos setores mais vulneráveis.

A abordagem para a adoção da tecnologia deve ser centrada no ser humano — tanto para minimizar o "desemprego tecnológico" quanto para garantir que as ferramentas sejam implementadas como forma de apoio, defende o relatório.

Marta, da Feevale, salienta que é preciso aprender a utilizar as ferramentas, além de discutir amplamente sobre elas, sem esconder o uso e compartilhando descobertas de usos de qualidade. Para a professora, é papel social das universidades disponibilizar cursos para a comunidade e abordar o tema.

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: Yurii / stock.adobe.com

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