Como construir uma cultura de doação de sangue?
Inverno é marcado pela queda dos estoques do Hemocentro
Você sabia que uma única bolsa de sangue pode salvar até quatro vidas? No Brasil, o ato de doar sangue é totalmente voluntário. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2023, 14 em cada mil brasileiros doaram sangue regularmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso significa que 1,4% da população foi doadora, correspondendo a média indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que deve ser entre 1 e 3% por país.
No entanto, mesmo que o Brasil corresponda a média da OMS, os Hemocentros – centros de referência responsáveis pela coleta, processamento, armazenamento e distribuição de sangue e seus componentes – sempre estão precisando de doadores. No inverno essa necessidade é ainda maior, pois os estoques ficam mais baixos. Mesmo que o gesto de doar salve vidas e seja simples, ele ainda causa muitas dúvidas para quem nunca doou. A reflexão sobre o tema ganha ainda mais força neste 14 de junho, Dia Mundial do Doador de Sangue.
A médica cooperada da Unimed Porto Alegre Carolina Pithan explica que, antes de realizar o ato, o futuro doador precisa saber que existe uma lei criada para preservar a integridade daqueles que doam sangue. Nesse sentido, a especialista ressalta que o processo é sempre feito com transparência.
— A legislação brasileira determina que a doação deve ser voluntária e altruísta, ou seja, não pode haver recompensa financeira. Todas as informações fornecidas durante a triagem e a entrevista são sigilosas. A confidencialidade é protegida por lei, garantindo que apenas o doador tenha acesso aos seus dados médicos. Quem deseja doar pode ficar tranquilo que todo processo é feito com respeito — garantiu.
Perdendo o medo
A desinformação é um dos grandes empecilhos para a construção de uma cultura forte de doação. Alguns mitos contribuem para este cenário. Um deles é que doar sangue pode causar anemia. Há ainda quem acredite que o ato pode transmitir doenças ou ser doloroso. A médica reitera que a doação de sangue é totalmente segura.
— Se você tem medo de agulha ou receio com o processo, saiba que tudo é feito com respeito, cuidado e proteção. Depois do ato, o doador ainda recebe um lanche para recuperar as energias. Doar sangue é uma ação de generosidade e responsabilidade que pode salvar vidas — explicou Carolina.
Durante a doação, são retirados entre 400 e 450 ml de sangue, conforme o peso do doador. A quantidade pode parecer alta, mas não ultrapassa 10% do volume de sangue que circula no corpo. A recuperação do sangue coletado acontece em até 24h após a doação.
Compromisso coletivo
Por ser um gesto voluntário, Carolina diz que a construção de uma cultura de doação de sangue tem que ser pensada de forma coletiva. A médica cooperada da Unimed Porto Alegre reforça que nada substitui o sangue: esse tecido não pode ser fabricado artificialmente, por isso, doar é essencial.
— Independentemente se estamos falando de saúde pública ou privada, todas as instituições precisam da doação. Não é um medicamento que se compra. É a partir das doações de sangue que os profissionais conseguem realizar procedimentos, fazer cirurgias, atendimentos de urgência e tratar algumas doenças — detalha a médica.
Por isso, a construção da cultura de doação precisa envolver integralmente todos os setores da sociedade. Nesse sentido, Carolina ressalta que ambientes organizacionais podem ter um papel fundamental nesse processo, ao estimular a participação ativa dos colaboradores.
— Em empresas seria interessante organizar um sistema de revezamento por setor ou o Dia da Doação, para que os colaboradores pudessem doar em conjunto. Sempre reforçando o altruísmo do ato e assim desmistificando que a doação traz prejuízos, financeiros ou de saúde. O gesto voluntário acaba por fortalecer a responsabilidade social das organizações, além de promover o bem-estar mútuo entre doador e receptor — completa Carolina.
Incentivo
Na prática, algumas instituições já adotam esse tipo de postura e vêm fazendo a diferença. A Unimed Porto Alegre conta com uma iniciativa que promove a doação voluntária de sangue entre seus colaboradores. Em 10 anos, mais de quatro mil pessoas já foram beneficiadas. Para Carolina, isso mostra o compromisso da instituição com a saúde integral e coletiva.
— Não é só sobre cuidar do paciente final, e sim construir um ambiente interno e externo no qual o foco seja a prevenção — afirma.
A médica cooperada da Unimed Porto Alegre também salienta que, embora o ato seja voluntário, a doação é estimulada no Rio Grande do Sul através da concessão de benefícios. Conforme a Lei nº 13.891, de 2 de janeiro de 2012, quem doa tem isenção no pagamento de concursos públicos e direito a meia-entrada em eventos culturais e esportivos.
Quem pode doar
O processo para a doação de sangue é simples e leva entre 30 minutos e uma hora para acontecer. Indolor, não representa nenhum risco à saúde. Confira os requisitos para ser doador e quais condições podem impossibilitar o ato.
Para doar, é necessário
- Estar em boas condições de saúde
- Ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 podem doar com autorização dos responsáveis)
- Pesar no mínimo 50 quilos
- Ter dormido ao menos 6h nas últimas 24h
- Estar alimentado. Evitar alimentação gordurosa nas 3h que antecedem a doação
- Apresentar documento original com foto
Restrições temporárias
- Gripe ou febre
- Gravidez
- 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana
- Amamentação (se o parto ocorreu há menos de 12 meses)
- Tatuagem ou acupuntura nos últimos 12 meses
- Piercing: Seis meses (com boas condições sanitárias) ou 12 meses
(sem avaliação segura); se for oral ou genital: 12 meses após a retirada - Exposição à situação de risco para a AIDS (múltiplos parceiros sexuais sem prevenção, ter parceiros usuários de drogas); Herpes labial
Restrições permanentes
- Doença de Chagas; hepatite após os 11 anos de idade
- Ser portador do vírus HIV (AIDS), HCV (Hepatite C), HBC (Hepatite B) ou HTLV
- Usuário de drogas ilícitas injetáveis
Fonte: Secretaria da Saúde do RS
Para doar
- Em Porto Alegre, a unidade do Hemocentro do Estado do Rio Grande do Sul atende para doação de sangue de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, na Avenida Bento Gonçalves, 3722. É necessário agendar pelo WhatsApp 51 98405-4260 ou pelo telefone 51 3339-7330.
- Pelo site do Hemocentro do Estado do Rio Grande do Sul é possível agendar a doação nos Hemocentros de Porto Alegre, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria e Tramandaí.
- Hospitais em diversas cidades também são pontos de coleta. Confira na unidade de saúde do seu município.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Visual Generation / stock.adobe.com
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