Especialistas avaliam de forma positiva aprovação de Mounjaro para tratar apneia
Medicamento ajuda a reduzir peso; obesidade é fator de risco para desenvolver a condição
Visto como um passo importante para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir complicações, o uso de Mounjaro (tirzepatida) para tratar a apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade foi aprovado nesta segunda-feira (20) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O medicamento amplia as opções de tratamento disponíveis para quem convive com o distúrbio.
A apneia é caracterizada por obstruções parciais ou totais das vias aéreas durante o sono, que dificultam a passagem do ar e interrompem a respiração. Essas pausas podem causar roncos intensos e múltiplos despertares ao longo da noite, fragmentando o descanso. A condição está associada a um maior risco de complicações metabólicas, cardiovasculares e neurocognitivas.
O estudo clínico internacional SURMOUNT-OSA, publicado na New England Journal of Medicine, comprovou a eficácia do medicamento em adultos com obesidade e apneia obstrutiva do sono moderada a grave. A pesquisa mostrou que o tratamento reduziu as interrupções respiratórias durante o sono e promoveu perda de peso expressiva entre os participantes.
— É uma ferramenta a mais que temos com validação científica para poder proporcionar a esses pacientes. É uma doença que acontece com pacientes magros também, mas a grande maioria dos pacientes com essa condição é obesa. Muitos acabavam procurando a cirurgia bariátrica e agora têm outra alternativa. O tempo que vai nos dizer — avalia o presidente da regional Rio Grande do Sul da Associação Brasileira do Sono (ABS), Tiago Teixeira Simon.
Qual a relação com a obesidade?
A doença é multifatorial e pode ter diferentes fatores de risco, como envelhecimento, estrutura facial, histórico familiar e obesidade. Segundo especialistas, a apneia do sono é mais frequente em pessoas que estão acima do peso saudável. Rogério Friedman, endocrinologista do Hospital Moinhos de Vento, explica:
— A deposição de gordura na obesidade não é só aquilo que conseguimos ver, na barriga, na coxa ou no braço. Também há deposição de gordura em estruturas do pescoço, como a laringe, a traqueia e o esôfago, que fazem parte do aparelho respiratório. Tecidos moles dessas estruturas também ficam infiltrados de gordura, e isso faz com que, durante o sono, por exemplo, o indivíduo relaxe e projete a língua para trás, ocupando o espaço que seria para a circulação de ar.
A apneia obstrutiva do sono não tratada pode causar impactos imediatos e duradouros na saúde e na vida. A curto prazo, provoca sonolência diurna, cansaço excessivo, irritabilidade e aumenta o risco de acidentes. Com o tempo, pode contribuir para o descontrole do peso, o desenvolvimento de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, além de elevar as chances de infarto, arritmias e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
— Essa condição aumenta o trabalho cardíaco, aumenta o nível adrenérgico durante o sono. Isso faz com que o sujeito tenha tendência à pressão arterial aumentada e ao remodulamento do músculo cardíaco, com tendência à hipertrofia e aumento de cavidades. E ela retroalimenta a obesidade, porque aumenta o mecanismo de fome. Vira um ciclo vicioso — acrescenta Luiz Danzmann, coordenador do Núcleo de Insuficiência Cardíaca da Santa Casa de Porto Alegre.
Como a tirzepatida pode ajudar?
Atualmente, o tratamento da apneia obstrutiva do sono inclui dispositivos de tratamento, como a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), e inclui medidas que promovam mudanças no estilo de vida, como a perda de peso e a prática de atividades físicas. A tirzepatida entra para somar às outras opções, garante Simon:
— O benefício desse medicamento é indireto. Os pacientes que usam a tirzepatida — e outras substâncias, como a semaglutida, segundo alguns estudos menores — apresentam uma perda de peso importante e, com isso, uma redução de aproximadamente 50% do índice de apneia. Muitos pacientes que teriam a indicação do CPAP não precisam mais após o uso do Mounjaro.
Isso significa que a medicação não age diretamente sobre a musculatura das vias aéreas, onde ocorrem as obstruções durante o sono. O efeito positivo na apneia está relacionado à perda de peso promovida pela tirzepatida, que reduz a pressão sobre as estruturas respiratórias e melhora a passagem do ar durante o sono.
— Se pegarmos um indivíduo com o peso normal, o benefício de usar uma droga como a tirzepatida vai ser muito pequeno. Porque essa pessoa não vai perder peso de forma tão impactante quanto alguém que sofre com obesidade. Então é altamente discutível propor esse medicamento para quem não está obeso, porque não tem recomendação. Não é para tratar qualquer pessoa com apneia, porque alguns têm essa condição por outros motivos que não sejam a obesidade — pondera Friedman.
Os especialistas defendem que, antes de iniciar o tratamento, é importante fazer uma avaliação e ouvir as opiniões de diferentes médicos, para entender se a medicação é recomendada.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Ole / stock.adobe.com
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