Mães depois dos 30 lideram os registros de nascimentos em Passo Fundo
No RS, idade média em que as mulheres sem tornam mães é aos 29. Na cidade, também cresceu o número de mães que gestaram entre os 35 a 39 anos
Em Passo Fundo, no norte gaúcho, as mulheres têm filhos mais tarde que na média do Rio Grande do Sul: a maioria se torna mãe entre os 30 e 34 anos, conforme dados do Sistema de Informações dos Nascidos Vivos (Sinasc). Entre as gaúchas, a primeira gestação é mais comum aos 29.
O índice do RS é o segundo mais alto do país, atrás somente do Distrito Federal, com média de 29,3 anos, como mostra o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no fim de junho.
Ainda conforme o levantamento, o número médio de filhos que as gaúchas têm ao longo da vida caiu no últimos anos: entre 2010 e 2022, a taxa de fecundidade passou de 2,5 para 2 descendentes.
O cenário se repete em Passo Fundo: salvo em 2023, quando o município registrou pico de 4.048 nascimentos, o número vem caindo anualmente (veja o gráfico abaixo). Ao mesmo tempo, cresceu o número de mulheres que tiveram filhos entre os 35 a 39 anos.
É o caso da pedagoga Dayane Santos: para ela, a virada de chave e decisão de investir em uma gravidez veio aos 35. Até então, a maternidade parecia algo grandioso demais e que demandaria muito tempo, paciência e dedicação — o que, mais tarde, se mostrou verdadeiro.
— Nunca fui aquela mulher que sonhava em ser mãe. Sempre pensei em me formar e conseguir organizar meu trabalho e minha vida financeira primeiro. Imaginava também que essa vontade só viria quando eu estivesse em um relacionamento sólido, maduro e que me proporcionasse a segurança emocional que este momento necessita — disse.
Dayane com o filho Benjamin, 7 anos, e o marido Miguel.Dayane Santos / Arquivo pessoal
A certeza veio após alguns anos de relacionamento com o marido, Miguel Rossetto. Segundo Dayane, a cada ano que se passava o relacionamento ficava mais maduro e propício para transformar em família.
— Conversamos e nos imaginamos nesse papel (de pais) durante um ano. E então eu engravidei. Não sinto que "fui mãe mais tarde". Acredito que foi na hora certa para mim e para o meu esposo. Não existe a hora certa para ser pai e mãe, mas sim o tempo certo para cada pessoa. É aquele momento da vida em que nos sentimos maduros e responsáveis para encarar o fato de abdicar de grande parte do seu tempo para se dedica integralmente à outra pessoa — afirma.
Livre para não maternar
Do outro lado está a moradora de Passo Fundo, Jéssica Almeida, que sempre teve clareza sobre algo que, para muitas mulheres, só se define com o tempo: ela não quer e nunca quis ser mãe. A escolha também aparece no Censo: o percentual no país de mulheres com 50 a 59 anos que não tiveram filhos era de 10% em 2000 e subiu para 16,1% em 2022.
— Sempre fui muito decidida quanto a minha opção de não ser mãe. Inclusive, quando iniciei o meu relacionamento foi uma das primeiras coisas que conversamos, porque acredito que os dois precisam estar alinhados para não haver divergências no futuro — conta.
Apesar da certeza, ela ainda escuta perguntas e comentários que revelam o quanto a sociedade vê a maternidade como um caminho esperado.
— O que mais escuto quando falo que não serei mãe é "quem vai cuidar de vocês quando estiverem velhos?". A cobrança da sociedade sempre vai existir, mas aos poucos as pessoas vão entendendo essa opção. Penso também que filho não é uma garantia desse cuidado e nem obrigação — aponta.
Desejo de autonomia
"Ter um filho hoje não é mais algo imposto pelo marido, por exemplo", disse a psicóloga e especialista em parentalidade, Bruna Porto.evso / stock.adobe.com
A psicóloga Bruna Porto, especialista em psicoterapia sistêmica, parentalidade e perinatalidade, explica que a escolha pela maternidade tardia pode estar, em grande parte, associada ao desejo de autonomia da mulher.
— A mulher tem escolhido ter essa independência financeira, para que primeiro possa seguir a vida e conquistar sonhos profissionais. Junto com a autonomia veio a possibilidade de escolha. Ter um filho hoje não é mais algo imposto pelo marido, por exemplo — explica.
Bruna também afirma que a escolha deve ser do casal e de ninguém mais, e que mulheres que escolhem ter filhos mais tarde também devem de permitir a adotar o modo "mãe possível".
— Cada família é diferente e única. A gente vai fazer o que a gente consegue para cada situação. A maternidade real não é a ideal, nunca vai ser. O amor entre a mãe e o filho também é construção, e isso acontece de forma diferente para cada mulher. Então tirar esse peso do que é o "ideal" é muito importante. Hoje temos a possibilidade de planejar uma família. Isso é muito mais protetivo para todo mundo — concluiu.
Fonte: GZH
Foto: Bruno Todeschini / Agencia RBS
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