Como exercícios físicos e atividades manuais ajudam a reduzir estresse e ansiedade
Passatempos contribuem para equilíbrio emocional e diminuem necessidade de medicamentos em tratamentos psiquiátricos
Rotinas aceleradas, excesso de telas e pouco convívio com família e amigos têm contribuído para o aumento de sintomas de estresse e ansiedade. Um dos principais levantamentos globais de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apontou que 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade patológica — a maior prevalência registrada no mundo.
Além do tratamento psicológico, o segredo para se manter estável mentalmente é buscar um equilíbrio entre diferentes áreas da vida: trabalho, alimentação, sono, atividades de lazer e exercícios físicos. No mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio, é relevante lembrar que incluir hábitos como exercício físico e passatempos pode trazer momentos de respiro e leveza na correria do dia a dia.
Qualquer desequilíbrio, como sono excessivo ou inexistente, trabalho excessivo ou falta de impulso total, pode gerar adoecimento, como aponta o médico psiquiatra Rogério Tomasi Riffel, diretor técnico do Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes:
— Temos que pensar que nem tudo é só remédio, só terapia ou só atividades lúdicas e físicas. O conjunto é muito mais eficaz na melhora, então é preciso balancear. Nosso corpo precisa, além de comer bem, dormir e trabalhar, ter outros estímulos, como atividades recreativas, tempo com a família ou amigos.
Passatempo vira autocuidado
Atividades que exploram a criatividade também podem ser aliadas da saúde mental. Passatempos como bordado, cerâmica, pintura ou até mesmo cozinhar permitem um momento para si em meio às obrigações da vida adulta e também trazem sensações de bem-estar.
— Atividades lúdicas liberam endorfinas, fazem com que tenhamos uma produção mais adequada de serotonina e outras substâncias, o que previne doenças. É muito importante ter esses tipos de prazeres ao longo da rotina, não ficar somente focado no trabalho — diz o psiquiatra.
Luciana e Luiza, durante aula de cerâmica.Eduarda Costa / Agencia RBS
Em Passo Fundo, existem empresas focadas em promover atividades artísticas. No Original Espaço Cultural, por exemplo, alunas de cerâmica veem benefícios na saúde mental ao envolver esta prática na rotina.
— Às vezes eu fico ansiosa enquanto estudo. Quando chego na aula, ocupo minha mente só pensando na peça que eu vou fazer, o resto silencia — resume a estudante Luiza Dorneles Mello, 19 anos.
Já a designer de moda Luciana Martini começou a frequentar as aulas de cerâmica há três anos. Para ela, um dos principais pontos é o convívio com as colegas e o fato de colocar as energias na peça de cerâmica para se tranquilizar:
— Tem toda uma energia que é muito construtora, ela esvazia a minha mente. É muito gratificante saber que posso fazer, me acalma muito, me dá uma vontade de fazer cada vez mais coisas, de construir mais. Acho que precisamos fazer coisas que ocupem nossa mente, e, nesse caso, as mãos também.
A arteterapeuta Isadora Loch Sbeghen, que acompanha as oficinas de perto, garante que todos saem com tempo de qualidade vivido e ressalta a importância de ter momentos de escape na semana:
— O encontro é muito positivo, o fato de saírem de casa para encontrar outras pessoas. Todos saem da frente das telas para viver. É diferente de ficar um tempo no celular, que saímos vazios dessa atividade. Aqui todas saem preenchidas.
Corpo são, mente sã
Minutos de atividade física são essenciais para uma boa qualidade do sono e do humor.Eduarda Costa / Agencia RBS
Outro aliado no tratamento de saúde é manter o corpo em movimento. Atividades físicas, de caminhada a musculação, ajudam a liberar hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Conforme o psiquiatra, a regulação química natural melhora o humor, contribui para noites de sono mais tranquilas e fortalece a autoestima.
— Mesmo que a pessoa faça um exercício voltado para essa questão física, vai acabar trabalhando o metabolismo também. Haverá um favorecimento da microcirculação de algumas regiões, o que vai gerar naturalmente um estímulo cerebral — explica Riffel.
Na prática, além das questões fisiológicas, o exercício também pode servir como uma válvula de escape, como o exemplo das atividades lúdicas. Ao se concentrar nos movimentos e repetições, a pessoa se envolve em um momento para si, se desconectando das pressões externas e descarregando a energia no exercício.
— A atividade física ajuda muito a melhorar o humor, a sensação de estresse, porque os hormônios trazem a sensação do prazer, da leveza. Por isso, mesmo que ao executar seja difícil, quando finalizamos a atividade física, temos uma sensação de total prazer, de voltar para casa leve — observa a educadora física Camila Rezende Bortolotti.
Menos medicação
No Hospital Psiquiátrico Bezerra De Menezes, focado em tratamento e reabilitação na área de saúde mental na região, há uma experiência positiva de relacionar o tratamento a momentos lúdicos.
Os pacientes, além de terem apoio com a equipe médica especializada, também passaram a ter aulas de educação física e passatempos, o que influenciou diretamente nos tratamentos.
— Adicionamos educadores físicos e profissionais da terapia ocupacional e percebemos, de forma muito importante, a redução do uso de ansiolíticos a partir do momento em que eles se envolviam nessas atividades. Como o hospital é um local de controle, fica muito evidente o quão importante é a utilização desse tipo de ação como um somatório ao tratamento em si — resume Riffel.
Busque ajuda
Em Passo Fundo, universidades e rede básica de saúde oferecem tratamentos psicológicos de forma gratuita. Clique e confira a lista completa com endereços e horários de atendimento.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Eduarda Costa / Agencia RBS
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