Quanto custa produzir no RS? Veja o impacto da alta dos juros no Plano Safra
Especialista calculou para Zero Hora o peso das taxas na produção de soja e arroz. Crédito mais caro se soma a cenário de endividamento e pressão pelo risco climático no Estado
A virada do ano agrícola em um cenário de juros altos trouxe condições atualizadas ao Plano Safra 2025/2026, o que significa novos custos para produzir. Na ponta do lápis, quer dizer que o produtor pagará mais caro para implementar a próxima lavoura.
No Rio Grande do Sul, o panorama se junta à inadimplência rural em alta, o que acrescenta novos desafios financeiros para os agricultores. Mas quanto custa plantar?
Professor da pós-graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em crédito rural, Luiz Cláudio Caffagni calculou para Zero Hora o peso dos juros na conta total da produção para duas culturas agrícolas no RS, o arroz e a soja. Na prática, os juros representam o custo pelo empréstimo do dinheiro tomado pelos agricultores.
Na soja, principal cultivo gaúcho, o aumento das taxas representa acréscimo de R$ 97,60 por hectare no custo de produção da temporada 2025/2026.
— Isso é muita coisa considerando todos os demais gastos — analisa Caffagni.
No arroz, a elevação é ainda maior: R$ 244,20 por hectare plantado.
O cálculo considerou a taxa de 14% do Plano Safra disponibilizada ao custeio para o grupo dos chamados “demais produtores” (sem acesso a Pronaf e Pronamp), mais o custo operacional cobrado pelos bancos, de taxa média de 3%.
No caso da soja, o valor de R$ 829,80 empenhado somente em juros é maior que o valor gasto, em média, com fungicidas, de R$ 643,21. Já no arroz, as taxas (R$ 2.075,90) representam valores acima do que o produtor gasta com fertilizantes (R$ 1.801,88).
A análise também comparou como ficariam os custos com os juros tomados no chamado mercado livre, com taxas aplicadas fora do Plano Safra. Neste segmento, a taxa média é de 21% (considerando o custo operacional incluso).
— É pouco mais de um quinto do custo de produção, ou seja, de tudo o que se gasta para fazer a lavoura — destaca o professor Luiz Cláudio Caffagni.
Como base de cálculo, Caffagni utilizou os valores do custo de produção disponibilizados pela Federação da Agricultura do RS (Farsul) referentes a maio de 2025. O custo de produção por hectare (sem os juros) é de R$ 12.211,18 para a cultura do arroz e de R$ 4.881,22 para a soja.
Risco também encarece a produção
Além dos custos já esperados para se implantar as safras, Caffagni menciona outros dois fatores que encarecem a produção no Rio Grande do Sul: o seguro e o risco climático. A frequência de eventos extremos nos últimos anos, da estiagem à enchente, trouxe novos componentes às contas dos agricultores — muitos deles sendo a razão, inclusive, para o endividamento em alta na atividade rural do Estado.
— É um setor que corre mais riscos de maneira geral. Há riscos de volatilidade de preços, de taxa de câmbio, de sanidade, o risco climático. O Rio Grande do Sul tem sido mais penalizado ao longo dos anos pela questão climática em relação a outros Estados, porque há uma frequência (de eventos) maior. Olhando o aumento da taxa de juros sob esta perspectiva, o custo de produção inevitavelmente fica maior com todas essas variantes. Fica mais difícil produzir, portanto — resume Caffagni.
A confirmação do cenário de risco aparece no valor do prêmio dos seguros agrícolas, que é quantia paga à seguradora para se ter a cobertura de uma determinada área.
Dados extraídos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o seguro rural custava R$ 422,53 em São Luiz Gonzaga, nas missões gaúchas, em 2024. O valor é mais que o dobro do aplicado em outras regiões produtoras de referência — custa R$ 280,79 em Dourados, no Mato Grosso, e R$ 48,47 em Uruçuí, no Piauí.
Seguro de produção (por hectare)
- São Luiz Gonzaga (RS): R$ 422,53
- Dourados (MS): R$ 280,79
- Campo Mourão (PR): R$ 143,13
- Unaí (MG): R$ 89,07
- Cristalina (GO): R$ 86,30
- Sorriso (MT): R$ 79,91
- Uruçuí (PI): R$ 48,47
- Fonte: Conab
O recado final do especialista é de que o agricultor precisa ter o olhar ainda mais atento à administração financeira das propriedades:
— O produtor precisa, cada vez mais, fazer uma gestão adequada da sua fazenda. São as únicas variáveis que ele consegue mexer e controlar. O caminho é a gestão.
O que é o Plano Safra
Principal política de fomento agropecuário, o Plano Safra é um programa de financiamento equalizado do governo federal, no qual a União arca com a diferença dos juros aplicados no mercado. Os recursos são lançados anualmente.
Para o ciclo 2025/2026, foram disponibilizados R$ 89 bilhões em linhas de crédito para a agricultura familiar e R$ 516,2 bilhões para médios e grandes produtores.
Como alternativa aos recursos do Plano Safra, os grandes produtores têm recorrido ao mercado de capitais para fazer financiamentos. Os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros), as Cédulas de Produtor Rural (CPRs), as Letras de Crédito Agrícola (LCAs) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) são exemplos que despontam no segmento privado.
Fonte: Zero Hora
Foto: Duda Fortes / Agencia RBS
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