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37 graus é febre? Quando dar antitérmico para a criança?

  • Data: 24/Out/2025

Material alerta para a importância de ler o sintoma como um sinal e evitar a “febrefobia” gerada pela ansiedade das famílias

febre em crianças costuma ser um pavor para as famílias, que, quando veem os números no termômetro subirem, muitas vezes correm para dar medicação ou buscar atendimento médico. Em documento publicado em este ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz um alerta de que a febre, por si só, não é uma doença, mas um sinal de que o organismo está reagindo a alguma infecção.

— A febre é uma defesa do corpo. Quando o organismo aumenta a temperatura, está se organizando para combater infecções. Por isso, o mais importante não é o número que aparece no termômetro, mas o estado geral da criança: se ela está ativa, brincando, se alimentando e hidratada, o valor exato da temperatura tem pouca importância — explica José Paulo Ferreira, presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS).

O texto da SBP reuniu e atualizou informações sobre o manejo da febre na infância, alinhando o Brasil a recomendações internacionais. Apesar da orientação de que febre não deve ser o sintoma mais considerado, a principal mudança percebida pelo público no material foi a definição do ponto de corte da temperatura axilar: passou a ser de 37,5°C; antes o valor mais citado era 37,8°C.

Para os especialistas, porém, essa diferença é apenas técnica. O foco deve ser o contexto clínico.

— Não é que tenha havido uma mudança de critério. O documento apenas adota o mesmo padrão que outras sociedades já utilizavam. O risco é interpretar isso de forma isolada e aumentar a ansiedade das famílias — observa Raíssa Rezende, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e pediatra intensivista da UTI Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio.

A médica destaca que a temperatura pode variar ao longo do dia e ser influenciada pelo ambiente.

— Mais importante do que o número é observar o comportamento da criança. Se está disposta, comendo bem e interagindo, não há motivo para preocupação imediata — recomenda a docente da UFCSPA.

Quando procurar atendimento

Os pediatras são unânimes ao indicar que o principal grupo de atenção é o de bebês com menos de três meses.

— Em qualquer situação de febre nessa faixa etária, a criança deve ser avaliada por um médico. É uma recomendação presente em todos os protocolos e diretrizes — afirma Marcelo Scotta, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Segundo Scotta, recém-nascidos têm maior risco de infecções graves e não conseguem demonstrar claramente sintomas de desconforto. Nesses casos, o atendimento deve ser imediato.

Nas demais idades, o alerta vem do estado geral da criança. Se ela está alerta, brincando, aceita líquidos e se alimenta, a orientação é observar. Mas, se o quadro incluir prostração, dificuldade para acordar, irritabilidade intensa, recusa de líquidos ou febre persistente por mais de três dias, é necessário buscar avaliação médica.

— A altura da febre não determina gravidade. Crianças podem ter 39°C e estar bem, enquanto outras com 37,6ºC podem estar abatidas e precisar de avaliação — reforça o presidente da SPRS.

Combate à febre na medida

O consenso entre os pediatras é de que a febre não precisa ser tratada sempre que aparece. O uso de antitérmicos – como paracetamol, dipirona ou ibuprofeno – deve ser orientado pelo desconforto da criança, e não apenas pelo número indicado no termômetro.

— A recomendação é tratar o mal-estar, não o número. Se a criança está bem, não há necessidade de medicar apenas porque o termômetro marcou 38°C — destaca Raíssa.

O documento da SBP reforça essa orientação e acrescenta que o uso alternado de medicamentos não é indicado. Intercalar diferentes antitérmicos para fazer a febre baixar, prática comum em alguns lares, aumenta o risco de erro de dosagem e intoxicação e não acelera a redução da temperatura.

— Essa ideia de que se alternar remédios a febre vai baixar mais rápido é incorreta. Todos os antitérmicos agem da mesma forma. Além disso, alternar medicações aumenta o risco de superdosagem. O ideal é escolher um medicamento, conforme orientação médica, e usá-lo corretamente — sinaliza a pediatra.

Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Danilo Blank chama atenção para a persistência dessa prática até entre profissionais:

— Mesmo em 2025, ainda se vê médicos prescrevendo alternância de dipirona e paracetamol. Isso não tem embasamento científico.

Conforme Blank, a “febrefobia”, como é chamado o medo exagerado da febre, é um fenômeno antigo e cultural.

— A febre é uma resposta natural do sistema imunológico. Quanto menos interferirmos, melhor o organismo atua — orienta o professor da UFRGS.

O que observar

Além da temperatura, os pais devem prestar atenção no comportamento da criança, na hidratação e na duração da febre. Os sinais de alerta incluem:

  • Prostração ou sonolência excessiva
  • Recusa em mamar ou ingerir líquidos
  • Respiração acelerada
  • Manchas na pele
  • Febre que dura mais de três dias
  • Choro inconsolável ou gemência

Em casos assim, é recomendada avaliação médica.

Por outro lado, é comum que crianças em idade pré-escolar tenham episódios de febre ao longo do ano, geralmente causados por infecções virais leves.

— Uma criança pequena pode ter 10 ou mais episódios de febre por ano, a maioria autolimitada. O papel dos pais é observar e oferecer conforto, sem pânico — explica Blank.

Métodos não medicamentosos

O documento da SBP lembra que métodos físicos, como banhos frios ou compressas, não são recomendados para baixar a febre, a menos que se trate de hipertermia (quando o corpo aquece por causas externas, como excesso de roupas ou calor ambiental). As medidas mais indicadas são:

  • Manter a criança com roupas leves
  • Oferecer líquidos com frequência
  • Manter ambiente ventilado
  • Evitar cobertores em excesso

Convulsões febris

Um dos maiores medos dos pais é a convulsão febril, mas os especialistas destacam que ela ocorre apenas em crianças com predisposição genética, geralmente entre seis meses e cinco anos de idade.

— Essas crises não são prevenidas com o uso precoce de antitérmicos e, na maioria dos casos, não deixam sequelas — diz Scotta.

O documento da SBP revisa estudos que confirmam que antitérmicos não previnem convulsões febris e não devem ser usados de forma “profilática”. O mesmo vale para o uso preventivo de antitérmicos antes de vacinas, que pode reduzir a resposta imunológica em algumas situações.

Orientações principais

As indicações dos pediatras e do documento da SBP se resumem a alguns pontos práticos:

  • Febre não é doença, é sinal. Indica que o corpo está reagindo
  • Não se trata o número, mas o desconforto
  • Bebês com menos de três meses com febre devem ser avaliados por um médico
  • Observar o estado geral. Criança ativa, hidratada e brincando raramente está em situação grave
  • Evitar alternar antitérmicos. Escolher um e seguir a dose orientada
  • Manter hidratação e ambiente confortável
  • Procurar atendimento se a febre durar mais de três dias ou se a criança estiver abatida

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: Suzi Media / stock.adobe.com

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