Hipertricose: o que é a doença apelidada de "síndrome do lobisomem"
Quadro caracterizado pela manifestação excessiva e anormal de pelos pode ser provocado por contato com remédio para calvície
Uma descoberta médica tem chamado atenção na Europa nas últimas semanas. Onze bebês apresentaram crescimento excessivo e inusitado de pelos em diferentes partes do corpo, condição conhecida popularmente como "síndrome do lobisomem".
A doença, chamada de hipertricose, foi registrada em lactentes (bebês que estão sendo amamentados) que tiveram contato indireto com minoxidil, medicamento que estava sendo utilizado pelos pais para tratar calvície, segundo o jornal O Globo.
Inicialmente, o minoxidil era utilizado para o tratamento de hipertensão. Com o tempo, o princípio ativo passou a ser recomendado, em pequenas doses, para tratar diferentes tipos de alopecia, condição que causa queda de cabelo em homens e mulheres.
O Centro de Farmacovigilância de Navarra, na Espanha, identificou o primeiro dos casos recentes de hipertricose em bebês após um lactente desenvolver pelos nas costas, pernas e coxas ao longo de dois meses. A investigação apontou que o contato indireto prolongado com o pai, que usava a loção, estava relacionado ao quadro.
Após a confirmação da causa da doença, a Agência Europeia de Medicamentos decidiu alterar a bula de medicamentos que contenham minoxidil para incluir a hipertricose como possível efeito adverso, segundo a Veja Saúde.
O que é hipertricose?
O crescimento desordenado e excessivo de pelos em parte incomuns, como no centro do rosto e nas bochechas, é conhecido como hipertricose. Existem casos raros em que a doença é genética e se manifesta de forma congênita – ou seja, os pacientes nascem já apresentando sintomas. Para esses pacientes, não existe cura.
Cíntia Pessin, diretora científica da seção gaúcha da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que os registros europeus estão relacionados à hipertricose adquirida, muito mais frequente. Nessa manifestação da doença, as causas podem estar relacionadas ao uso de medicamentos específicos, como minoxidil e alguns corticoides, ou até outras doenças, entre elas linfoma, câncer de pulmão ou de mama.
— Na maioria dos casos, a interrupção de uso da medicação já é suficiente para a diminuição do excesso de pelos — tranquiliza a dermatologista. — Caso o quadro persista, o uso de depilação a laser pode ser considerado em alguns casos, dependendo da coloração e da espessura do pelo.
Já foram registrados bebês que contraíram hipertricose a partir da mãe, que usou minoxidil durante a gravidez. Por esse e outros possíveis efeitos colaterais, não se recomenda o uso do medicamento por gestantes ou por quem está amamentando.
Possíveis complicações
Nos casos mais graves, a doença pode ter repercussões cardíacas, hepáticas ou renais, a depender da dose de minoxidil que o paciente teve contato. Kenselyn Oppermann, dermatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Feevale, pontua que esse tipo de consequência é rara.
— Os efeitos cardiovasculares e renais podem ser vistos em pacientes que já têm comorbidades, pois o minoxidil pode causar edema neles, também dose dependente — conclui Kenselyn.
A hipertricose não deve ser confundida com o hirsutismo. Esse é o aumento de pelos em locais com influência hormonal, como tórax, peito, rosto (barba) e virilha, tanto em homens quanto em mulheres. Costuma ser um dos sintomas de algumas síndromes hormonais, como os ovários policísticos.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Eggy / stock.adobe.com
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