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Entenda o crescimento do ensino técnico no RS e o impacto para o mercado de trabalho

  • Data: 15/Jul/2025

Matrículas em nível médio subiram de 116,5 mil, em 2014, para 147,5 mil em 2024. Os dados são do Censo Escolar do MEC

Em 10 anos, os cursos técnicos de nível médio cresceram 26,5% no Rio Grande do Sul. As matrículas subiram de 116,5 mil, em 2014, para 147,5 mil em 2024. Os dados são do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC), estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). 

O levantamento aponta que o ensino técnico representa 6,6% das 2,2 milhões de matrículas no RS em todas as etapas. Levando em conta o Ensino Médio, um em cada três alunos matriculados no Estado frequentam cursos técnicos – cerca de 32% dos 331,2 mil estudantes secundaristas.  

Boa parte deles frequenta cursos concomitantes – 62,4 mil. Outros 34,1 mil alunos fazem cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, ou seja, na mesma escola onde cursam o ensino regular. Já os cursos técnicos subsequentes, aqueles realizados após a conclusão da trajetória escolar, concentram 42,2 mil matrículas. 

Apesar do crescimento, houve redução entre 2023 e 2024. No período, o número de matrículas no ensino técnico caiu de 153,9 mil para 147,5 mil. Conforme Olmiro Schaeffer, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e pesquisador na área de políticas educacionais e universidades comunitárias, esses indicadores precisam melhorar, sobretudo no que se refere à educação pública. 

Plano Nacional de Educação vigente previa, entre as metas, triplicar as matrículas na educação profissional e técnica no nível médio até o ano passado, além de ampliar em 50% as matrículas nas escolas públicas. 

— Seriam necessárias pelo menos cem mil novas vagas no Estado para alcançar metade dos estudantes. Isso exige um investimento robusto. O avanço do ensino técnico significa um impulso no Estado, é fundamental para o desenvolvimento dos arranjos produtivos de cada região — diz o especialista, que colabora com o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung). 

Além dos investimentos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, que vai permitir ampliação nos institutos federais e inauguração de cinco novas unidades no RS, Schaeffer destaca o programa “Juros por Educação”. A iniciativa prevê renegociação das dívidas públicas dos Estados e redução da taxa de juros, caso o valor economizado seja investido na educação profissional. 

Jonathan Heckler / Agencia RBS

Alunos do Sesi de Gravataí criaram asfalto que aproveita restos de materiais de construção e demolição, buscando uma solução sustentável para a pavimentação urbana.Jonathan Heckler / Agencia RBS

Recentemente, o governo estadual do RS também implementou um sistema de reserva de vagas nos cursos técnicos, garantindo 30% das matrículas para candidatos pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Atualmente, está em andamento processo seletivo com 8,8 mil vagas em 116 instituições da rede. 

Impacto no desenvolvimento 

Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que o ensino técnico é fundamental, não somente para garantir formação qualificada para os profissionais, mas também para o desenvolvimento econômico

— Agrega valor intrínseco aos sujeitos, além do benefício da ascensão social. A educação é um importante mecanismo de mobilidade social, mas também agrega valor para a sociedade, como um todo. Temos várias regiões do Estado com falta de mão-de-obra qualificada, e os cursos técnicos podem suprir essas necessidades — explica Schaeffer. 

Novos cursos vêm sendo implementados, refletindo o crescimento do mercado do trabalho no RS. Na UPF, por exemplo, foi lançado recentemente o Técnico em Biocombustíveis com o intuito de suprir a demanda da indústria. 

Em todo o Estado, escolas de referência do Serviço Social da Indústria (Sesi) vêm transformando a realidade local e formando profissionais para atender às demandas da indústria. Na Escola Sesi de Ensino Médio Albino Marques Gomes, em Gravataí, por exemplo, um grupo de alunos desenvolveu um projeto de asfalto ecológico

— Esses projetos que a gente faz de “rota inovadora”, que é como se fosse o nosso TCC, têm muito a ver com a metodologia do Sesi, porque a gente sempre aprende nas áreas de Humanas e Ciências da Natureza sobre a parte da sustentabilidade. Também entendemos que o Senai nos ajuda, porque a gente consegue usar o apoio de empresas para fazer testes, por exemplo, ou para fazer um protótipo maior — afirma o aluno Brendow Prates Santiago, 18 anos. 

