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Entidades projetam colheita de 800 mil toneladas de uva na próxima safra na Serra

  • Data: 21/Out/2025

Horas de frio no inverno somadas às expectativas de uma primavera e um verão mais secos em função do La Niña influenciam para uma vindima com alto volume e boa qualidade

Se as expectativas de produtores e entidades ligadas à vitivinicultura na Serra se confirmarem, a próxima safra da uva deve ser superior à última vindima. De acordo com o presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS), a estimativa, neste momento, é de uma colheita de cerca de 800 mil toneladas

O clima durante o inverno foi favorável, com cerca de 395 horas de frio (temperaturas abaixo de 7,2º). Para as videiras mais exigentes, conforme o chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Uva e Vinho, Henrique dos Santos, são necessárias 300 horas; já as menos exigentes precisam de cerca de 150 horas de frio. 

— Foi um inverno com um bom somatório de frio. A videira precisa de um inverno mais uniforme e regular, em termos de somatório de frio, pra que se tenha uma brotação plena. Então, as videiras, quando chegam neste limite de horas de frio, atendem plenamente a sua demanda — analisa. 

Associada ao bom inverno, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) confirmou a ocorrência do La Niña em 2025. Isso significa que a temperatura da superfície do Oceano Pacífico está abaixo da faixa considerada normal e será capaz de provocar influências no clima. No Rio Grande do Sul, o fenômeno, historicamente, favorece a redução dos volumes e da frequência de chuva.

Para a vindima, a ocorrência do La Niña também pode ter efeitos positivos. De acordo com o chefe adjunto da Embrapa Uva e Vinho, o fenômeno deve condicionar a redução da chuva e, ao mesmo tempo, o aumento dos dias de sol.

— Nós saímos de uma neutralidade para um cenário de La Niña, mas não tão intenso. Então, pode favorecer uma boa quantidade (de colheita). Eu ainda não posso afirmar, mas se continuar nessa tendência, é um favorecimento para uma boa quantidade de uva — explica.

Com a primavera, as videiras iniciam o processo de brotação. Com o clima típico primaveril, de dias quentes e noites amenas, como têm sido registrados na Serra nas últimas semanas, a tendência é de que o processo favoreça o acúmulo de ácidos e, consequentemente, sabores mais equilibrados no desenvolvimento das bagas. 

— Há uma tendência de um acúmulo maior de ácidos e isso dá um bom equilíbrio de acidez lá no final. Ou seja, tu já começa a contribuir com o acúmulo de substâncias que possam favorecer, no final, uma boa qualidade de fruta, porque o ácido é importante no equilíbrio entre açúcar e acidez — afirma o pesquisador. 

Expectativa de safra que supre a necessidade do mercado

Porthus Junior / Agencia RBS

Uvas estão em fase de brotação.Porthus Junior / Agencia RBS

As 800 mil toneladas de uva que devem ser colhidas entre janeiro e março do ano que vem, quando a vindima se iniciar na Serra, são satisfatórias para abastecer o mercado consumidor, avaliam os presidentes do Consevitis, Luciano Rebelatto, e da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Daniel Panizzi. 

— Ainda não temos números oficiais da safra do ano passado, mas entendemos que ela foi em torno de 750 mil toneladas. A deste ano, comparada ao ano passado, deve ser um pouco maior. Não chegará àquelas 900 mil toneladas que foi a safra de 2021, mas são números que atendem todo o mercado que, hoje, se abastece da fruta e dos derivados aqui da nossa região — observa Rebelatto. 

Os dados são Comissão Interestadual da Uva, que também deve definir nas próximas semanas o custo do quilo da uva para a próxima safra. Uma reunião, no próximo dia 24, na sede do Consevitis, vai reunir representantes da indústria, cooperativas e produtores para iniciar tratativas do preço mínimo da uva.  

Reforço no suco de uva

A expectativa de uma boa safra também é um incentivo necessário para a venda de suco de uva no mercado nacional, analisa Daniel Panizzi. Neste ano, conforme o presidente da Uvibra, as vendas têm sido abaixo do esperado e uma safra de qualidade alta pode ser uma boa propaganda para alavancar as vendas.

— A colheita prevista é, hoje, sem dúvidas, bem satisfatória. Até pela forma como o mercado está reagindo, principalmente com o suco de uva. Vai gerar uma oferta no mercado muito grande, porque a gente precisa, sem dúvida, comercializar essa quantidade toda. Hoje, a venda dos produtos está abaixo, principalmente o suco de uva, comparando com o ano passado — avalia Panizzi. 

Previsão de tempo seco pode ser positiva

Porthus Junior / Agencia RBS

Daniel Toss colhe cerca de 15 toneladas de uvas de mesa por ano em Caxias do Sul.Porthus Junior / Agencia RBS

O produtor rural Daniel Toss, que cultiva 25 variedades de uva na propriedade familiar em São Luiz da 6ª Légua, em Caxias do Sul, tem boas perspectivas para a colheita, que deve se iniciar em dezembro, com as variedades mais precoces. 

— Esse ano foi muito bom pelas horas de frio. A gente teve cerca de 400 horas de frio, isso ajudou bastante a brotação, teve bastante fertilidade das gemas. Então, por enquanto, foi muito bom — comemora.

Na propriedade, colhe cerca de 15 toneladas de uvas de mesa por ano, que são vendidas diretamente ao consumidor final. 

— A gente não quer mais excesso de uva porque a gente preza mais pela qualidade. Então, se tiver um excesso de uva, a gente acaba retirando do parreiral antes de colher, para que as que permanecem fiquem com qualidade — explica.

Em ano de La Niña, períodos mais secos são positivos, de acordo com Toss. Na pré-floração, a umidade em excesso pode causar doenças na parreira.

— Quanto mais umidade, mais doença. Então, nesse período mais seco, que é a previsão agora da La Niña, é bom. Só vai ser ruim lá no engrossamento do grão. Quando começa a ganhar volume, a gente precisa de maior quantidade de água, mas como a gente tem um sistema de irrigação, é mais tranquilo. Até lá, depois, na maturação, é interessante que não chova muito, aí a uva fica mais doce — projeta Toss.

Safras de uva dos últimos 10 anos*

  • 2015: 752.838,855
  • 2016: 350.761,504
  • 2017: 801.743,227
  • 2018: 724.976,785
  • 2019: 681.803,192
  • 2020: 649.589,919
  • 2021: 951.957,21
  • 2022: 774.975,295
  • 2023: 764.265,91
  • 2024: 541.519,37
  • 2025: 750 mil
  • 2026: previsão de 800 mil

*valores em toneladas

Fonte: Sistema de Informações da Área de Vinhos e Bebidas - Ministério da Agricultura e Pecuária

Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH

Foto: Porthus Junior / Agencia RBS

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