Como prevenir queimaduras e o que fazer se acontecer um acidente em casa?
Profissionais orientam sobre os principais cuidados e falam da importância de não utilizar remédios caseiros
Um grave acidente doméstico envolvendo uma lareira ecológica fez com que o ex-jogador Lúcio tivesse 18% do corpo queimado. Ele ficou internado por cerca de 20 dias e, mesmo um mês após o acidente, os curativos e cicatrizes não escondem o que aconteceu.
O caso de Lúcio não é raridade. Em 2024, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) recebeu 276 chamados relacionados a aquecedores (isto é: lareiras convencionais ou ecológicas e aparelhos elétricos de aquecimento).
Do total, 167 foram durante o inverno, o que reforça a necessidade de atenção neste período do ano. Junho é o mês de conscientização sobre prevenção de queimaduras.
Em Porto Alegre, apenas no Hospital Cristo Redentor, foram 212 internações por queimaduras graves em 2024 — 26% passaram pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 8% resultaram em óbito, segundo a médica intensivista Laís Boing, que atua na unidade.
— No inverno, o grande causador é justamente a lareira ecológica. Recebemos vários casos semelhantes ao do Lúcio, por explosão, por um manejo muitas vezes inadequado desse instrumento — pontua sobre o atendimento na unidade.
Já no verão, a equipe costuma receber com mais frequência pacientes atingidos por explosões em churrasqueiras devido ao uso de álcool e gasolina.
Há também situações em que as pessoas, principalmente crianças e idosos, caem sobre as lareiras, como acrescenta a cirurgiã-plástica Mariana Cioffi, que atua no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS).
Entre junho de 2024 e maio deste ano, a instituição de saúde registrou 2.735 atendimentos e 258 internações envolvendo vítimas de queimaduras.
Óleo quente, álcool e até fogueira de São João: os casos mais comuns
Mariana explica que um dos casos mais comuns que chegam à unidade é de pessoas queimadas com água quente. Mas há também outros quadros já atendidos, até mesmo inusitados, como de idosos que deixam o cigarro cair na cama e não têm mobilidade para sair a tempo.
Explosão em canecas com álcool acesas para esquentar ambientes, respingos de óleo quente, explosão ou queda sobre fogueira de São João, uso incorreto de fogos de artifício e choque elétrico também estão na lista.
Há também casos de crianças que colocam a mão em porta de forno ou em chaleira elétrica e de pessoas que ligam o gás do forno e demoram para acendê-lo, provocando uma explosão.
O que fazer em caso de queimadura?
Antes de mais nada, é muito importante sair de perto da fonte de calor e resfriar a queimadura, conforme recomendação da cirurgiã-plástica Mariana Cioffi:
— Esfriamos a queimadura com água em temperatura ambiente. Por exemplo, se a pessoa queimou a mão ou o dedo cozinhando, ela vai abrir a torneira e vai deixar por uns cinco minutinhos a água correr em cima da queimadura.
O primeiro-tenente Vagner Silveira da Silva, do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, explica que, se o fogo está na roupa ou no cabelo, por exemplo, a melhor alternativa é usar água para apagar. Outra possibilidade é abafar com um cobertor ou até mesmo rolando no chão.
Em casos de queimaduras devido a um choque elétrico, o principal cuidado é não tocar na pessoa enquanto ela estiver energizada. A água só pode ser usada se a rede elétrica estiver desligada. Na sequência, deve-se chamar o Corpo de Bombeiros ou o Samu.
O que não fazer em caso de queimaduras?
Remédios caseiros não devem ser colocados sobre qualquer queimadura, reforçam os especialistas consultados. Vinagre, manteiga, pasta de dente, café e até mesmo pomadas podem causar danos secundários, piorando a situação.
Quando é necessário buscar ajuda médica?
As queimaduras são classificadas por graus, de acordo com a profundidade que atingem na pele. As de primeiro grau são as mais leves, como as solares, que apresentam vermelhidão e ardência. A partir do momento em que aparecem bolhas, são queimaduras de segundo grau.
— Salvo se ela for em uma região muito pequena, a maioria delas vai precisar de avaliação (médica). Então, uma queimadura que ultrapassa o tamanho da palma de uma mão ou uma queimadura que seja em um local nobre, em face, em mãos, em região genital, são queimaduras que merecem avaliação médica — indica a médica intensivista Laís Boing.
O atendimento é ainda mais necessário em caso de queimaduras de terceiro grau, quando a pele fica com aspecto de couro. Nestes casos, é possível que a pessoa nem sequer sinta dores, já que as terminações nervosas da região podem ter sido comprometidas.
Como evitar queimaduras?
O primeiro-tenente Vagner Silveira da Silva, do CBMRS, destaca que a primeira orientação é que sejam adquiridos somente equipamentos certificados por órgãos de controle, como o Inmetro, e não de mercados paralelos ou itens mais artesanais.
O segundo ponto é seguir apenas o que o fabricante recomenda no manual de instruções. No caso dos equipamentos elétricos, o bombeiro ressalta ainda que a instalação da residência deve estar adequada para receber o aparelho na capacidade e potência que possui. Em relação aos aquecedores a combustão (como as lareiras), é necessário usar o combustível recomendado pelo fabricante.
Quando o assunto é churrasco, vale o alerta:
— O que não pode ser feito tanto na lareira ecológica quanto na churrasqueira é, enquanto a combustão está acontecendo ou o ambiente está aquecido, alimentar o fogo com líquido inflamável.
Ele ressalta que, esse líquido, além de começar a combustão com baixas temperaturas, desprende vapores com facilidade, promovendo até explosões, descontrole da combustão e derramamentos:
— Em relação à lareira ecológica, a pessoa deve abafar, acabar com a combustão, esperar esfriar e só depois realimentar ela. Sobre a churrasqueira, não deve se utilizar líquidos combustíveis para acelerar a chama do churrasco ou para dar maior potência porque é fácil perder o controle também.
Há condições que podem levar à morte?
De acordo com a médica Mariana Cioffi, pacientes queimados podem vir a óbito em casos em que a queimadura é muito extensa e profunda ou quando o paciente precisa de um longo tempo de internação, podendo pegar infecções, por exemplo.
— A pele não só nos protege do meio externo, mas também faz uma série de regulações de temperatura, de fluídos. Nós não perdemos o líquido do corpo porque a pele está segurando ali. Então, se você perde isso, todo o teu metabolismo é alterado. E às vezes o paciente não suporta essas alterações do metabolismo — esclarece.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Alina Souza / Ecofogo/ Divulgação
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