Junto dos colegas no curso integrado de Automação Industrial, ele criou um protótipo de asfalto que aproveita restos de materiais de construção e demolição, que normalmente são descartados, solução sustentável para a pavimentação urbana. Para o estudante Lukas Ucoski, 17 anos, é necessário desenvolver alternativas sustentáveis para a pavimentação da malha rodoviária, eliminando o uso de recursos finitos, como o petróleo. 

Indústria, tecnologia e saúde 

Seguindo o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e as necessidades de cada região, as instituições ofertam cursos em diferentes áreas. Conforme a diretora-geral de Sesi-RS, Senai-RS e IEL-RS, Susana Kakuta, a formação em nível técnico é fundamental para a sobrevivência da indústria. 

— O RS é formado por cerca de 53 mil indústrias. Todas elas possuem em comum pelo menos dois desafios: aumentar sua produtividade, para que possamos ter maior eficiência e empresas mais sustentáveis, e a inovação, para que tenhamos portfólios sempre atualizados e maior acesso ao mercado. Isso a gente consegue tendo pessoas qualificadas — explica. 

O jovem que está fazendo formação técnica, seja integrada ou não, já possui uma porta de acesso no mercado de trabalho.

SUSANA KAKUTA

Diretora-geral de Sesi-RS, Senai-RS e IEL-RS

Conforme Suzana, dentro do Sistema S, há ampla oferta de cursos que vêm ao encontro dessas necessidades, abrangendo áreas que vão desde programação, robótica, automação e inteligência artificial, até cursos mais primordiais, como técnico em química, metalmecânica e eletroeletrônica. Ela destaca que os cursos são fator de atratividade para os egressos

— O jovem que está fazendo formação técnica, seja integrada ou não, já possui uma porta de acesso no mercado de trabalho, porque hoje existe uma escassez de mão-de-obra na indústria. Esses cursos têm uma forte conexão com as empresas. E hoje, o salário de entrada na indústria é muito superior do que em outros setores. 

Jonathan Heckler / Agencia RBS

Lukas Ucoski, 17 anos, acredita que é necessário desenvolver alternativas sustentáveis para a pavimentação da malha rodoviária, eliminando o uso de recursos finitos, como petróleo.Jonathan Heckler / Agencia RBS

Os institutos federais também têm forte conexão com os arranjos produtivos regionais. No total, há 42 unidades em atividades no RS, além de cinco em construção, do: 

  • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha (IFFar)
  • o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) 
  • o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS)

— Nossos estudantes saem extremamente qualificados para atuar no mercado de trabalho. Eles têm excelente colocação e desempenho em avaliações externas, como o Pisa. Boa parte dos nossos alunos ingressam em universidades públicas e ter uma inserção de maneira digna no mercado. Isso gera impacto evidente na vida das pessoas, é um elemento de inclusão social e fomenta as economias locais — afirma o pró-reitor de Ensino do IFRS, Fábio Azambuja Marçal. 

Cursos nas áreas de informática e meio ambiente estão entre os mais procurados na instituição, de acordo com o professor. Conforme o professor Carlos Milioli, integrante da diretoria do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe/RS), o eixo que concentra maior número de matrículas nos cursos técnicos no RS é o de saúde

— Há cursos muito importantes, como técnico em enfermagem, radiologia, nutrição, análises clínicas, farmácia. O eixo de Gestão de Negócios também é importante. Aí entram cursos como administração, logística, Recursos Humanos, contabilidade. E o eixo de TI, com cursos de informática, redes, sistemas para internet. Esses três eixos respondem pela maior parte das matrículas — afirma. 

Fonte: GZH

Foto: Jonathan Heckler / Agencia RBS

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