Notícias

Fique por dentro das notícias da cidade e região.

Menos católicos, mais diversidade: Passo Fundo vive transformação religiosa

  • Data: 13/Out/2025

Censo mostrou que a cidade registra consolidação evangélica, avanço de grupo sem religião e das manifestações de fé afro-brasileiras

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2010 e 2022, o número de fiéis de religiões afro-brasileiras aumentou em Passo Fundo, no norte do Estado. O crescimento da umbanda e do candomblé foi de 114%

O que cresceu também, de acordo com a pesquisa, foi o número de pessoas que se declaram sem religião na cidade (+ 86%), além do número de evangélicos (+ 25%). Já o catolicismo, que ainda é a maior religião em números absolutos, teve uma redução de 13% no total de fiéis no município.

Esse movimento pela religiosidade, de forma cada vez mais plural, é visto em todo o Brasil: há recuo católicoconsolidação evangélicaavanço do grupo “sem religião” e das manifestações de fé afro-brasileiras.

Entre os motivos que podem estar impulsionando os números, está o cenário pós-pandemia e uma maior percepção de liberdade religiosa, com presença nas redes sociais e nas ruas. É o que aponta o mestre em História e bacharel em Teologia, Augusto Diehl Guedes:

— Em um cenário pós-pandêmico, não podemos ignorar o papel que as religiões oferecem no amparo às pessoas, desde questões sociais às emocionais. Neste sentido, pontos como sentimento de pertencimento, a explicação para questões inerentes ao viver e morrer também estão presentes nessa procura pela religião.

Foi uma curiosidade de criança que fez com que a estudante Bárbara de Vila, 21 anos, ingressasse no Curso de Liderança Juvenil (CLJ) e seguisse com ainda mais convicção o catolicismo. O movimento é voltado à formação de multiplicadores do evangelho, preparando jovens de 13 a 24 anos para liderar a igreja e a sociedade. A religião é a maior de Passo Fundo, com 125 mil fiéis.

— Foi muito diferente entrar e perceber que existem jovens na religião, que a gente também busca fé. É algo que entrou na minha rotina, foi importante pra eu criar laços de amizade. É como se fosse um bate-papo entre amigos, fazemos uma oração, cantamos, lemos o evangelho e fazemos uma reflexão — resume Bárbara.

Hoje a jovem é presidente do secretariado arquidiocesano e pretende seguir na religião:

— Participar do CLJ me esclareceu o tipo de fé que eu quero ter na minha vida, e é algo que quero passar para os meus filhos. Me dá sentido, olho para o dia a dia de forma mais leve, crendo que um Deus maior está olhando por nós lá em cima.

Os seguidores da umbanda e do candomblé representam um grupo de 3,5 mil pessoas em Passo Fundo. A religião se concentra em pequenas casas — que cultuam de maneira mais discreta em terreiros menores—, além de cinco templos maiores. Um deles é o Templo Guerreiros da Luz, no bairro São Cristóvão, criado há 17 anos.

Conforme Aron Yago Domeneghini, um dos dirigentes da casa de umbanda, é notória a mudança do perfil do público, de pessoas mais velhas para mais jovens, que passaram a ter interesse em conhecer a religião e de se tornar médium — pessoa que consegue se comunicar com o mundo espiritual, e pode orientar e ajudar em rituais de cura e aconselhamento.

— Desde a pandemia, tivemos uma procura muito maior de jovens, inclusive menores de idade, e acho que a rede social ajudou muito nisso, em desmistificar e dar informações para que as pessoas se interessem e busquem as casas — comenta Aron.

A estudante Julia Cristhine de Camargo da Silva, 21 anos, desenvolve a mediunidade há três anos. O interesse surgiu a partir da necessidade de se acolher em uma religião que estivesse aberta a um público abrangente:

— Busquei o templo pelo acolhimento que me faltou fora, enquanto jovem. Eles me trouxeram segurança, amor e me aceitaram independente do que sou e dos meus costumes. É aqui que procuro um acalento se estou ruim, os dirigentes me aconselham e hoje a religião se tornou um pilar para mim.

Ingressar na umbanda também revelou a discriminação, por meio da intolerância religiosa. Julia relata que já passou por agressões do tipo.

— As pessoas não têm visão, não conhecem e não sabem o que dizem. É uma religião que sofre muito preconceito por ser desconhecida. E Passo Fundo, por ser cidade pequena, acontece bastante. Mas não nos desestimula — resume.

Fonte: Zero Hora

Foto: Porthus Junior / Agencia RBS

Outras notícias